Trombose: o inimigo silencioso que ameaça milhões de brasileiros
Angiologista alerta sobre os riscos, sintomas e prevenção da doença
Nesta segunda-feira (13), o mundo volta as atenções para uma das doenças mais silenciosas e perigosas da atualidade: a trombose. A data marca o Dia Mundial da Trombose, criado em 2014 pela International Society on Thrombosis and Haemostasis (ISTH) para conscientizar a população sobre os riscos e a importância da prevenção.
O alerta não é exagero. Dados da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) mostram que mais de 489 mil brasileiros foram hospitalizados entre 2012 e 2023 para tratar complicações relacionadas à doença. No mundo, estima-se que uma em cada quatro mortes tenha ligação com a trombose e suas consequências, como embolia pulmonar, infarto e AVC.
Em entrevista ao Jornal O Hoje, o angiologista Eduardo Coimbra, especialista em cirurgia vascular, reforça que a falta de informação ainda é um dos maiores desafios. “A trombose é uma doença traiçoeira. Ela pode se desenvolver de forma silenciosa e só dar sinais quando já há risco de vida”, afirma o médico.
O que é e como age a trombose
A trombose é caracterizada pela formação de um coágulo sanguíneo dentro de uma veia ou artéria. Esse coágulo, conhecido como trombo, obstrui a passagem do sangue e provoca inflamação na parede do vaso, comprometendo o fluxo de oxigênio e nutrientes.
Segundo o angiologista, o tipo mais comum é a trombose venosa profunda (TVP), que geralmente afeta as veias das pernas e das coxas. “Os principais sintomas são inchaço, dor, vermelhidão e calor local, geralmente em apenas um dos membros. Mas nem sempre eles aparecem de forma intensa, o que faz com que o problema passe despercebido”, explica Coimbra.
O perigo aumenta quando o trombo se desprende e segue pela corrente sanguínea. “Quando esse coágulo chega aos pulmões, pode causar uma embolia pulmonar, condição que pode ser fatal. Em outros casos, o trombo pode atingir o coração ou o cérebro, provocando infarto ou acidente vascular cerebral (AVC)”, alerta.
Fatores de risco
A trombose pode atingir qualquer pessoa, mas alguns fatores aumentam consideravelmente o risco de desenvolvimento da doença. De acordo com o especialista, predisposição genética, histórico familiar, colesterol elevado, idade avançada, obesidade e sedentarismo estão entre os principais agravantes.
Outros elementos também elevam o perigo: uso de anticoncepcionais hormonais, tabagismo, consumo frequente de álcool, gravidez, cirurgias recentes e períodos prolongados de imobilidade, como durante internações ou viagens longas.
“Ficar muito tempo parado é uma das causas mais comuns de trombose evitável. A falta de movimentação faz com que o sangue se acumule nas pernas, favorecendo a formação de coágulos. Por isso, é fundamental manter-se ativo e se movimentar sempre que possível”, ressalta Coimbra.
Diagnóstico precoce
Identificar a trombose nos estágios iniciais é determinante para evitar complicações graves. O angiologista explica que o ultrassom com doppler venoso é o exame mais eficaz para detectar o problema. Ele permite visualizar o trombo e verificar se há bloqueio na circulação.
“O diagnóstico rápido é essencial. Quanto antes o tratamento começar, maiores são as chances de o paciente se recuperar sem sequelas”, afirma o médico.
O tratamento é feito, na maioria dos casos, com medicamentos anticoagulantes, que diminuem a viscosidade do sangue e impedem o crescimento do coágulo. “Esses medicamentos precisam ser usados com acompanhamento médico rigoroso. A automedicação é extremamente perigosa e pode causar sangramentos graves”, alerta.
Em situações mais severas, pode ser necessária a trombólise, procedimento que dissolve o coágulo, ou até cirurgia, especialmente quando há risco iminente de embolia pulmonar.
Prevenção: pequenas atitudes, grandes resultados
A boa notícia é que a trombose pode ser evitada com medidas simples e eficazes. A principal delas é manter uma rotina de atividade física regular. “Caminhar, alongar as pernas e evitar longos períodos sentado são atitudes fundamentais para manter a circulação saudável”, orienta Coimbra.
Durante viagens longas de carro, ônibus ou avião, o médico recomenda levantar-se a cada duas horas, beber bastante água e evitar roupas apertadas. “A hidratação é essencial, porque ajuda a manter o sangue fluido. Já o movimento impede que ele se acumule nas pernas”, explica.
Outras ações preventivas incluem controlar o peso corporal, adotar uma alimentação equilibrada, reduzir o consumo de álcool e abandonar o cigarro. O tabagismo, destaca o angiologista, “altera a coagulação e danifica as paredes dos vasos, facilitando a formação de trombos”.
Para pessoas com histórico familiar da doença ou fatores de risco, o uso de meias de compressão elástica é uma medida eficiente. Elas estimulam o retorno venoso e reduzem o risco de acúmulo de sangue nas pernas.
Um problema de saúde pública
Apesar dos avanços médicos, a trombose ainda é um problema subdiagnosticado no Brasil e no mundo. A SBACV aponta que quase meio milhão de brasileiros precisaram de internação hospitalar para tratar a doença na última década. Globalmente, estima-se que 10 milhões de novos casos sejam registrados por ano.
“Muitas pessoas ainda não sabem o que é trombose, tampouco reconhecem seus sintomas. Isso faz com que a doença avance até causar complicações graves. Por isso, a conscientização é tão importante”, observa Coimbra.
O especialista lembra que o Dia Mundial da Trombose tem justamente o objetivo de mudar essa realidade, levando informação à população e incentivando o diagnóstico precoce.
Um chamado à conscientização
A mensagem é clara: a trombose tem prevenção, diagnóstico e tratamento, mas exige atenção e cuidado constantes. O angiologista Eduardo Coimbra reforça que o segredo está na observação do corpo e na adoção de hábitos saudáveis.
“A trombose pode ser evitada. O corpo sempre dá sinais basta ouvi-lo. Cuidar da circulação é cuidar da vida. Cada passo conta, e cada movimento pode salvar uma vida”, resume o médico.
O Dia Mundial da Trombose é, portanto, mais do que uma data de campanha. É um chamado à ação e à responsabilidade coletiva diante de um inimigo invisível, mas plenamente vencível com informação, prevenção e atitude.