Disidrose: doença de pele frequente em jovens adultos pode piorar com o estresse emocional
As manifestações mais comuns incluem o surgimento de pequenas bolhas cheias de líquido
Caracterizada pelo surgimento de pequenas bolhas líquidas nas mãos e nos pés, a disidrose é uma condição dermatológica que pode se tornar crônica. Embora as causas ainda não sejam totalmente compreendidas, fatores como estresse, dermatite atópica e hiperidrose têm sido associados ao seu desenvolvimento.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a doença afeta homens e mulheres, com maior incidência entre os 20 e 40 anos de idade, especialmente nos meses mais quentes do ano.
Os sintomas da disidrose costumam ser bastante característicos e impactam diretamente a qualidade de vida de quem convive com a condição. As manifestações mais comuns incluem o surgimento de pequenas bolhas cheias de líquido, que aparecem predominantemente nas palmas das mãos e nas laterais dos dedos, embora também possam surgir nas solas dos pés.
A coceira intensa é um dos principais incômodos relatados pelos pacientes, muitas vezes acompanhada de dor e desconforto. Em casos em que as bolhas são rompidas, é comum observar vermelhidão e inflamação na área afetada. Após o desaparecimento das vesículas, a pele tende a descamar, deixando a região mais sensível e suscetível a irritações.
Giordanna Araújo, formada em medicina veterinária, teve os primeiros sintomas aos 19 anos, em meio à pressão da rotina acadêmica. “Na época, por causa do estresse e da ansiedade da faculdade, começaram a surgir bolhas nas mãos. Depois a pele resseca, coça muito e aparecem cortes profundos”, relata.
As principais causas envolvem o estresse emocional é amplamente citado como um dos gatilhos mais relevantes. Situações de ansiedade, pressão excessiva e preocupações constantes podem afetar diretamente o sistema imunológico, contribuindo para o aparecimento de surtos. Por isso, técnicas de gerenciamento do estresse, como a prática regular de atividades físicas, meditação e exercícios de respiração, são recomendadas como forma de prevenção.
A condição também pode estar relacionada a alergias, tanto alimentares quanto respiratórias, ou ao contato com determinadas substâncias. Alimentos ricos em níquel, como chocolate, espinafre, soja, aveia e nozes, estão entre os mais associados aos surtos da doença, especialmente em pessoas com sensibilidade ao metal. Além disso, casos de asma e sinusite podem coexistir com a disidrose, assim como reações alérgicas ao uso de cosméticos ou produtos de limpeza.
Profissionais que lidam diariamente com agentes químicos, como cabeleireiros e faxineiros também integram o grupo de risco. O uso frequente de detergentes, solventes e sabonetes agressivos pode irritar ainda mais a pele já sensibilizada.
Além disso, ambientes quentes e úmidos favorecem o surgimento das lesões. O calor excessivo estimula a transpiração, que ao entrar em contato com a pele pode desencadear irritação e inflamação.
É o caso de Giordanna Araújo, que trabalha em um petshop. “Por dar banho nos pets, acabo mexendo com água o tempo todo, e isso prejudica a minha pele. Quanto mais molha, mais feridas vão se abrindo”, relata. Para atenuar os sintomas, ela recorre ao uso de luvas nitrílicas, já que também apresenta alergia ao látex. “Ajuda a amenizar um pouco”, conta.
Manter a pele seca, fresca e protegida, especialmente por meio do uso de luvas e de cuidados com os produtos aplicados, é uma das estratégias mais eficazes para controlar o avanço da doença.
A predisposição genética também não pode ser descartada. Pessoas com histórico familiar de dermatite atópica, eczema, asma ou outras condições alérgicas tendem a apresentar maior vulnerabilidade à disidrose.
Em casos de disidrose ligada à alimentação, o acompanhamento com um nutricionista é essencial. Esse profissional pode ajudar a identificar fontes ocultas de níquel na dieta e propor substituições seguras, garantindo o equilíbrio nutricional sem comprometer a saúde da pele.
Tratamento da disidrose
Segundo orientações da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o tratamento na fase aguda da condição inclui medidas simples, como banhos com permanganato de potássio ou com solução de água boricada a 2%, realizados duas a três vezes ao dia. Esses cuidados visam reduzir a inflamação e secar as lesões mais rapidamente.
Em casos de sintomas mais intensos, no entanto, outras abordagens podem ser adotadas. Corticoides tópicos costumam ser prescritos para amenizar a coceira e a vermelhidão. Já nos quadros mais severos, o uso de medicamentos orais se torna necessário para controlar a inflamação de forma mais eficaz.
Além dos tratamentos medicamentosos, medidas auxiliares fazem parte da rotina de quem convive com a disidrose. Compressas frias aplicadas diretamente sobre as áreas afetadas ajudam a aliviar o desconforto e a reduzir a irritação da pele. A hidratação também desempenha um papel importante, tanto por meio da ingestão regular de água quanto pela aplicação de cremes hidratantes, sempre optando por fórmulas neutras, sem fragrância, para evitar reações adversas.
A proteção das mãos também deve ser prioridade. É fundamental identificar e evitar o contato com substâncias que possam piorar o quadro, como detergentes agressivos, sabonetes perfumados e produtos de limpeza. O uso de luvas adequadas no dia a dia, especialmente durante atividades domésticas ou profissionais que envolvam contato com produtos químicos, é uma das principais estratégias de prevenção e controle da condição.
Giordanna faz uso frequente de pomadas com anti-inflamatórios esteroides para controlar os sintomas da disidrose. No entanto, durante as crises mais intensas, recorre ao uso de corticoides orais. Apesar da eficácia, ela evita esse tipo de medicação, já que pode causar prejuízos aos rins. A recomendação médica, inclusive, é que o uso seja feito com cautela e não de forma contínua.
Ela conta que conviver com a disidrose tem sido um sofrimento diário, a ponto de chorar todos os dias por causa da dor causada pelos cortes profundos na pele, que afetam diretamente sua rotina e desempenho no trabalho. “Tento lidar com isso com os medicamentos, mas eles não fazem tanto efeito. São raros os dias em que sinto alívio, sem dor. Infelizmente, a gente acaba ‘se acostumando’ com a situação, já que, no meu caso, ainda não encontrei uma forma de evitar que aconteça”, desabafa.