A música brasileira perdeu uma de suas vozes mais criativas e inspiradoras. O cantor e compositor Lô Borges, um dos fundadores do lendário Clube da Esquina, morreu aos 73 anos, em Belo Horizonte (MG). O artista estava internado desde meados de outubro e teve o quadro de saúde agravado nos últimos dias.

Lô Borges, cujo nome de batismo era Salomão Borges Filho, nasceu em 10 de janeiro de 1952 e foi um dos grandes responsáveis por moldar a sonoridade mineira que conquistou o país nos anos 1970. Sua música criou uma estética poética e melódica que até hoje influencia gerações de artistas brasileiros.

Da esquina para o mundo

A trajetória de Lô Borges é indissociável do Clube da Esquina, movimento cultural e musical que nasceu em Belo Horizonte e teve como expoentes nomes como Milton Nascimento, Beto Guedes, Toninho Horta, Tavito e Fernando Brant. Unidos por amizade, inquietude artística e uma nova forma de fazer música, esses jovens mineiros criaram um som que ultrapassou fronteiras e desafiou classificações.

Aos 20 anos, Lô participou da criação de um dos discos mais importantes da história da MPB: o “Clube da Esquina”, lançado em 1972 em parceria com Milton Nascimento. O álbum duplo se tornou um marco da música brasileira, reunindo canções como “Tudo que Você Podia Ser”, “O Trem Azul” e “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, que se tornaram clássicos atemporais. O disco foi reconhecido internacionalmente como um dos grandes álbuns de todos os tempos, sendo frequentemente comparado a obras de Beatles e Bob Dylan pela ousadia estética e pela profundidade lírica.

Uma carreira marcada por liberdade

Após o sucesso do “Clube da Esquina”, Lô Borges lançou seu primeiro disco solo, conhecido como o “Disco do Tênis”, em referência ao tênis branco que aparece na capa. O álbum, lançado ainda em 1972, é considerado uma obra-prima cult, reverenciada por músicos e colecionadores. Canções como “Você Fica Melhor Assim” e “Canção Postal” revelaram o lado mais intimista e experimental do artista.

Ao longo das décadas seguintes, Lô seguiu compondo, gravando e se apresentando, mantendo sempre uma postura discreta e coerente com seu espírito livre. Trabalhou ao lado de artistas como Milton Nascimento, Samuel Rosa, Lenine, Flávio Venturini, entre outros. Seu último trabalho, lançado em 2023, mostrava a vitalidade de um artista que, mesmo aos 70 anos, continuava inquieto e em constante busca por novas formas de expressão.

Última internação

Lô Borges foi internado no Hospital Unimed, em Belo Horizonte, no dia 18 de outubro. Em nota enviada à Itatiaia, a equipe do artista revelou que ele deu entrada na unidade de saúde por conta de uma “intoxicação medicamentosa” e, na época, foi submetido a exames para um diagnóstico mais preciso.

No quinto dia de internação, a equipe informou à imprensa que Lô tinha apresentado melhora. “Já está melhor do que quando chegou, mas ainda sem previsão de ter alta hospitalar”, comunicou.

Lô Borges deixa um filho, Luca Borges, de 27 anos, cinco irmãos, Márcio, Telo, Marilton, Nico e Yé, e uma legião de fãs e admiradores.

Legado que atravessa gerações

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