Eduardo Bolsonaro cobra apoio irrestrito e esbarra na opinião pública
Deputado e filho do ex-presidente quer postura combativa, mas opinião pública sobre o tarifaço mantém aliados em cautela
O tarifaço do presidente Donald Trump sobre as importações brasileiras nos Estados Unidos em 50% desencadeou, além dos fatores econômicos, uma série de novas conjunturas políticas. A atuação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que articula para que o governo americano pressione o Supremo Tribunal Federal (STF) em razão da ação penal contra seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), colocou o campo da direita sob tensão.
O filho 03 de Bolsonaro cobra de aliados do ex-presidente uma postura combativa, ao defender a anistia irrestrita e o discurso contra o Supremo. Recentemente, Eduardo não titubeou em atacar o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Há algum tempo, o parlamentar licenciado e aliados próximos demonstram descontentamento com a postura do mineiro.
O estopim foi recentemente. Em sua conta oficial no X, o deputado respondeu uma postagem do influenciador bolsonarista Allan dos Santos, que atacava o parlamentar mineiro, após Nikolas participar de um Space, salas de áudio ao vivo onde usuários do X conversam, elogiar a influenciadora “Baianinha Intergaláctica”, que se autointitula ex-bolsonarista.
Allan dos Santos disse que se os elogios do deputado à influenciadora fossem reais, ele seria um “canalha”. Eduardo chamou a influenciadora de “pessoa abjeta”. “É triste ver a que ponto o Nikolas chegou”, disse o deputado licenciado.
Governadores na reta
O deputado mineiro não foi o único alvo de críticas e retaliações de Eduardo. O parlamentar também criticou os governadores de São Paulo e do Paraná, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ratinho Jr. (PSD). Sem citá-los nominalmente, Eduardo disse em sua conta no X: “Desconfie de quem se mostra preocupado com a ‘tarifa-Moraes’ e não fala dos presos políticos ou crise institucional, ignorando a carta do Trump que é expressa na solução do problema. Estão te enganando, jogando para a plateia e prolongando o sofrimento de quem dizem defender”. A publicação veio logo após Tarcísio e Ratinho defenderem a negociação como via de resolução, durante evento da corretora XP Investimentos, mas sem citar a anistia.
Eduardo foi ainda mais incisivo com Ratinho. Publicou o trecho de um vídeo nas redes sociais no qual o chefe do Executivo paranaense diz que “Bolsonaro não é mais importante que essa relação comercial entre os Estados Unidos e o Brasil”. O deputado rebateu: “Desculpe-me governador, mas ignorar estes fatos não vai solucionar o problema, vai apenas prolongá-lo ao custo do sofrimento de vários brasileiros”.
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Entre o bolsonarismo e a opinião pública
Para o mestre em ciência política pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Lehninger Mota, a ofensiva de Eduardo nos Estados Unidos é uma “ação exagerada”. Segundo o especialista, é essencial para qualquer presidenciável à direita ter o apoio de Bolsonaro, porém, é preciso medir a percepção da população.
“Ter a direita bolsonarista ao seu lado é fundamental para te fazer ser levado a sério. Um candidato que já vai sair com 25, 30 pontos percentuais. Mas, também é preciso olhar o que a população está pensando e sentindo no momento. Acho que a maioria da população já mostrou, em pesquisas divulgadas pela Quaest, que não são a favor das sanções dos Estados Unidos contra o Brasil, porque isso vai afetar diretamente os brasileiros”, disse Mota.
O cientista político ressalta que “o sentimento de patriotismo fala mais alto”. Lehninger explica que os governadores presidenciáveis — Tarcísio, Ratinho, Ronaldo Caiado (UB-GO) e Romeu Zema (Novo-MG) — estão com “o pé em duas canoas” para não perder a oportunidade de ter o apoio do Bolsonaro, mas também não estar contra a opinião pública. “Eles fazem esse jogo de empurra e o Eduardo quer um abraço mais expressivo, com apoio às atitudes dele”, destacou o especialista. (Especial para O Hoje)