Taxação dos EUA trava exportações de carne bovina em Goiás e acende alerta no agronegócio
Frigoríficos goianos já iniciam paralisação dos embarques para o país norte-americano após tarifa de 50%
A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos agropecuários brasileiros já afeta diretamente a economia de Goiás. Responsável por cerca de 25% da carne bovina exportada pelo estado, o mercado norte-americano ocupa o posto de segundo maior parceiro comercial de Goiás nesse setor, atrás apenas da China. Com a taxação prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto, frigoríficos goianos começaram a suspender os embarques ao país.
A informação foi confirmada pelo Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Goiás (Sindicarne-GO), Leandro Stival. Segundo a entidade, a indústria está em processo de adequação, e um dos principais pontos de atenção são as cargas já prontas, que estavam previstas para exportação.
A Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa) publicou nota oficial reforçando os alertas. Para o órgão, a medida imposta pelo governo de Donald Trump não afeta apenas os exportadores diretos. O impacto atinge toda a cadeia produtiva, uma vez que a oferta excedente será redistribuída entre outros mercados e o consumo interno, o que pode pressionar os preços para baixo.
“Isso influencia diretamente no preço, até que se alcance um equilíbrio. Em Goiás, alguns frigoríficos já iniciaram a paralisação da exportação de carne bovina para os EUA”, diz a nota da Seapa. O texto também destaca que, além da proteína animal, a produção de grãos, amplamente utilizada na alimentação do rebanho bovino, também pode sofrer impacto. “A maior parte da produção de grãos é destinada à alimentação animal. Desta forma, a taxação também pode ter um impacto significativo nesse cenário”, alerta a pasta.
O cenário causa preocupação generalizada entre produtores, cooperativas e lideranças do agronegócio no estado. Goiás é atualmente o terceiro maior exportador de carne bovina do Brasil, e o país como um todo lidera o ranking global. Em um setor com margens sensíveis e prazos logísticos apertados, qualquer instabilidade nos fluxos internacionais tende a gerar efeitos em cadeia.
A busca por alternativas comerciais já é uma prioridade para o setor privado e para o Governo de Goiás, mas encontrar novos mercados exige tempo e estrutura. É preciso avaliar se os cortes destinados aos Estados Unidos têm saída em outros países, verificar contratos já firmados, além das exigências sanitárias e habilitações para novos mercados.
Por sua vez, o governo estadual aposta em diplomacia e diversificação. “O Governo de Goiás tem trabalhado no sentido de ampliar as relações internacionais. A exemplo disso, destaque para a Missão ao Japão que está sendo realizada, além da interlocução junto aos representantes de outros países. Essas medidas visam aumentar as alternativas de exportações, para que essas medidas pontuais não tenham impactos tão expressivos no mercado interno”, afirma a Seapa.
Cenário global e contexto político
A tarifa de 50% foi anunciada por Donald Trump por meio de carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada na rede Truth Social. No texto, Trump alega supostas injustiças nas relações comerciais entre os dois países e crítica decisões do Supremo Tribunal Federal brasileiro. A decisão tem sido vista por analistas como um movimento político, voltado à base eleitoral do presidente norte-americano.
Ainda assim, os efeitos práticos são imediatos. E, para Goiás, eles começaram antes mesmo da entrada em vigor da nova tarifa. Frigoríficos em diversas regiões do estado já operam com cautela, redirecionando parte da produção para o mercado interno, o que pode favorecer o consumidor final a curto prazo, mas causar queda de rentabilidade para os produtores e instabilidade no setor.
Com a entrada em vigor da tarifa prevista para o início de agosto, o setor agropecuário goiano terá que lidar com um novo cenário comercial, logístico e financeiro. A expectativa é de que os próximos meses sejam marcados por tentativas de reposicionamento de mercado, renegociação de contratos e adaptação da cadeia produtiva