O mercado brasileiro de whey protein e suplementos alimentares segue em forte expansão e já se consolidou como um dos mais promissores da América Latina. Impulsionado pela busca por saúde, estética e bem-estar, o setor faturou cerca de US$ 1,47 bilhão em 2024 e deve atingir US$ 2,56 bilhões até 2033, com taxa média de crescimento anual de 5,7%. Outras projeções indicam que a área de nutrição esportiva no país deve movimentar mais de US$ 1,5 bilhão até 2030, crescendo quase 6% ao ano.

Fatores de expansão

Esse avanço está diretamente relacionado à consolidação da cultura fitness, à preocupação crescente com dietas equilibradas e à valorização de hábitos saudáveis. O aumento da renda média também contribui para o acesso a suplementos, assim como a ampliação da oferta em diferentes canais de venda — especialmente o comércio eletrônico e o setor de alimentos enriquecidos.

Outro fator é a diversificação do portfólio. Além dos tradicionais concentrados, já são comuns fórmulas isoladas e hidrolisadas, que oferecem maior valor nutricional e absorção mais rápida. Há ainda espaço para nichos como suplementos orgânicos, sustentáveis e prontos para consumo, acompanhando as tendências globais de inovação no setor.

Dados da indústria apontam que o Brasil é o maior consumidor de whey protein da América do Sul. O mercado interno tem se mostrado robusto, com destaque para as regiões Sudeste e Sul, enquanto Norte e Nordeste apresentam potencial de crescimento, embora ainda enfrentem limitações de renda e distribuição. A produção nacional também se fortalece, com investimentos industriais significativos e adaptação de linhas voltadas ao público fitness.

Desafios da regulação

O crescimento acelerado do mercado, no entanto, traz riscos e desafios. Em 2024, testes laboratoriais identificaram dezenas de marcas de whey protein com irregularidades, como menor quantidade de proteína do que a informada no rótulo ou aditivos não declarados. Esses problemas comprometem a confiança do consumidor e podem colocar a saúde em risco.

A Anvisa atualizou recentemente as regras para suplementos, estabelecendo novos limites de uso, ingredientes permitidos e exigências de rotulagem. Apesar disso, especialistas alertam que a fiscalização ainda precisa ser mais rigorosa para garantir a qualidade dos produtos oferecidos.

Comportamento do consumidor

Outro ponto de atenção é o uso indiscriminado. Pesquisas mostram que 75% dos brasileiros consomem vitaminas ou suplementos, mas apenas 36% fazem isso com orientação médica ou nutricional. Essa prática pode trazer sérios riscos, como sobrecarga no fígado e nos rins, além de prejudicar a absorção de nutrientes.

Segundo a nutricionista Nayara Rios, a ideia de que suplemento “sempre ajuda” é equivocada. “O excesso pode gerar danos e até atrapalhar o desempenho. O que funciona para uma pessoa pode ser totalmente inadequado para outra”, explica. Ela reforça a importância da prescrição individualizada.

Órgãos de defesa do consumidor, como o Procon, também alertam para a necessidade de atenção ao rótulo: validade, composição nutricional e possíveis alergênicos são informações que precisam ser verificadas. Crianças, idosos, gestantes e pessoas em tratamento médico formam os grupos mais vulneráveis ao uso inadequado.

Fitness híbrido impulsiona o setor

A pandemia da Covid-19 acelerou a transformação do mercado fitness. Academias em condomínios e hotéis se multiplicaram, enquanto treinos em casa passaram a fazer parte da rotina. Pesquisas indicam que cerca de 70% dos moradores buscam imóveis com academia e que mais da metade dos viajantes mantém a prática de exercícios durante viagens, utilizando os espaços oferecidos pelos hotéis.

Esse novo cenário impulsiona a relação entre prática esportiva e consumo de suplementos, que passam a integrar o cotidiano não apenas de atletas, mas também de pessoas que conciliam atividades físicas com trabalho e viagens.

Mais que musculação

Outro movimento relevante é a ampliação do conceito de “academia”. Espaços de treino passaram a incluir áreas de relaxamento, terapias de recuperação, saunas e até serviços de estética. Esse reposicionamento reflete a tendência de integrar saúde física, mental e qualidade de vida em um mesmo ambiente.

Para especialistas, o grande desafio é que síndicos, incorporadoras e gestores hoteleiros ainda têm pouca experiência na aquisição de equipamentos adequados. Questões como manutenção, custo-benefício e durabilidade exigem conhecimento técnico que nem sempre está presente nessas decisões.

Caminho para o futuro

O setor de suplementos e whey protein no Brasil vive um ciclo de expansão marcado por inovação, maior consumo e diversificação dos canais de distribuição. No entanto, a consolidação desse mercado depende de um equilíbrio delicado: garantir crescimento econômico sem abrir mão da regulação, da fiscalização e da informação adequada ao consumidor.

Em resumo, os suplementos podem ser aliados importantes para a saúde e a performance, mas somente quando usados de forma consciente e com orientação profissional. Caso contrário, aquilo que parece promover qualidade de vida pode se transformar em risco para o próprio bem-estar.