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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Expressões afro-brasileiras

Saberes do Rosário são reconhecidos como Patrimônio Cultural do Brasil

Expressões afro-brasileiras como Congadas, Reinados e Moçambiques agora integram o patrimônio imaterial nacional e estarão em destaque na Chapada dos Veadeiros

Luana Avelarpor Luana Avelar em 9 de julho de 2025
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Uma das mais importantes tradições afro-brasileiras acaba de receber reconhecimento oficial. No dia 17 de junho, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) registrou os Saberes do Rosário como Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão contempla práticas religiosas e culturais como os Reinados, Congadas, Congos e Ternos de Moçambique, presentes em ao menos 16 estados brasileiros e transmitidas de geração em geração por centenas de comunidades.

Essas expressões combinam religiosidade, música, dança e memória coletiva. São celebrações realizadas em louvor a Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito, com forte presença de elementos das culturas africanas que foram ressignificados no contexto da diáspora. Entre instrumentos, vestimentas e coreografias, esses saberes afirmam a identidade de povos negros e quilombolas em espaços onde a fé se mistura com a resistência.

Em Goiás, o Congo de Niquelândia é um dos grupos que mantém viva essa herança. O cortejo percorre ruas com vestes brancas e vermelhas, penas de ema, violas e bumbos, entoando cantos para Santa Efigênia, considerada padroeira da cidade. A tradição teria origem no antigo quilombo Xambá, formado por escravizados fugitivos de fazendas da região. Relatos históricos indicam que as celebrações já ocorriam no século XVIII, reunindo práticas do catolicismo com elementos das religiões de matriz africana.

Outro exemplo da força desses saberes é o Terno de Moçambique do Capitão Júlio Antônio, de Perdões, no sul de Minas Gerais. O grupo existe há mais de 300 anos e é mantido por gerações da mesma família. A formação inclui capitão, tocadores, caixeiros e dançarinos que utilizam patangomes e gungas nos joelhos. A condução do cortejo é feita com apito, bastão e bandeira, marcando o ritmo de uma tradição que teve origem com um africano escravizado que se tornou feitor e guardião de cantos noturnos na senzala.

Esses e outros grupos estarão reunidos entre os dias 13 e 20 de setembro, na 25ª edição do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, na Vila de São Jorge. O evento irá receber rodas, oficinas, apresentações e cortejos que conectam mestres, educadores, juventudes e brincantes de todo o país. Mais do que mostrar saberes, o encontro promove vivências e trocas diretas entre gerações.

Desde 2001, o Encontro de Culturas constrói pontes entre as comunidades tradicionais e as políticas públicas de cultura. Para os organizadores, o reconhecimento do Iphan reforça a importância de valorizar saberes que seguem à margem das instituições. Ao oficializar esse patrimônio, o país reconhece também a centralidade das culturas negras e populares na construção da identidade brasileira.

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