Mesmo derrotado, Lula persiste na MP que aumenta o IOF
Com sucessivas negativas do Congresso Nacional, o líder da esquerda defende a medida de Fernando Haddad: “É necessária para manter investimentos sociais sem comprometer o orçamento público”
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), defendeu, mais uma vez, o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) como meio de manter os gastos públicos. Durante a entrevista que durou mais de duas horas, no Podcast Mano a Mano, publicado nesta quinta-feira (19), disse que o IOF do Haddad não tem nada demais. “O Haddad quer que as BETs paguem imposto de renda, que as fintechs paguem imposto de renda, que os bancos paguem imposto”, justificou o presidente. Apresentado pelo rapper Mano Brown, Lula apontou distorções no atual modelo tributário brasileiro e argumentou a favor de um sistema mais justo.
Contrária ao reajuste no IOF, a oposição na Câmara dos Deputados tem afirmado que a medida representa uma “escalada tributária” e se trata de “mais um ataque ao bolso de quem trabalha”. Na semana passada, em uma reunião com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a oposição reafirmou que não aceitará novos aumentos de impostos sem controle e sem transparência e cobrou a votação imediata do mérito da proposta no plenário. Segundo os parlamentares, a escalada tributária é inaceitável e representa mais um ataque ao bolso de quem trabalha e produz.
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No Podcast, Lula tentou contornar as críticas à medida e ao seu ministro, explicou que a medida é necessária para manter investimentos sociais sem comprometer o orçamento público. “Não é imposto de renda, é pagar um pouquinho só para a gente poder fazer a compensação. Se eu tiver que cortar R$ 40 bilhões do orçamento de obras, de rua, para saúde, para educação, eu tenho que ter uma compensação”, afirmou. O petista defendeu o modelo onde quem ganha mais contribui proporcionalmente.
“Todo imposto que o rico paga, ele joga no preço do produto que fabrica. Quem compra aquele produto é que termina pagando o imposto”, explicou. “Quem paga imposto de verdade nesse país é quem recebe salário no fim do mês, recebe contracheque. Nós queremos que uma parte mais rica, quem ganha acima de R$ 1 milhão por ano, pague um pouquinho para poder beneficiar as pessoas mais pobres que ganham até R$ 5 mil”, argumentou. “É importante que a gente faça justiça tributária.”
País desestruturado
O presidente Lula afirmou ainda que encontrou um país desestruturado ao reassumir a presidência e tem como missão reconstruir políticas sociais. “Quando chegamos aqui, nós pegamos um país semidestruído. Não tinha mais Ministério do Trabalho, nem da Cultura, dos Direitos Humanos ou da Igualdade Racial. Tinha sido uma destruição proposital”, salientou.
O presidente destacou também a retomada do crescimento econômico, com números recentes que indicam melhora significativa no emprego. “Crescemos 3,2% em 2023, crescemos 3,4% em 2024 e vamos continuar crescendo”, declarou.
Celeridade
A oposição pediu a Hugo Motta celeridade no Projeto de Decreto Legislativo (PDL 314/2025) que susta o recente aumento do IOF promovido pelo governo federal. O governo prometeu contingenciar as emendas parlamentares. A bancada da oposição alertou o presidente da Casa que não se furtará a discutir o tema com seriedade, mas não aceitará qualquer tentativa de condicionar a liberação de emendas à retirada do PDL do IOF.
“Esse tipo de chantagem atinge diretamente a população nos municípios, especialmente os mais vulneráveis, que dependem desses recursos para manter serviços essenciais em saúde, segurança, assistência social, infraestrutura e atendimento às APAEs”, afirmou Luciano Zucco (PL-RS), líder da oposição. (Especial para O Hoje)