Desabamento de lixão em Padre Bernardo causa desastre ambiental em Goiás
Exames laboratoriais revelaram alta concentração de sólidos dissolvidos e metais pesados, como chumbo e mercúrio

O Governo de Goiás e órgãos ambientais estão mobilizados após o desabamento de parte do lixão de Padre Bernardo, município goiano no Entorno do Distrito Federal. O acidente, ocorrido em 18 de junho de 2025, liberou uma massa de lixo e chorume que atingiu córregos e o Rio do Sal, manancial utilizado por comunidades rurais para consumo, agricultura e pesca. O caso foi classificado como grave desastre ambiental pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).
A área atingida abriga o aterro da empresa Ouro Verde Ambiental, que, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), apresentava indícios de operação irregular, com presença de resíduos hospitalares, lixo domiciliar e industriais não tratados. Equipes técnicas da Semad, ICMBio e Defesa Civil foram enviadas ao local e constataram o impacto direto sobre a fauna, flora e recursos hídricos da região.
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Água imprópria para consumo
Análises laboratoriais realizadas pela Semad detectaram níveis de Sólidos Totais Dissolvidos (STD) de até 1.580 mg/L, quase três vezes acima do limite permitido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que é de 500 mg/L. Foram encontrados também metais pesados como chumbo e mercúrio, indicando contaminação severa e risco à saúde humana.
Diante disso, o governo estadual proibiu qualquer uso da água do Rio do Sal e seus afluentes, incluindo atividades de consumo humano, irrigação, pesca, banho e lazer. A medida é válida por tempo indeterminado e atinge diversas propriedades no entorno da bacia hídrica. Moradores foram alertados por agentes da força-tarefa formada por Semad, ICMBio, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Vigilância Sanitária e Prefeitura de Padre Bernardo.
Paralelamente, a Semad notificou a empresa responsável pelo aterro para apresentar, em até dois dias, um plano emergencial de recolhimento de resíduos e ações imediatas para contenção e mitigação dos danos. Caso o prazo não seja cumprido, o governo pode aplicar multas, embargar a área e até cancelar a licença ambiental.
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) também acompanha o caso e pode abrir inquérito civil para apurar possíveis crimes ambientais, inclusive responsabilização por omissão no manejo de resíduos perigosos e contaminação de recursos hídricos. O lixão estava em funcionamento com licença, mas denúncias anteriores já apontavam fragilidades na operação e falta de fiscalização contínua.
Impacto social e ambiental
O desastre atinge diretamente pequenos produtores, comunidades tradicionais e famílias ribeirinhas, que dependem do Rio do Sal para abastecimento e subsistência. A população teme o agravamento de doenças, perda de lavouras e danos irreversíveis ao solo.
Segundo especialistas ouvidos por veículos locais, o caso expõe a fragilidade na gestão de resíduos sólidos em Goiás, sobretudo no interior e no Entorno do Distrito Federal, onde a expansão populacional não foi acompanhada por infraestrutura adequada para o tratamento do lixo.
O caso reacende o debate sobre a precariedade da gestão de resíduos sólidos em Goiás. Nos últimos meses, diversos aterros em situação irregular têm sido alvo de ações judiciais. Em abril de 2025, a Justiça determinou a interdição progressiva do aterro sanitário de Goiânia, que operava sem licença válida e descumpria um Termo de Ajustamento de Conduta.
Já em março, o aterro de Aparecida de Goiânia foi embargado pela Semad, após constatação de irregularidades persistentes. Ambos os casos previam prazos para encerramento das operações e readequação da destinação dos resíduos.
Apesar dos esforços do governo com o programa Lixão Zero, cerca de 21,5% dos municípios goianos ainda não iniciaram o processo de regularização dos lixões. A Semad, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), planeja implantar aterros sanitários regionais para ampliar o atendimento e reduzir os custos operacionais das prefeituras, com estudo previsto para ser concluído até março de 2026.