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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Análise

Se Tarcísio for presidente, quem vai governar: o Centrão ou ele mesmo?

Cientista político analisa cenário em que Tarcísio de Freitas pode encarnar uma nova experiência de “semipresidencialismo informal”, como no governo Temer, com o Congresso a assumir parte do comando político e orçamentário do País

Bruno Goulartpor Bruno Goulart em 29 de junho de 2025
Com Tarcísio na presidência, quem governaria: o Centrão ou ele mesmo?
Tarcísio de Freitas ao lado de Bolsonaro no ato da Paulista, neste domingo (29), contra o julgamento por golpe de Estado

Bruno Goulart

Os sinais cada vez mais claros de desembarque do Congresso da base do presidente Lula (PT) deixam evidentes a força do Legislativo no presidencialismo brasileiro. De um lado, parlamentares votam medidas que fragilizam a arrecadação do governo, como a proposta que suspende os efeitos de três decretos que elevariam o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). De outro, aprovam iniciativas que ampliam o custo da máquina pública — entre elas, a criação de novas vagas na Câmara dos Deputados, que passará de 513 para 531 cadeiras, o que elevaria os gastos em pelo menos R$ 64,6 milhões por ano. Um tanto contraditório.

Para o cientista político Lehninger Mota, ouvido O HOJE, esse movimento não é pontual, mas parte de uma estratégia do Centrão de se manter no centro do poder, seja com Lula, Bolsonaro ou um nome alternativo que garanta seus privilégios. “O Congresso, com esse poder de emendas impositivas, de estar executando parte do orçamento, tem ganhado grandes poderes. E agora entendeu que é um momento de tanta força que pode escolher um candidato que continue mantendo essas prerrogativas que lhe deram tanto poder”, afirma. 

Mota observa que, embora o Centrão tenha transitado entre governos de matizes opostos, a polarização inviabiliza uma terceira via genuína. “Sem a benção do Bolsonaro não existe espaço para uma terceira via. Qualquer que seja o candidato lançado pelo Centrão, se o Bolsonaro lançar um candidato contra o do Lula, o candidato do Centrão estará fadado ao fracasso”, pondera.

Governador de São Paulo

Nesse contexto, Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, desponta como a peça que pode amarrar os interesses do Centrão com a força eleitoral de Bolsonaro. “Costurado com o Bolsonaro para ser o candidato, aí sim, como eles já estão escolhendo, você tem uma possibilidade de vitória. É um candidato que nasce forte”, avalia Mota. 

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Mesmo com esse favoritismo potencial, a relação de Tarcísio com o Congresso pode reproduzir o “semipresidencialismo informal” que marcou o governo Michel Temer (MDB), quando o Legislativo passou a comandar a execução de grandes fatias do orçamento público. “A tendência é que eles acirrem a relação com o Planalto, já pensando nesse candidato que possa vir a ser o próximo presidente e que mantenha os interesses e privilégios que eles estão tendo”, afirma.

Congresso x governo

Mota lembra que outros possíveis nomes do campo da direita, como o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), já se manifestaram contra a manutenção desse modelo. “O Caiado, por exemplo, já falou que é contra essas emendas impositivas, que isso não existe e que vários outros candidatos têm que lutar para isso”, diz. Para o cientista político, a disputa não é apenas eleitoral, mas envolve o próprio desenho do poder na República. “Eu acho que o caminho agora, inclusive do presidente Lula, vai ser lutar para diminuir o poder do Congresso, de limitar, de diminuir as emendas por retaliação. Uma vez que é muito difícil esse Congresso voltar a embarcar a maioria do Centrão com o Lula e terminar um governo tranquilamente”, analisa.

O ambiente de tensão, portanto, deve se intensificar. De um lado, um governo que busca conter o avanço do Legislativo sobre o orçamento, tentando recuperar capacidade de agenda e articulação política. De outro, um bloco de parlamentares que se consolidou como força decisiva — e que já se move para preparar terreno para 2026, preferencialmente com um nome alinhado, como Tarcísio. Para Lehninger Mota, a pergunta central não é apenas quem vai ganhar a eleição, mas quem, de fato, vai governar. “O caminho do Centrão é um pouco complexo, porque eles dependem única e exclusivamente do apoio do Bolsonaro. Porque qualquer candidato que eles têm sem o apoio do Bolsonaro, o candidato deles está fadado ao fracasso”, conclui.

Na prática, portanto, a hipótese de Tarcísio chegar ao Planalto pode repetir uma fórmula já conhecida: o presidente com autoridade formal, mas o Congresso com o poder real sobre o cofre público e a condução política — um “semipresidencialismo” não declarado, moldado por emendas bilionárias e articulações que se sobrepõem ao Executivo eleito.

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