Férias não são desculpa para descuidar da alimentação infantil
Com criatividade e organização, famílias podem manter o equilíbrio nutricional das crianças durante o recesso escolar
Durante as férias escolares, a quebra da rotina altera não só os horários de sono e atividades das crianças, mas também seus padrões alimentares. Lanches improvisados, consumo excessivo de doces e produtos ultraprocessados tornam-se comuns. Apesar disso, o período pode ser uma oportunidade estratégica para reforçar bons hábitos alimentares, desde que haja planejamento e envolvimento familiar.
No Brasil, mais da metade das crianças entre cinco e nove anos apresenta excesso de peso, segundo o último relatório do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), do Ministério da Saúde (2023). A ausência de uma rotina alimentar estruturada contribui para esse cenário, agravado nas férias por um aumento na ingestão calórica e redução da variedade de nutrientes.
A criação de um cardápio semanal simples, o estabelecimento de horários aproximados para as refeições e a inclusão das crianças no preparo dos alimentos são estratégias eficazes para manter a regularidade alimentar. Quando participam das escolhas, elas tendem a experimentar novos ingredientes e desenvolver autonomia na alimentação.
Outro ponto relevante é a substituição de ultraprocessados por alternativas caseiras. Cookies de banana e aveia, muffins de legumes e geladinhos naturais feitos com frutas frescas e iogurte são exemplos de preparações que mantêm o apelo visual e gustativo, mas com maior valor nutricional. Além disso, essas receitas envolvem processos manuais simples, como amassar, misturar e montar, o que permite às crianças participar ativamente do preparo.
De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira (Ministério da Saúde, 2014), quanto maior o envolvimento infantil na manipulação de alimentos in natura, maior a aceitação e compreensão sobre escolhas saudáveis. Mesmo em ambiente doméstico, ações simples como transformar frutas em picolés ou criar figuras divertidas com legumes incentivam o consumo.
A hidratação também pode ser estimulada com métodos lúdicos. Garrafas coloridas, águas aromatizadas com frutas e canudos decorativos aumentam o interesse dos pequenos e ajudam a reduzir o consumo de refrigerantes e sucos industrializados, frequentemente presentes no cardápio das férias.
A oferta nutricional deve ser balanceada com alimentos ricos em proteínas magras, vegetais variados, grãos integrais e fontes de gordura saudável. Segundo o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI, 2021), apenas 39% das crianças de seis a 23 meses consomem frutas e hortaliças diariamente. Esse dado reforça a necessidade de atenção desde os primeiros anos de vida.
Ao transformar o ato de cozinhar em atividade de lazer, o período de recesso pode consolidar uma relação mais saudável com a comida. Em vez de impor restrições, o foco deve estar na diversidade, na educação alimentar e na construção de memórias afetivas ligadas à mesa.