Estudo liga glicose alta no sangue ao risco de demência em idosos
Pesquisa publicada no New England Journal of Medicine mostra que elevação dos níveis de açúcar, mesmo sem diabetes, está associada ao declínio cognitivo

Altas taxas de glicose no sangue, mesmo na ausência de diabetes, estão associadas ao aumento do risco de demência em idosos. É o que aponta um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Washington em parceria com a Universidade Harvard, publicado na revista científica The New England Journal of Medicine. A investigação utilizou dados do programa Adult Changes in Thought (ACT), nos Estados Unidos, e acompanhou 2.067 pessoas com 65 anos ou mais durante um período médio de 6,8 anos.
A pesquisa analisou dados de glicemia de jejum e hemoglobina glicada de participantes sem diagnóstico prévio de demência. A média dos níveis de glicose nos cinco anos anteriores à avaliação foi de 101 mg/dL entre os não diabéticos e 175 mg/dL entre os diabéticos. Durante o acompanhamento, 524 pessoas desenvolveram algum tipo de demência, o que corresponde a 25,4% da amostra.
Entre os participantes sem diabetes, aqueles com níveis de glicose de 115 mg/dL apresentaram uma incidência 18% maior de demência em comparação com os que tinham glicemia de 100 mg/dL. Já entre os diabéticos, o aumento da glicemia de 160 mg/dL para 190 mg/dL foi relacionado a um crescimento de 40% no risco de desenvolver o quadro.
O estudo controlou variáveis como prática de atividade física, tabagismo, doenças cardiovasculares, hipertensão, nível educacional e histórico de doenças cerebrovasculares. Os testes cognitivos eram aplicados a cada dois anos, e eventuais alterações eram seguidas por exames clínicos e neuropsicológicos para confirmação diagnóstica de Alzheimer ou outras demências.
Os resultados reforçam a hipótese de que a hiperglicemia pode causar impactos diretos no cérebro em processo de envelhecimento, mesmo em pessoas que não apresentam diabetes. Para os pesquisadores, o acúmulo de glicose em níveis elevados estaria relacionado a efeitos neurotóxicos que comprometem o funcionamento cognitivo ao longo do tempo.
Diante do envelhecimento populacional e do crescimento global dos casos de obesidade e diabetes, a associação entre alimentação, metabolismo e saúde cerebral se torna uma preocupação crescente em saúde pública. A pesquisa contribui para a compreensão dos fatores modificáveis que podem influenciar o risco de demência nas próximas décadas.