Com 14 milhões de corredores, corrida de rua impulsiona negócios no Brasil
Corridas de rua devem crescer 25% em 2025 e movimentam economia do bem-estar

O número de praticantes de corrida de rua no Brasil não para de crescer. Segundo levantamento da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), mais de 14 milhões de brasileiros aderiram à modalidade como atividade regular. A prática, que ganhou força nos últimos anos, tem deixado de ser uma opção exclusivamente esportiva para se consolidar como estilo de vida, influenciando hábitos de consumo, relações sociais e estratégias de negócios.
A corrida atrai diferentes perfis. Parte dos corredores está em busca de saúde física e mental, enquanto outros buscam superação pessoal, disciplina ou socialização. Com presença nas ruas de grandes centros urbanos e cidades do interior, a atividade também cresce em estados como Goiás, onde o número de grupos de corrida e eventos locais se multiplicou nos últimos dois anos. De acordo com dados do Strava, a participação em corridas em grupo aumentou 109% no Brasil em 2024, quase o dobro da média global, que foi de 59%.
Consumo em alta: o impacto econômico da corrida
Além da popularidade, a corrida tem gerado impactos relevantes na economia, com reflexos diretos no mercado de vestuário, alimentação e tecnologia voltada ao desempenho físico. A busca por equipamentos, como roupas adequadas e calçados com melhor absorção de impacto, se intensificou. Uma pesquisa de consultoria em marketing digital mostra que, nos últimos cinco anos, a procura online por produtos relacionados à corrida aumentou 170%. Esse movimento impulsiona a indústria nacional e o comércio especializado, abrindo espaço para inovação e novas soluções de consumo.
Do esporte à identidade: o perfil do novo corredor
O crescimento do setor é reflexo de mudanças sociais mais amplas. Em tempos de valorização do autocuidado, as pessoas passaram a enxergar a atividade física como uma extensão de sua identidade. A corrida de rua, por sua praticidade e baixo custo inicial, se encaixa perfeitamente nessa nova dinâmica, ao mesmo tempo individual e coletiva. O corredor contemporâneo não busca apenas performance, mas experiências. Ele quer pertencer a um grupo, frequentar eventos, compartilhar treinos nas redes sociais e estabelecer relações com marcas e comunidades que representem seus valores.
Corridas temáticas e eventos impulsionam adesão
Um dos aspectos que explicam o avanço da modalidade é a diversidade de eventos oferecidos. Além das tradicionais provas de 5 km, 10 km e meia maratona, surgem cada vez mais corridas temáticas. Esses eventos, voltados a públicos específicos, promovem experiências sensoriais e criam vínculos afetivos com os participantes. A corrida, nesse contexto, torna-se mais do que esporte: transforma-se em vivência, entretenimento e conteúdo.
Desafios para o Brasil alcançar padrões internacionais
A adesão crescente também desafia a estrutura do setor. Provas populares como a Corrida de São Silvestre demonstram o novo fôlego da modalidade. Em 2023, o primeiro lote de inscrições foi vendido em 30 dias; em 2024, esgotou em apenas 27 minutos. Esse fenômeno pressiona organizadores por mais eficiência logística e abre oportunidades para que o país se aproxime dos padrões internacionais. Em maratonas de destaque global, como as Majors, o número de interessados é tão alto que as vagas são distribuídas por sorteio — algo que começa a ser discutido no Brasil, especialmente com a centésima edição da São Silvestre prevista para este ano.

Divulgação/ CBAt
Corrida como ferramenta de transformação social
A prática também vem se consolidando como ferramenta de transformação social. Muitas empresas passaram a incentivar a corrida entre colaboradores, não apenas como benefício, mas como parte de uma cultura voltada ao bem-estar e à qualidade de vida. Iniciativas corporativas de engajamento por meio da atividade física já mostram resultados positivos em produtividade e saúde mental. Há ainda projetos em que quilômetros percorridos são convertidos em doações para ações sociais.
Apesar dos avanços, o Brasil ainda está distante do protagonismo mundial no setor. Faltam investimentos em estrutura, apoio a novos talentos e incentivo à base esportiva. A comparação com eventos internacionais reforça essa diferença. Enquanto a versão infantil da São Silvestre, conhecida como São Silvestrinha, reúne cerca de mil crianças, a Mini Maratona de Londres já ultrapassa os 15 mil jovens participantes. Esse dado revela que, embora a corrida adulta cresça, o fomento ao esporte desde a infância ainda é um desafio.
Cuidados e crescimento sustentável da modalidade
Especialistas em saúde alertam que, mesmo sendo uma atividade acessível, a corrida requer cuidados. “É um esporte democrático, mas exige planejamento. A pessoa precisa respeitar seus limites, iniciar com distâncias pequenas e buscar acompanhamento profissional quando possível”, orienta uma educadora física que atua com iniciantes na modalidade. Segundo ela, a paciência com o próprio corpo e a constância são elementos-chave para quem deseja se manter ativo e saudável.
No Brasil, a chamada “Era da Corrida” está em plena expansão. Projeções do setor indicam que o mercado deve crescer 25% em 2025, confirmando o ritmo acelerado de adesão à prática. A consolidação da corrida de rua como um hábito coletivo representa mais do que um fenômeno esportivo. Trata-se de uma transformação cultural com impactos positivos na saúde da população, no desenvolvimento de novos negócios e na construção de uma sociedade mais ativa e conectada com o bem-estar.