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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Economia regional

Goiás entra no mapa global das Terras Raras com investimento bilionário dos Estados Unidos

Financiamento de US$ 465 milhões da DFC reforça a posição da Serra Verde, em Minaçu, e impulsiona a economia goiana na corrida por minerais estratégicos

Letícia Leitepor Letícia Leite em 13 de novembro de 2025
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Única produtora do mercado mundial de terras raras fora da Ásia fica em Goiás. Foto: Divulgação/Serra Verde

Instalada no município de Minaçu, no norte de Goiás, a mineradora Serra Verde Pesquisa e Mineração (SVPM) alcançou em 2024 um marco histórico ao iniciar sua produção comercial de terras raras, tornando-se, oficialmente, a única produtora em escala do mundo fora do continente asiático. A operação, que teve início em sua planta de processamento e mina localizadas na região, já movimenta o setor com estimativas robustas de crescimento e consolida Goiás como novo protagonista na cadeia global de minerais críticos.

Agora, a companhia dá um passo ainda mais decisivo. A Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (DFC), agência de investimento vinculada ao Departamento de Estado norte-americano, aprovou um financiamento de até US$ 465 milhões para a Serra Verde. 

O aporte será utilizado na ampliação da produção da mina Pela Ema, com vida útil estimada em 25 anos, além de cobrir custos operacionais, refinanciamento de dívidas, formação de reservas e despesas associadas à transação.

O financiamento integra a estratégia norte-americana de diversificar as rotas de fornecimento de minerais estratégicos, reduzindo a dependência da China, responsável por mais de 60% da produção mundial e 90% do refino de terras raras, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).

Investimento em Goiás também pode representar um novo fôlego à economia norte-americana

O investimento em Goiás também pode representar um novo fôlego à economia norte-americana, que enfrenta restrições crescentes para atuar no setor chinês. O ex-presidente Donald Trump, criador da DFC em 2019, chegou a ameaçar elevar para 200% as tarifas sobre exportações chinesas, caso Pequim impusesse barreiras às negociações envolvendo minerais estratégicos.

Na contramão dessa tensão, o projeto goiano surge como alternativa segura e ambientalmente responsável para o abastecimento ocidental. A Serra Verde extrai e processa um concentrado com alta proporção de neodímio (Nd), praseodímio (Pr), disprósio (Dy) e térbio (Tb) — quatro elementos magnéticos essenciais para a fabricação de ímãs permanentes, utilizados em carros elétricos, turbinas eólicas, semicondutores, smartphones e equipamentos militares.

Com o investimento, Goiás deve experimentar efeitos diretos na economia regional. O projeto promete gerar centenas de empregos diretos e indiretos, fortalecer cadeias logísticas e de serviços, aumentar a arrecadação local e atrair novas empresas da cadeia de transformação mineral, ampliando a industrialização e o desenvolvimento tecnológico do Estado.

A Serra Verde, que conta com o apoio de fundos internacionais como Denham Capital, Vision Blue Resources e Energy and Minerals Group, projeta aumentar sua produção anual para entre 4.800 e 6.500 toneladas métricas até 2027. Atualmente, os óxidos são exportados para processamento no exterior, mas há planos de verticalização da cadeia produtiva no Brasil, com o objetivo de agregar valor e fortalecer o setor de alta tecnologia nacional.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o interesse norte-americano nos minerais críticos e estratégicos brasileiros (MCEs) reforça a importância do País na transição energética global.

A extração na mina Pela Ema também chama atenção pelo baixo impacto ambiental. O depósito de argila iônica permite processos de lavra e beneficiamento com menor consumo de água e energia, reduzindo significativamente resíduos e danos ao solo, um diferencial que aproxima o projeto dos padrões internacionais de sustentabilidade.

A Serra Verde informou que o financiamento “ainda está passando por etapas e revisões antes de ser encerrado”, mas é importante reforçar que a iniciativa representa um avanço importante na consolidação de uma cadeia de fornecimento diversificada e sustentável de terras raras no País.

O Brasil possui a segunda maior reserva de terras raras do mundo, atrás apenas da China, de acordo com o USGS. Com a ampliação do projeto goiano, o País se aproxima de uma nova fase de protagonismo global, com Goiás na linha de frente da produção de insumos estratégicos para a economia verde e digital.

Mais do que um marco para a mineração, o investimento da DFC simboliza um reposicionamento geopolítico do Brasil e um salto de desenvolvimento para o Estado goiano, que passa a integrar de forma definitiva o mapa das potências responsáveis pelo futuro energético e tecnológico do planeta.

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