Como o aumento do IOF para 3,5% pode impactar o varejo e os consumidores
Na tentativa de estabilizar as finanças públicas, o Governo Federal anunciou, em 22 de maio de 2025, uma série de alterações no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), incluindo o aumento da alíquota para 3,5% em operações de câmbio realizadas por pessoas físicas e a elevação do IOF sobre crédito contratado por empresas. A medida integra […]

Na tentativa de estabilizar as finanças públicas, o Governo Federal anunciou, em 22 de maio de 2025, uma série de alterações no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), incluindo o aumento da alíquota para 3,5% em operações de câmbio realizadas por pessoas físicas e a elevação do IOF sobre crédito contratado por empresas. A medida integra um esforço mais amplo para ampliar a arrecadação em um cenário de desafios fiscais e metas de responsabilidade orçamentária.
A decisão gerou reações imediatas no mercado, afetando diretamente operações de crédito para empresas, compras internacionais e o mercado de câmbio. O impacto foi sentido nas expectativas dos investidores, especialmente sobre empresas que atuam no varejo e que dependem do crédito para sustentar o volume de vendas.
Desse modo, o setor de investimentos também passou a se movimentar diante do novo contexto. Ações de grandes varejistas, como Magazine Luiza (MGLU3) e Casas Bahia (BHIA3), e ativos ligados ao consumo interno refletiram as mudanças, enquanto empresas dos setores de bens duráveis e turismo também entraram no radar diante da perspectiva de um crédito mais restrito.
Por que a alíquota do IOF foi elevada?
A elevação de 1,1% para 3,5% em determinadas operações evidencia a urgência do Governo Federal em incrementar a arrecadação em meio a desafios fiscais e comprometimento com a estabilidade das contas públicas. A medida faz parte de um conjunto de ações que visam conter o crescimento do déficit orçamentário, diante da pressão sobre os gastos públicos e das metas estabelecidas para controlar o endividamento.
A elevação do IOF também pode ser vista como uma estratégia indireta para desestimular o uso excessivo do crédito e das operações financeiras consideradas mais arriscadas ou de maior impacto no mercado. Ao aumentar o custo dessas transações, o governo busca reduzir a dependência do crédito fácil e controlar a expansão do endividamento, preservando a estabilidade econômica no médio prazo.
Impactos diretos no consumo e no crédito
A nova alíquota do IOF de 3,5% aplica-se às operações de câmbio realizadas por pessoas físicas, como compras internacionais com cartão e aquisição de moeda estrangeira. Já no crédito, as mudanças atingem diretamente as empresas, com aumento das alíquotas em operações como capital de giro e antecipação de recebíveis.
Com o encarecimento do crédito para empresas e o aumento do IOF em operações cambiais, o ambiente financeiro tende a influenciar o comportamento do consumidor. Em um país onde o parcelamento é amplamente utilizado para aquisição de bens duráveis, o maior custo do crédito empresarial pode pressionar preços e afetar o consumo.
Varejo nacional em alerta
No varejo doméstico, os impactos dessas mudanças já estão começando a aparecer. Empresas que operam com margens apertadas e que dependem de vendas parceladas tendem a enfrentar desafios para manter a atratividade ao consumidor. Com o crédito mais caro, empresas podem ter que reduzir prazos, limitar promoções ou repassar parte dos custos aos preços finais. Fatores que comprometem a atratividade das vendas, especialmente em setores onde o parcelamento é decisivo para o consumo.
O encarecimento das linhas de crédito também pode impactar diretamente o capital de giro das empresas, comprometendo a capacidade de investimento e a operação cotidiana. Diante desse cenário, espera-se que as companhias do setor adotem medidas para preservar a liquidez e a saúde financeira, buscando alternativas para manter a competitividade sem sacrificar a excelência no serviço e a diversidade de produtos disponibilizados ao cliente.
Comércio internacional e turismo: efeito colateral
Outro setor impactado é o das compras internacionais, principalmente aquelas feitas com cartão de crédito. A nova alíquota do IOF eleva significativamente o custo dessas transações, desestimulando o consumo de produtos e serviços fora do país, e beneficiando, indiretamente, o varejo local, que passa a se tornar mais competitivo frente às plataformas estrangeiras.
O turismo também sente o reflexo: para quem viaja ao exterior, a incidência mais alta sobre gastos com cartão encarece a experiência — desde a compra de passagens até hospedagens e alimentação. Essa alta pode reorientar o comportamento do consumidor, com maior valorização do mercado interno e dos destinos nacionais.
Varejo na Bolsa: pressão e oportunidades
O segmento de varejo listado na bolsa está passando por ajustes, com efeitos do consumo e das condições de crédito exigindo uma adaptação contínua. O aumento do IOF acrescenta um novo elemento a esse contexto, especialmente para empresas que têm maior exposição ao crédito e ao comportamento dos compradores.
Contudo, o momento também proporciona oportunidades: empresas com sólida estrutura financeira e focadas em inovação digital podem se sobressair, aproveitando a oportunidade de se fortalecer frente às transformações. Para investidores, é importante observar não apenas os efeitos imediatos, mas também como cada empresa ajusta suas estratégias para navegar neste ambiente em transformação.
Expectativas para os próximos meses
Apesar da oposição do setor produtivo e dos consumidores ao aumento do IOF, o governo mantém a retórica de responsabilidade fiscal. Nos próximos meses, a efetividade da medida será testada, mas prevê-se que, embora a arrecadação deva aumentar, a atividade econômica pode diminuir.
A evolução dos dados de consumo, de inadimplência e de crédito será determinante para avaliar os reais efeitos da nova alíquota. O comportamento do consumidor, especialmente diante de eventual encarecimento de produtos parcelados ou redução da oferta de crédito pelas empresas, poderá influenciar o desempenho do varejo e a capacidade das empresas de ajustar suas operações ao novo cenário tributário-financeiro.
PI 35091 B