Marte Um retrata desafios e esperanças da classe trabalhadora sob a sombra da extrema-direita
Longa dirigido por Gabriel Martins expõe a realidade da desigualdade social e política a partir da história da família Martins na periferia de Contagem
Marte Um oferece um olhar sensível e contundente sobre a experiência da classe trabalhadora brasileira, encarnada pela família Martins, que enfrenta cotidianamente os desafios econômicos e sociais em um país marcado pela ascensão da extrema-direita em 2018, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro. Produzido e filmado principalmente na periferia de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, o longa foi reconhecido como o melhor filme brasileiro de 2022 pela Abraccine, associação de críticos de cinema do país.
A narrativa acompanha Deivinho, filho caçula da família, cujo sonho de se tornar astrofísico e participar de uma missão para colonizar Marte contrasta com as dificuldades vividas por seus pais, Wellington e Tércia. Eles enfrentam o desemprego, o racismo estrutural e o aperto financeiro, enquanto a irmã mais velha, Eunice, estudante de direito, tenta conciliar seus anseios pessoais e profissionais, além de buscar a aceitação da sua orientação afetiva em meio a um ambiente familiar conservador. O filme expõe de forma direta a desigualdade social, a violência urbana e a falta de perspectivas que marcam a realidade de milhões de brasileiros.
O fascínio de Deivinho pelo espaço e pela ficção científica representa uma fuga simbólica, mas também uma força propulsora para resistir diante dos obstáculos impostos pela realidade. Essa dimensão do personagem traduz a importância da esperança e do otimismo como motores de perseverança em um cenário adverso. A trajetória do garoto inspira tanto seus familiares quanto o público, provocando reflexões sobre a necessidade de manter a chama da luta por melhores condições de vida mesmo em tempos de crise.
Além de descrever o cotidiano da família, Marte Um funciona como uma crítica aguda ao sistema político e econômico que sustenta a exclusão social, sobrecarregando a população mais vulnerável com as consequências das decisões governamentais equivocadas. O pano de fundo político da obra destaca os impactos do governo Bolsonaro, evidenciando como as promessas de renovação e progresso da extrema-direita se revelam insuficientes para superar a marginalização e o abandono dos setores populares.
Apesar da gravidade dos temas abordados, o longa evita cair em um discurso derrotista. Ao contrário, ele constrói uma narrativa de resistência e esperança, enfatizando a importância da solidariedade e da mobilização coletiva para enfrentar a injustiça social. Marte Um conclama à construção de um futuro mais justo e inclusivo, ressaltando que a transformação depende da disposição de lutar contra o ódio e a desigualdade para assegurar dignidade e oportunidades para as próximas gerações.