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Saúde bucal

O perigo por trás do beijo apaixonado

Feridas na boca e má higiene podem abrir caminho para vírus, bactérias e fungos

Luana Avelarpor Luana Avelar em 10 de junho de 2025

O que um beijo pode transmitir além de carinho? No mês dos namorados, o gesto ganha destaque como símbolo de afeto e paixão. No entanto, especialistas em saúde bucal reforçam um alerta importante: a saliva, veículo importante para funções do organismo, também pode ser meio de transmissão de vírus, bactérias e fungos. A troca de beijos, principalmente os mais profundos, pode representar risco quando não se observam os cuidados adequados.

A principal via de contaminação é a troca direta de saliva entre as pessoas. Essa transferência de microrganismos pode ocorrer com maior facilidade em casos de feridas na boca, inflamações na gengiva, aftas ou outras lesões ativas. Vírus como o Epstein-Barr, responsável pela mononucleose — conhecida como “doença do beijo” —, o herpes simples (HSV-1), o citomegalovírus (CMV) e até o coronavírus são alguns exemplos de agentes infecciosos que podem ser transmitidos nesse tipo de contato.

O cirurgião-dentista Alan Roger dos Santos Silva, especialista em Estomatologia, Patologia Oral e Odontologia Hospitalar, explica que o beijo é, sim, uma via reconhecida de transmissão de doenças, mas os riscos variam de pessoa para pessoa. “A progressão clínica depende de uma interação multifatorial, envolvendo condições locais e sistêmicas do indivíduo exposto, como integridade da mucosa, carga viral ou bacteriana, tempo de exposição e condição imunológica do indivíduo. Desta maneira, embora o beijo represente uma via potencial de transmissão, o risco real está condicionado a diversos fatores biológicos e comportamentais”.

Além das viroses, o beijo também pode facilitar a contaminação por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), principalmente quando há lesões orais. Sífilis, gonorreia orofaríngea e o papilomavírus humano (HPV) são alguns exemplos. Embora o sexo oral seja o principal fator de transmissão dessas doenças na boca, o beijo profundo também pode representar risco em determinadas situações.

A cárie, por sua vez, não é considerada uma doença contagiosa, mas envolve bactérias que podem ser transmitidas de uma pessoa para outra pela saliva. Os microrganismos mais associados ao problema são os Streptococcus mutans e os Lactobacillus. No entanto, para que a doença se desenvolva, é necessário que o ambiente bucal favoreça sua ação.

“É importante esclarecer que a simples transmissão bacteriana não é suficiente para o desenvolvimento da doença cárie. É necessário que o ambiente bucal da pessoa exposta favoreça a atividade desses microrganismos, ou seja, que haja consumo frequente de açúcares, má higiene oral e ausência de fatores protetores, como o uso regular de creme dental fluoretado”, afirma Alan Roger.

O cirurgião-dentista Keller de Martini, especialista em Odontologia Hospitalar e membro do Grupo de Trabalho de Assistência Odontológica do Conselho Federal de Odontologia (CFO), destaca que é preciso abandonar a ideia de que a saliva é vilã.

“A saliva possui funções protetoras, digestivas e diagnósticas e pode inclusive ser usada para detectar várias doenças por métodos não invasivos. No entanto, também é um veículo relevante na transmissão de patógenos. O importante é que as pessoas saibam de tudo isso e conheçam os riscos associados a ela. Informação é uma ferramenta poderosa quando o assunto é prevenção”.

Diante dos riscos, a recomendação dos especialistas é reforçar os cuidados com a saúde bucal e adotar medidas preventivas. Entre elas estão evitar beijos em pessoas com feridas na boca, manter boa higiene oral, não compartilhar escovas de dente, talheres ou copos, além de seguir o esquema vacinal recomendado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O acompanhamento odontológico regular também é fundamental para detectar alterações precocemente.

“O Dia dos Namorados é uma data que nos remete a bons sentimentos e afetividade, mas queremos reforçar que os cuidados com a saúde bucal também são um importante gesto de amor. Por isso, deixamos essa mensagem aos cidadãos de todo país: mantenham uma rotina de consultas regulares aos cirurgiões-dentistas e, ao menor sinal de anormalidade na boca, procure atendimento odontológico de forma imediata. O diagnóstico precoce é fundamental para proteção da sua saúde, assim como a do seu companheiro ou companheira”, reforça Nazareno Ávila, vice-presidente do CFO.

O dentista é o profissional indicado para atuar tanto na orientação sobre hábitos de prevenção quanto na identificação e no tratamento de doenças da cavidade oral. “Cirurgiões-dentistas especialistas em Estomatologia são a primeira linha de profissionais para o diagnóstico e tratamento de doenças da boca no contexto das ISTs e de outros quadros causados por vírus, bactérias e fungos. Ele também pode atuar com equipes multidisciplinares, de acordo com a necessidade de cada caso, sendo que, muitas vezes, o atendimento especializado é fundamental para que a doença não evolua de forma negativa e que consigamos dar aos pacientes boas condições de recuperação”, complementa Alan Roger.

Com a proximidade do 12 de junho, a mensagem que os profissionais de saúde bucal reforçam é simples: beijar continua sendo um gesto de amor e intimidade, mas também exige responsabilidade. A melhor forma de cuidar de quem se ama é estar atento à própria saúde. E isso começa pela boca.

 

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