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Análise

20 anos do Mensalão: PT perdeu apoio e virou símbolo da corrupção, diz analista

Lehninger Mota avalia que crise política inaugurada em 2005 destruiu o prestígio simbólico do PT, manchou lideranças históricas e reconfigurou completamente o mapa eleitoral do partido, que passou a depender do voto popular de baixa renda

Bruno Goulartpor Bruno Goulart em 6 de junho de 2025
20 anos do Mensalão: PT perdeu apoio e virou símbolo da corrupção, diz analista
Lula e José Dirceu. Foto: José Cruz / Agência Brasil

Bruno Goulart

Passadas duas décadas do escândalo que abalou a política brasileira, o chamado “mensalão” segue como divisor de águas na trajetória do Partido dos Trabalhadores (PT). Para o cientista político Lehninger Mota, ouvido pelo O HOJE, os efeitos do episódio de 2005 não foram apenas institucionais ou jurídicos, mas marcaram profundamente a imagem pública do partido, redesenharam sua base de apoio e ainda hoje impactam sua identidade política.

“Politicamente foram dois os fatores que implicaram muito forte no PT, na verdade até três”, afirma Mota. O primeiro, segundo ele, foi o desgaste pessoal das principais figuras do partido envolvidas no escândalo. “É um dos grandes nomes do PT, que construíram o partido e eram as lideranças, que saíram manchados desse escândalo de corrupção.”

O segundo ponto foi a forma como os adversários exploraram o episódio. “Houve um movimento por parte dos adversários e da direita e centro-direita da época de colocar a corrupção do Brasil na conta do PT. Como se a corrupção fosse inerente a um partido só. E isso, de certo modo, pegou muito forte.”

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Para Mota, essa narrativa ganhou força porque encontrou eco em parte do eleitorado que, até então, era base tradicional do partido. “Quem eram os eleitores do PT em 2002? Pessoas de cidades grandes e médias, escolaridade média e alta, segmentos como sindicatos. Foi essa a base que apoiou o PT. Quando você pega o mapa eleitoral de 2006, após o escândalo do mensalão, esse mapa mudou muito.”

Classe média se afasta do PT

O cientista aponta que a classe média mais escolarizada, especialmente aquela com renda entre três e cinco salários mínimos ou mais, se afastou do partido. “Abandona o PT porque vê nessa corrupção um igualamento. Igualou o PT aos outros partidos que já tinham escândalos e, de certa forma, até superou, porque naquele momento foi feito um grande trabalho para que o PT fosse o símbolo da corrupção.”

A consequência foi uma migração de apoio que redefiniu o perfil do eleitor petista. “Com os programas sociais criados durante o primeiro governo, especialmente o Bolsa Família, as pessoas de baixa renda votaram em massa no PT. Pessoas que ganham até dois salários mínimos, escolaridade baixa, de pequenas cidades, mais afastadas dos grandes centros, especialmente no Nordeste.”

Reconfiguração da base eleitoral

Segundo Mota, essa reconfiguração foi decisiva para a permanência do partido no poder. “Se o PT perdesse o que tinha e não arrumasse esse outro público, com certeza não ganharia a eleição nem em 2006 e nos outros anos. Então essa foi a grande implicação política.”

Além do desgaste de lideranças e da mudança no eleitorado, o cientista político afirma que o escândalo criou um estigma duradouro. “Pessoas ainda acreditam que a corrupção é inerente ao PT. Que o PT é o partido que promove a corrupção. Isso ficou muito forte na memória coletiva.”

Entre os setores que se afastaram do partido após o mensalão, Mota cita intelectuais, católicos progressistas e até pessoas que participaram da fundação do PT. “Muita gente ligada à igreja, às universidades, rompeu com o partido naquele momento. E não voltou mais.”

Por outro lado, o apoio popular sustentado por políticas sociais continua a garantir base eleitoral ao partido. “Hoje, o PT se mantém no poder com essa massa expressiva que é a base da pirâmide do Brasil. Pessoas que ganham até dois salários mínimos, que votam no PT por acharem que os programas sociais e a melhora econômica estão ligados a ele.”

Para Lehninger Mota, o mensalão é um marco que expôs as contradições do sistema político e redefiniu o papel do PT na política nacional.  O partido deixou de ser o bastião ético da esquerda e passou a ser identificado, para muitos, como símbolo daquilo que prometia combater.

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