Apenas 1,8% das crianças brasileiras atingem o topo da renda, mostra estudo
Atlas da Mobilidade Social aponta que maioria permanece na base da pirâmide; mulheres, negros e moradores do Norte e Nordeste são os mais afetados

A probabilidade de uma criança brasileira alcançar os 10% mais ricos da população ao chegar à vida adulta é de apenas 1,8%. O dado consta no Atlas da Mobilidade Social Brasileira, elaborado pelo Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), com base em informações de 1983 a 2019 provenientes de bases como IBGE, Receita Federal e CadÚnico.
Entre os poucos que conseguem romper o ciclo da pobreza, predominam homens (2,6%), brancos (2,6%) e filhos de pais com ensino médio completo ou superior incompleto (2,4%). O recorte reforça que fatores como gênero, raça e escolaridade familiar continuam a influenciar o acesso à renda no país.
Na outra ponta da pirâmide, cerca de 66,6% das pessoas permanecem entre os 50% mais pobres da população ao longo da vida. Esse grupo é formado, em sua maioria, por mulheres (82,7%), pessoas não brancas (71,8%) e filhos de pais com baixa escolaridade — 66,3% deles têm pais que não concluíram o ensino fundamental ou não têm instrução.
As desigualdades regionais também acentuam o cenário. Norte e Nordeste concentram os maiores percentuais de pessoas com alta probabilidade de permanecer na base da distribuição de renda. O Acre lidera com 82%, seguido por Pará (81,8%) e Amazonas (80,2%). Na região Norte, 79,5% das pessoas pretas e não brancas seguem entre os mais pobres, proporção semelhante à do Nordeste, com 77,8%.
Já o Centro-Oeste apresenta as maiores chances de mobilidade para os estratos superiores. Segundo o IMDS, o Brasil está entre os países com menor mobilidade social intergeracional do mundo. O instituto aponta que a combinação entre desigualdade persistente e baixa escolaridade familiar mantém os ciclos de pobreza entre gerações.