Sarcopenia: perda muscular afeta até 17% dos idosos e ameaça autonomia na velhice
Doença silenciosa reduz força, massa muscular e desempenho. A prevenção é simples e feita com exercícios e alimentação equilibrada
A perda de massa muscular é um processo natural do envelhecimento. Mesmo entre jovens, pode ocorrer em decorrência da falta de exercícios físicos. Em idosos, porém, essa perda pode evoluir para a sarcopenia, uma síndrome musculoesquelética que provoca redução de força, massa muscular e desempenho.
A condição é mais frequente em pessoas acima dos 50 anos, quando o corpo passa a reduzir a produção de hormônios e o tamanho das fibras musculares. A diminuição da atividade física contribui para o agravamento do quadro.
Estudos indicam que, no mundo, a sarcopenia afeta de 5% a 13% dos idosos entre 60 e 70 anos. Entre aqueles com 80 anos ou mais, a incidência sobe para 11% a 50%. No Brasil, o índice segue o padrão global: cerca de 15% a 17% das pessoas acima de 60 anos apresentam a síndrome. Considerando que o País possui cerca de 32 milhões de idosos, isso representa aproximadamente 2,5% da população nacional. O número tende a crescer devido ao envelhecimento populacional, sedentarismo, presença de doenças crônicas e baixa ingestão de fibras.
Segundo o médico Fábio Lopes de Camargo, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – Regional Goiás, “a sarcopenia compromete a capacidade de realizar tarefas simples, como subir escadas ou se levantar de uma cadeira, aumentando o risco de quedas, fraturas e perda de autonomia”.
Outro ponto de atenção é a associação frequente entre sarcopenia e osteoporose, doença caracterizada pela perda progressiva da massa óssea, que enfraquece os ossos e facilita fraturas. A osteoporose atinge mais as mulheres do que os homens; cerca de 50% e 20% dos casos, respectivamente, entre pessoas acima dos 50 anos.
Quando as duas condições ocorrem juntas, o quadro é chamado de osteossarcopenia, que eleva consideravelmente o risco de complicações, pois intensifica a fragilidade óssea e muscular. Levantamento da Osteoporosis International mostra que até 58% das mulheres e 96% dos homens com fraturas por fragilidade também podem apresentar sarcopenia.
A perda muscular começa por volta dos 30 anos, com redução estimada entre 3% e 5% por década, processo que se acelera com o avanço da idade. Isso dificulta a execução de tarefas diárias. Não apenas a idade, mas fatores como perda repentina de peso, acúmulo excessivo de gordura e obesidade também contribuem para o enfraquecimento muscular e ósseo. Nesse último caso, pode ocorrer a chamada sarcobesidade, ou obesidade sarcopênica.
A redução da massa muscular pode ainda afetar a saúde cognitiva, aumentando o risco de doenças como Alzheimer, Parkinson e demência, além de elevar a probabilidade de desenvolver condições metabólicas, como diabetes, hipotireoidismo, hipertireoidismo e fibrose cística.
Especialistas defendem que a prevenção da sarcopenia deve começar na infância, com a adoção de hábitos saudáveis que se mantenham ao longo da vida, como alimentação equilibrada e prática regular de exercícios. Um estudo publicado em março deste ano na Revista de Nutrição apontou que uma dieta com proporção adequada de proteínas pode reduzir o risco da síndrome. Já a prática de exercícios de resistência, como musculação, retarda a perda de massa muscular a partir dos 30 anos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática semanal de 150 a 300 minutos de atividade física, distribuídos em pelo menos dois dias, e ingestão diária de 0,8 a 1,2 gramas de proteína por quilo de peso corporal. Esse valor pode ser maior, de acordo com o nível de atividade física, e deve ser ajustado individualmente por um nutricionista.
A identificação da fraqueza muscular pode ser feita por meio de testes simples. Um deles é o teste de sentar e levantar. “É um teste caseiro, fácil de fazer, é validado e ele consiste em medir quantos segundos se demora para sentar e levantar cinco vezes. Deve ser feito, no máximo, em 12 segundos, ou talvez estendido na mulher 14 segundos”, explica Clayton Macedo. Outra ferramenta é o hand grip, ou dinamômetro, que mede a força da mão. “Para mulheres, o ideal é que o resultado seja acima de 16.”
Além disso, exames como a bioimpedância avaliam a composição corporal, medindo a proporção de músculo e gordura, auxiliando no diagnóstico e acompanhamento da saúde muscular.