Dia Nacional de Prevenção à Obesidade alerta para crescimento de casos no Brasil
Segundo a OMS, até 2025 o mundo poderá ter 2,3 bilhões de adultos com obesidade
O Hospital Estadual Dr. Alberto Rassi (HGG) realizou, na manhã de quinta-feira (9), mais uma edição do projeto Saúde na Praça, voltada ao tema da obesidade, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um dos maiores desafios de saúde pública do século. A iniciativa, promovida em referência ao Dia Nacional de Prevenção à Obesidade, comemorado em 11 de outubro, buscou conscientizar a população sobre os riscos da doença e a importância da prevenção.
O evento, aberto ao público e realizado das 7h30 às 12h, movimentou a Praça Abrão Rassi, em frente ao hospital, oferecendo uma série de atendimentos gratuitos. No local, profissionais de saúde orientaram a população sobre hábitos saudáveis e realizaram aferição de pressão arterial, medição de glicemia e avaliações sobre peso e alimentação. Também foram oferecidas orientações sobre o papel da atividade física no controle da obesidade, a diferença entre fome emocional e física, e até mesmo dicas de mastigação e deglutição adequadas.
De acordo com estimativas da OMS, até 2025 o mundo poderá ter 2,3 bilhões de adultos com excesso de peso, sendo 700 milhões com obesidade caracterizada pelo índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30.
No Brasil, o cenário segue preocupante. Dados do Atlas Mundial da Obesidade 2025 indicam que cerca de 31% da população adulta brasileira já vive com obesidade, o que corresponde a um em cada três indivíduos.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde em 2019, já apontava que 60,3% dos adultos estavam acima do peso e 25,9% eram obesos. A comparação entre os levantamentos mostra uma tendência preocupante de crescimento, reforçando a importância de ações como a promovida pelo HGG para estimular o cuidado com o corpo e a adoção de hábitos mais saudáveis.
Prevenção, riscos e cuidados no tratamento
A obesidade atinge pessoas de todas as faixas etárias e representa um dos principais desafios contemporâneos à saúde pública. Segundo o endocrinologista Fernando Santos, a obesidade pode trazer diversas complicações à saúde. “O excesso de gordura abdominal aumenta o risco de diabetes tipo 2, porque provoca alterações hormonais e resistência à insulina. Também eleva o colesterol, aumentando as chances de infarto e AVC. A pressão alta é outro problema frequente, já que a gordura dificulta a circulação e faz o coração trabalhar mais.”
Ele alerta ainda para os impactos respiratórios: “A obesidade reduz a capacidade do diafragma e causa inflamação nas vias aéreas, podendo levar à asma e apneia do sono. Alterações hormonais e dificuldades na circulação também podem provocar impotência e infertilidade.”
A obesidade ainda está associada a maior risco de diversos tipos de câncer, incluindo mama, intestino, fígado e pâncreas, bem como doenças hepáticas como esteatose e cirrose. Complicações na circulação podem provocar varizes e úlceras venosas, enquanto a resistência insulínica pode gerar acantose nigricans, caracterizada por manchas escuras no pescoço, axilas e virilhas, sinal de pré-diabetes. Entre outros efeitos, a obesidade pode causar refluxo, dores nas costas, joelhos, pernas e ombros, dificuldade para esforços físicos e problemas emocionais, como ansiedade e depressão, muitas vezes ligados à insatisfação com a imagem corporal e episódios de compulsão alimentar.
De acordo com dados do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), o sobrepeso e a obesidade foram responsáveis, em 2019, por cerca de 8,8% das mortes no mundo e 12,6% no Brasil, confirmando-se como uma das principais causas de óbitos relacionados a doenças evitáveis.

Especialistas reforçam que a prevenção é o caminho mais eficaz para combater o avanço da obesidade. Os padrões alimentares ligados ao aumento das doenças crônicas não transmissíveis se caracterizam, principalmente, pelo baixo consumo de alimentos in natura e minimamente processados, aliado à ingestão excessiva de produtos ultraprocessados. A qualidade da alimentação, mais do que a quantidade ingerida, é um fator decisivo. A falta de atividade física também contribui de forma significativa para o desenvolvimento da doença.
Nos últimos anos, o Brasil tem registrado um crescimento preocupante no uso de medicamentos injetáveis manipulados para o tratamento da obesidade, como a semaglutida e a tirzepatida. Essas substâncias, produzidas fora dos parâmetros industriais adequados, apresentam riscos importantes entre eles, a incerteza quanto à pureza do princípio ativo, dosagem incorreta, contaminação e instabilidade térmica.
Diante desse cenário, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) lançou a campanha “Obesidade – Tratamento Adequado Não se Manipula”, com o objetivo de alertar a população e os profissionais de saúde sobre os perigos do uso indiscriminado dessas medicações sem controle rigoroso de qualidade.
Essas medicações, por não serem produzidas em processos industriais regulamentados nem passarem por estudos clínicos que comprovem sua segurança e eficácia, apresentam riscos significativos, como princípio ativo incerto, dosagem inadequada, instabilidade térmica, contaminação e possibilidade de efeitos adversos graves.
A obesidade é uma condição crônica, complexa e multifatorial, que demanda acompanhamento médico especializado e abordagem multidisciplinar. O tratamento seguro deve envolver apenas medicamentos aprovados por órgãos regulatórios, cuja eficácia, pureza, estabilidade e segurança estejam comprovadas. Cuidar da obesidade requer ciência, ética e responsabilidade.
Para o endocrinologista, o caminho mais seguro e eficaz continua sendo o cuidado com a alimentação e a prática regular de exercícios físicos. “A reeducação alimentar deve ser feita com acompanhamento profissional, priorizando frutas, vegetais, cereais integrais, leguminosas, proteínas magras e tubérculos. Já a atividade física é essencial para o controle do peso e para a manutenção da saúde geral”, explica.
O médico recomenda, ainda, 150 minutos de exercícios moderados por semana, o equivalente a cerca de 30 minutos por dia, cinco vezes na semana. “Atividades como caminhada, natação, dança, ciclismo ou musculação são excelentes opções. Elas ajudam a aumentar o gasto calórico diário, melhoram a disposição e reduzem o risco de outras doenças associadas à obesidade”, conclui.