Jornalismo ainda falha em representar mulheres, aponta relatório da ONU
Presença feminina como fonte e protagonista permanece estagnada três décadas após a Plataforma de Pequim
Trinta anos depois da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, marco internacional pela equidade de gênero firmado em 1995, a presença feminina no jornalismo global continua limitada. Dados do Global Media Monitoring Project (GMMP 2025), divulgados na última quinta-feira (4) pela ONU Mulheres, mostram que apenas 26% das pessoas vistas, ouvidas ou citadas em noticiários de rádio, televisão, jornais e sites são mulheres.
O levantamento evidencia que, embora tenha havido avanço na autoria de reportagens, hoje, 41% das matérias em veículos tradicionais são assinadas por mulheres, frente a 28% em 1995, essa conquista não se traduziu em maior espaço para vozes femininas como fontes especializadas ou protagonistas. Na maior parte das vezes, mulheres aparecem apenas como testemunhas ou personagens secundárias.
Outro dado preocupante é a sub-representação da violência de gênero na pauta jornalística. Apenas duas em cada 100 notícias abordam o tema, revelando uma lacuna persistente em dar visibilidade a uma das principais violações de direitos humanos no mundo.
Para Kirsi Madi, vice-diretora executiva da ONU Mulheres, a ausência de pluralidade no noticiário compromete o papel da imprensa na democracia. “Sem as vozes das mulheres e das meninas no ar, não pode haver democracia, segurança duradoura ou um futuro comum. A história completa não pode ser contada sem as mulheres”, afirmou em comunicado.
O relatório ressalta que, apesar dos compromissos assumidos em Pequim e de avanços pontuais, a mídia segue reproduzindo desigualdades estruturais. Especialistas apontam que ampliar a diversidade de vozes não é apenas uma questão de justiça, mas de qualidade jornalística, uma vez que restringir perspectivas empobrece o debate público.