O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

segunda-feira, 7 de julho de 2025
Desastre

Desabamento de lixão em Padre Bernardo causa desastre ambiental em Goiás

Exames laboratoriais revelaram alta concentração de sólidos dissolvidos e metais pesados, como chumbo e mercúrio

Anna Salgadopor Anna Salgado em 23 de junho de 2025
Desabamento de lixão em Padre Bernardo causa desastre ambiental em Goiás
Foto 1: Felipe Mateus/Semad

O Governo de Goiás e órgãos ambientais estão mobilizados após o desabamento de parte do lixão de Padre Bernardo, município goiano no Entorno do Distrito Federal. O acidente, ocorrido em 18 de junho de 2025, liberou uma massa de lixo e chorume que atingiu córregos e o Rio do Sal, manancial utilizado por comunidades rurais para consumo, agricultura e pesca. O caso foi classificado como grave desastre ambiental pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

A área atingida abriga o aterro da empresa Ouro Verde Ambiental, que, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), apresentava indícios de operação irregular, com presença de resíduos hospitalares, lixo domiciliar e industriais não tratados. Equipes técnicas da Semad, ICMBio e Defesa Civil foram enviadas ao local e constataram o impacto direto sobre a fauna, flora e recursos hídricos da região.

Leia mais: Golpes financeiros mais comuns exigem atenção redobrada dos usuários

Água imprópria para consumo

Análises laboratoriais realizadas pela Semad detectaram níveis de Sólidos Totais Dissolvidos (STD) de até 1.580 mg/L, quase três vezes acima do limite permitido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que é de 500 mg/L. Foram encontrados também metais pesados como chumbo e mercúrio, indicando contaminação severa e risco à saúde humana.

Diante disso, o governo estadual proibiu qualquer uso da água do Rio do Sal e seus afluentes, incluindo atividades de consumo humano, irrigação, pesca, banho e lazer. A medida é válida por tempo indeterminado e atinge diversas propriedades no entorno da bacia hídrica. Moradores foram alertados por agentes da força-tarefa formada por Semad, ICMBio, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Vigilância Sanitária e Prefeitura de Padre Bernardo.

Paralelamente, a Semad notificou a empresa responsável pelo aterro para apresentar, em até dois dias, um plano emergencial de recolhimento de resíduos e ações imediatas para contenção e mitigação dos danos. Caso o prazo não seja cumprido, o governo pode aplicar multas, embargar a área e até cancelar a licença ambiental.

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) também acompanha o caso e pode abrir inquérito civil para apurar possíveis crimes ambientais, inclusive responsabilização por omissão no manejo de resíduos perigosos e contaminação de recursos hídricos. O lixão estava em funcionamento com licença, mas denúncias anteriores já apontavam fragilidades na operação e falta de fiscalização contínua.

Impacto social e ambiental

O desastre atinge diretamente pequenos produtores, comunidades tradicionais e famílias ribeirinhas, que dependem do Rio do Sal para abastecimento e subsistência. A população teme o agravamento de doenças, perda de lavouras e danos irreversíveis ao solo.

Segundo especialistas ouvidos por veículos locais, o caso expõe a fragilidade na gestão de resíduos sólidos em Goiás, sobretudo no interior e no Entorno do Distrito Federal, onde a expansão populacional não foi acompanhada por infraestrutura adequada para o tratamento do lixo.

O caso reacende o debate sobre a precariedade da gestão de resíduos sólidos em Goiás. Nos últimos meses, diversos aterros em situação irregular têm sido alvo de ações judiciais. Em abril de 2025, a Justiça determinou a interdição progressiva do aterro sanitário de Goiânia, que operava sem licença válida e descumpria um Termo de Ajustamento de Conduta. 

Já em março, o aterro de Aparecida de Goiânia foi embargado pela Semad, após constatação de irregularidades persistentes. Ambos os casos previam prazos para encerramento das operações e readequação da destinação dos resíduos.

Apesar dos esforços do governo com o programa Lixão Zero, cerca de 21,5% dos municípios goianos ainda não iniciaram o processo de regularização dos lixões. A Semad, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), planeja implantar aterros sanitários regionais para ampliar o atendimento e reduzir os custos operacionais das prefeituras, com estudo previsto para ser concluído até março de 2026.

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos canais de comunicação do O Hoje para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.
Veja também