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segunda-feira, 8 de dezembro de 2025
SE A MODA PEGA, HEIN?

Ficar sem fazer nada vira competição na Coreia do Sul

Na Coreia do Sul eventos conhecidos como a “competição de fazer nada” fazem sucesso!

Bia Salespor Bia Sales em 31 de outubro de 2025
Fazer nada
Competição de não fazer nada ocorre anualmente na Coreia do Sul. (Crédito: Getty Images)

Imagine se sentar num parque, desligado de celular, conversando com ninguém, olhando para o céu ou só… existindo. Agora imagine que essa ação, de “não fazer nada”, vira uma espécie de esporte – e que você está competindo para mantê-se imóvel, silencioso e presente por 90 minutos. Na Coreia do Sul, isso não é mera fantasia: é realidade.

Desde meados da década de 2010, surgiram na Coreia do Sul eventos conhecidos como a “competição de fazer nada” (em inglês, “do nothing competition” ou “space-out competition”), onde os participantes se reúnem para… exatamente isso: não fazer absolutamente nada.

O propósito por trás da iniciativa vai muito além da simples preguiça: trata-se de uma resposta à cultura extrema de produtividade, ao ritmo acelerado da vida moderna sul-coreana e ao estresse constante que muitos enfrentam. Para muitos participantes, essa “competição” serve como um experimento social, uma performance ou até uma forma de protesto silencioso contra a pressão do “sempre fazer”.

Como funciona essa “competição de não fazer nada”

Fazer nada
Neste concurso, ganha quem tiver a frequência cardíaca mais baixa e estável, parâmetro monitorizado pela organização. (Imagem: EPA)

Os eventos normalmente seguem regras bastante simples (mas desafiadoras):

  • Os participantes precisam sentar ou estar numa posição estática, sem se mover ou dormir, pelo período estipulado — geralmente 90 minutos.

  • Telefone/eletrônicos desligados ou fora de alcance; nenhuma atividade de distração permitida.

  • Em algumas versões, monitora-se a frequência cardíaca ou outros sinais de ativação para determinar qual participante ficou mais “estável” ou “quieto”.

  • Quem se mexe, dorme ou tira o celular é desclassificado — o objetivo é, de fato, “apenas estar”.

De quebra, a cena se dá em parques ou espaços públicos, com diversas pessoas lado a lado, enquanto ao redor a vida segue seu ritmo normal: trânsito, passeios, pipas, conversas. Nesse contraste, “os que não fazem nada” se tornam quase uma performance artística, convidando quem observa a refletir: e se parar por 90 minutos fosse o mais produtivo que poderíamos fazer?

Por que isso surgiu? O contexto sul-coreano

A Coreia do Sul é conhecida por um ritmo de trabalho intenso, baixos índices de lazer comparados a outros países desenvolvidos, e uma forte cultura de realização. O “ser produtivo” quase nunca tira férias. Nesse cenário, a competição de “não fazer nada” emerge como uma espécie de antídoto simbólico.

Por exemplo, uma reportagem da revista Vice de 2016 indica que cerca de 70 pessoas se reuniram num domingo à tarde no parque Ichon Hangang, em Seul, apenas para “não fazer nada”.

Segundo uma matéria mais recente, o evento começou em 2014, idealizado pelo artista sul-coreano Woopsyang, que queria questionar a ideia de que descanso ou inatividade é perda de tempo em uma sociedade hipercompetitiva.

O que se ganha (ou se aprende) ao “não fazer nada”?

À primeira vista, parece contraditório: fazer nada em competição? Mas ao aprofundar, há lições. Alguns destaques:

  • Desacelerar para perceber: num mundo onde a mente pula de tarefa em tarefa, sentar sem objetivo aparente pode causar um impacto – maior clareza, menos ansiedade e um tempo para pensar. Uma matéria da National Geographic diz que dar espaço para o cérebro “vago” pode ajudar na criatividade e na calma.

  • Questionar a produtividade constante: quando tudo parece girar em torno de “fazer mais”, existe valor em simplesmente “ser”. A própria ação de transformar o “não fazer nada” em evento é crítica da cultura que exige sempre estar ativo.

  • Comunidade e ritual: embora pareça solitário, há uma reunião física, coletiva, de pessoas que dizem “parei para não fazer nada” — e isso cria um ritual, uma marca de identidade, um espaço de encontro que rompe com a lógica do trabalho.

  • Desafiar o corpo e a mente: 90 minutos imóveis, sem dormir e sem celular exige disciplina — paradoxal para quem está “competindo para não fazer”. Mas a disciplina está justamente em resistir ao impulso de fazer algo.

Reflexão: “Esporte do nada” ou arte da pausa?

Pode-se questionar se essa atividade se qualifica como “esporte” no sentido tradicional – não há corrida, suor, marcador de tempo ou adversário direto. Mas aí está o charme: a competição está dentro de cada participante, com o “adversário” sendo o impulso de se mexer, olhar o celular, falar ou sair. Vencer é permanecer.

É também uma performance social: observar várias pessoas “fazendo nada” em público incomoda, provoca, faz a gente olhar para o que estamos fazendo com nosso tempo. Existe ali uma crítica embutida.

No fim, a “competição de não fazer nada” soterrada no contexto sul-coreano vira um espelho: para quem vive no ritmo acelerado, talvez a maior vitória não seja vencer os outros — é vencer a própria ansiedade de estar sempre fazendo.

Leia mais: Brasil atropela Coreia do Sul por 5 a 0 em amistoso antes da Copa de 2026

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