Pneumonia silenciosa: infecção discreta eleva internações
Especialistas destacam que o quadro clínico da pneumonia silenciosa pode ser confundido com infecções respiratórias comuns
Uma forma pouco evidente de pneumonia tem preocupado médicos e autoridades de saúde. Conhecida como “pneumonia silenciosa” ou atípica, a infecção evolui com sintomas discretos, dificultando o diagnóstico precoce e aumentando o risco de complicações, especialmente entre crianças.
Além disso, especialistas destacam que o quadro clínico da pneumonia silenciosa pode ser facilmente confundido com infecções respiratórias comuns, como resfriados ou bronquites, o que contribui para o atraso no diagnóstico e tratamento.
Diferente da pneumonia clássica, marcada por febre alta e tosse intensa, a variante silenciosa se manifesta de maneira sutil. Os sinais costumam surgir apenas em estágios avançados, elevando as chances de hospitalização.
Entre os principais sintomas estão cansaço excessivo, dificuldade para se alimentar, chiado no peito e febre baixa. A atenção dos pais e responsáveis a esses indícios é fundamental para evitar agravamentos. Microrganismos como Mycoplasma sp., Chlamydophila sp. e alguns vírus respiratórios, incluindo o causador da Covid-19, estão entre os agentes mais comuns da doença.
Apesar de não ser de notificação obrigatória no Brasil, a pneumonia segue como um desafio para o sistema público de saúde. A ausência de dados específicos sobre casos atípicos impede uma visão clara sobre sua dimensão real.
Dados do DataSUS mostram um aumento expressivo: em 2024, foram registradas 701 mil internações por pneumonia, 5% a mais que no ano anterior. As mortes também subiram: 73.813 óbitos, contra 65.846 em 2023, um crescimento de 12%.
São Paulo apresentou índices superiores à média nacional, com alta tanto nas internações quanto nas mortes. Municípios paulistas registraram ainda mais casos de pneumonias sem febre, reforçando o alerta para formas atípicas da infecção. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, as internações subiram 6,7% e as mortes quase 13%, saltando de 23.084 para 25.983 entre 2023 e 2024.
O atual surto está relacionado principalmente à circulação de Mycoplasma sp. e Chlamydophila sp. Antes da pandemia, essas bactérias apareciam com intervalos regulares, de dois a três anos. Esse padrão, no entanto, parece ter se alterado.
Durante a pandemia, o isolamento reduziu drasticamente as infecções respiratórias infantis. Com menos exposição, as crianças não desenvolveram imunidade natural contra esses agentes.
Com o retorno às aulas e à convivência social, a vulnerabilidade aumentou. O contato com ambientes cheios de microrganismos, para os quais não tinham resistência, elevou o número de infecções.
Além das crianças, pessoas imunossuprimidas, como pacientes oncológicos ou transplantados, também constituem um grupo de risco elevado para as formas mais graves da pneumonia silenciosa.
Estudos recentes também sugerem que fatores ambientais, como poluição atmosférica e exposição a aglomerações em ambientes fechados, podem favorecer a disseminação desses microrganismos, aumentando a incidência de pneumonias atípicas.
Especialistas preveem que esse cenário persista até que a imunidade coletiva seja retomada. Enquanto isso, surtos de pneumonias atípicas devem se repetir com frequência, sobretudo nos meses frios.
Diagnóstico e tratamento da pneumonia silenciosa
O diagnóstico da pneumonia silenciosa segue procedimentos semelhantes aos adotados para a forma típica da doença. A avaliação clínica inclui anamnese detalhada, ausculta pulmonar e, na maioria dos casos, radiografia de tórax. Em situações específicas, pode ser solicitada a análise de secreções respiratórias, por meio de exames como o de proteína C-reativa (PCR). Exames laboratoriais, como hemograma e teste de PCR para vírus, também ajudam a identificar o agente causador da infecção. Embora esse teste identifique diversos agentes virais e bacterianos, o resultado raramente altera a conduta terapêutica, sendo, por isso, pouco utilizado na prática.
O tratamento é definido com base na história clínica do paciente, podendo envolver diferentes classes de medicamentos. Para as pneumonias típicas, os antibióticos de primeira linha, como a penicilina, costumam ser suficientes. No entanto, essa abordagem não é eficaz contra microrganismos como Mycoplasma sp., frequentemente associados aos casos atípicos ou silenciosos.
A busca tardia por atendimento médico representa um risco elevado de complicações graves. Entre os desfechos possíveis estão insuficiência renal, pulmonar ou cardíaca, acidente vascular cerebral, necessidade de ventilação mecânica, sepse, diálise e até encefalite.
Como se proteger da pneumonia silenciosa
A transmissão da pneumonia silenciosa ocorre principalmente pelo contato direto com secreções contaminadas. Por isso, especialistas recomendam medidas preventivas semelhantes às adotadas durante a pandemia de Covid-19: usar máscara em locais muito movimentados, especialmente hospitais e clínicas, higienizar as mãos com água e sabão, utilizar álcool em gel e evitar contato com pessoas que apresentem sintomas gripais.
Embora a vacina pneumocócica ofereça proteção apenas contra a pneumonia típica, causada pelo Streptococcus pneumoniae, profissionais de saúde reforçam a importância da imunização para grupos vulneráveis, como crianças, idosos e portadores de doenças crônicas. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza gratuitamente essa vacina durante campanhas anuais.
Diante de qualquer suspeita de sintomas, especialistas orientam buscar imediatamente atendimento em serviços de pronto-atendimento. Apesar das alterações na sazonalidade das infecções e dos riscos associados à pneumonia silenciosa, médicos destacam que a doença é conhecida e pode ser controlada com diagnóstico e tratamento adequados.