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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Análise

Ao mirar reeleição em SP, Tarcísio pretende evitar desgaste até 2026

Declaração do governador de São Paulo parece esvaziar expectativas da direita, mas soa como recuo para avaliar viabilidade da pré-candidatura a presidente

Bruno Goulartpor Bruno Goulart em 19 de setembro de 2025
Ao mirar reeleição em SP, Tarcísio pretende evitar desgaste até 2026
Foto: Reprodução

Bruno Goulart

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reafirmou nesta quarta-feira (17), em Araçatuba (SP), que pretende disputar a reeleição em 2026 e não concorrer ao Palácio do Planalto. A fala ocorreu durante um evento em que anunciou R$ 3,3 milhões em investimentos no Noroeste paulista. Questionado por jornalistas sobre uma candidatura presidencial, respondeu: “Eu pretendo concorrer à reeleição”.

A declaração acontece em um momento decisivo para a política nacional. Com a condenação de Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o espaço da direita ficou em aberto, e Tarcísio é considerado o nome mais competitivo para sucedê-lo. Sua opção por permanecer em São Paulo, ao menos no discurso, deixa o campo conservador fragilizado e, segundo analistas, abre ainda mais espaço para o presidente Lula da Silva (PT) buscar um quarto mandato em 2026.

Lula fortalecido

Ao O HOJE, o especialista em marketing político Luiz Carlos Fernandes avalia que Tarcísio é hoje o nome das elites e do mercado, mas que sem ele no Planalto, Lula tem caminho livre. “Tarcísio é o candidato das elites e do mercado. Bolsonaro vai ser rifado. O máximo que vai conseguir é prisão domiciliar e redução de pena. Agora parte do mercado já viu que não tem jeito. Lula ganha de qualquer um no primeiro e no segundo turno. Acho que se a direita continuar peitando o Brasil no Congresso Nacional e o Trump tentando interferir no Brasil, Lula pode até levar já no primeiro turno. Então, a pergunta é: Tarcísio vai deixar uma reeleição com grandes chances para entrar em uma eleição perdida e que vai ter que disputar com outros governadores?”

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Para Fernandes, sem Tarcísio, o cenário fica ainda mais favorável para o petista. “Sem Tarcísio, fica até mais fácil para Lula. Ronaldo Caiado (UB) e Romeu Zema (Novo-MG) juntos não chegam a 10% de intenção de votos. Se o Ciro Gomes concorrer pelo PSDB, aí que eles não terão chances nenhuma.”

Estratégia

Na avaliação do também especialista em marketing político Felipe Fulquim, a fala de Tarcísio funciona como uma forma de não se expor cedo demais e manter um plano B. “Ele está, de fato, tentando tirar o nome dele de evidência nesse momento agora. Caso a candidatura à presidência dele não decole, não ficaria sem alternativa completamente. A gente já viu vários governadores que eram pré-candidatos a presidente ao longo da história fazendo isso. Não é uma estratégia nova. Mas, nesse momento, ela é importante porque, com a iminência da prisão do Bolsonaro, o cenário vai ficar relativamente aberto.”

Entre discurso e prática

O cientista político Francisco Tavares, cientista político e professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG), lembra que há uma diferença entre o discurso e as ações do governador paulista. “Ele diz: ‘Sou o candidato à reeleição no Governo do Estado de São Paulo’. Contudo, para além do discurso, os gestos dele são inequívocos como um candidato à Presidência da República. Então, é alguém que sobe no palanque na Avenida Paulista, é alguém que larga o Governo de São Paulo e vai fazer articulação pela anistia lá em Brasília. É alguém que, quando vai participar daqueles eventos promovidos na Faria Lima pelo setor financeiro, não fala de São Paulo, mas discute política econômica, discute política monetária. Portanto, é alguém que está se articulando com lideranças para ser candidato a presidente e, nesse momento, é o principal nome não apenas do próprio partido, mas também do PP e do União Brasil.”

Tavares acrescenta que a estratégia de negar até o fim é comum na política. “Não tenho a menor dúvida de que o [senador] Ciro Nogueira (PP-AL) quer se colocar como vice, mas tem muito jogo para ser jogado até lá. Talvez o bolsonarismo ainda mais extremo possa tentar emplacar um ou uma vice de Tarcísio, mas nesse momento não resta a menor dúvida de que ele é o candidato e, até por isso, ele não vai se apresentar enquanto tal para evitar um processo de exposição e de fritura. Esse é um processo que nós, goianienses, conhecemos bem. Lembra do velho Iris [Rezende]? Nunca era candidato até o último dia da inscrição da chapa.” (Especial para O HOJE)

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