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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Análise

PL sob tornozeleira? Anda, mas não sai do lugar, como Bolsonaro em casa

Condenado e ainda sem sucessor, Jair Bolsonaro arrasta o PL para a paralisia. Lula, fortalecido, consolida alianças e ocupa o espaço deixado pela oposição

Bruno Goulartpor Bruno Goulart em 23 de outubro de 2025
PL sob tornozeleira? Anda, mas não sai do lugar, como Bolsonaro em casa
“Bolsonaro ainda acredita ter um recall eleitoral que já não existe”, diz especialista ao O HOJE. Foto: Divulgação/Assessoria Jair Bolsonaro

Bruno Goulart

O bolsonarismo vive um de seus momentos mais delicados desde 2018. A condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado escancarou o enfraquecimento político do ex-presidente e deixou o PL sem direção. O partido, que deveria liderar a oposição, parece preso à sombra de sua maior liderança — “usando tornozeleira eletrônica”, como definiu, ao O HOJE, o mestre em História e especialista em políticas públicas Tiago Zancopé.

A metáfora resume bem o momento. Bolsonaro anda, mas não sai do lugar. Cumpre prisão preventiva em regime domiciliar e tenta preservar uma influência que se dissolve a cada semana. A defesa do ex-presidente ainda vai apresentar recurso contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), publicada nesta quarta-feira (22) — tem cinco dias, mas, politicamente, a sentença já produziu efeito devastador: o bolsonarismo perdeu o eixo e segue sem candidato viável para 2026.

Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avança. Mesmo após desgastes com o tarifaço imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, o chefe do Palácio do Planalto conseguiu recompor apoios e fortalecer sua base. O Centrão, sempre sensível à temperatura do poder, voltou a pedir mais espaço no governo — depois de inúmeras ameaças de desembarque.

“Bolsonaro é como Hugo Chávez”

PL sob tornozeleira? Anda, mas não sai do lugar, como Bolsonaro em casa
Ex-presidente seguem em prisão domiciliar. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Para Tiago Zancopé, o impasse nasce da incapacidade de Bolsonaro em delegar poder. “Ele tem o mesmo problema de Hugo Chávez (ex-presidente venezuelano): quando delega, mina o próprio delegado”, analisa. O especialista lembra que o ex-presidente sabotou aliados — de Paulo Guedes (ex-ministro da Economia) a Arthur Lira [ex-presidente da Câmara dos Deputados (PP-AL)] — e hoje não consegue preparar um sucessor. “Bolsonaro ainda acredita ter um recall eleitoral que já não existe”, completa.

Leia mais: Lula confirma a candidatura para Presidência em 2026

O resultado é um partido dividido. Parte do PL defende lançar Tarcísio de Freitas (Republicanos) a presidente, mesmo que corra o risco de perder o Governo de São Paulo. O governador paulista já indicou que prefere abrir caminho para Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, na corrida pelo Planalto. Outros apostam na ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), numa tentativa de preservar o sobrenome e o apelo emocional. Mas, para Zancopé, ambas as alternativas soam frágeis. “É difícil saber se isso é expectativa, sonho ou delírio. Bolsonaro ainda acredita que pode se viabilizar, mas o tempo está passando”, afirma.

Lula 4

Enquanto o bolsonarismo se perde em disputas internas, Lula mira o futuro. O petista reforça sua base institucional e prepara o terreno para um possível governo Lula 4. Nomes como o do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) aparecem como potenciais continuadores do projeto. “O timing está escapando das mãos do PL. Já podemos começar a precificar um Lula 4”, diz o especialista.

A analogia feita por Zancopé pode se tornar certeira, a depender do cenário que se dará nas eleições de 2026: o bolsonarismo, que surgiu como movimento de ruptura, hoje se parece com o sistema que dizia combater — fisiológico, personalista e preso ao próprio líder. Sem capacidade de renovação, o PL tornou-se refém da hesitação de Bolsonaro, que resiste em abrir espaço a novas lideranças.

No campo político, a equação é simples: Lula governa, articula e amplia influência. O PL espera ordens de quem está em prisão domiciliar. E o tempo, o mais implacável dos adversários, corre a favor do atual inquilino do Planalto.

O bolsonarismo, que já moveu multidões, agora tenta sobreviver às próprias amarras. Entre o medo de se fragmentar e a incapacidade de se reinventar, o movimento parece condenado a assistir — imóvel — ao fortalecimento de Lula e ao fim de uma era que já não encontra eco nas ruas. Política é assim. Tudo pode mudar num piscar de olhos. Agora, o eleitor pode se perguntar: quem vai ocupar o posto deixado por Bolsonaro?  (Especial para O HOJE)

 

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