Goianos focam no pagamento de dívidas e 13º deve “sumir” antes do Natal chegar
Com mais de 353 mil consumidores endividados e 81% dos trabalhadores de olho no benefício para reorganizar as contas
A proximidade do pagamento do 13º salário reacendeu o debate sobre o endividamento das famílias e o impacto direto no comércio goiano. Uma pesquisa nacional da Serasa, realizada em parceria com o Opinion Box, revela que 4 em cada 10 brasileiros pretendem usar o benefício para quitar dívidas, número que cresceu oito pontos percentuais em relação a 2024.
Em Goiás, onde mais de 353 mil consumidores têm dívidas negociáveis junto ao Serasa , a tendência segue o mesmo rumo: antes de comprar, o goiano quer sair do sufoco financeiro.
Segundo o levantamento, 81% dos trabalhadores devem utilizar total ou parcialmente o 13º salário. Destes, 39% querem quitar dívidas, 19% pagar contas básicas e 18% limpar o nome.
Para a diretora da Serasa, Aline Maciel, este é um momento decisivo. “Com milhões de ofertas disponíveis, esta é uma oportunidade concreta para quem deseja usar o 13º salário de forma estratégica e iniciar 2026 com mais tranquilidade financeira”, afirma.
Ela reforça que 74% dos entrevistados enxergam o pagamento como chance real de reorganizar o orçamento. “Receber o benefício é uma oportunidade importante, mas precisa ser usado com consciência.”
Em Goiás, o cenário confirma a urgência. Somente nesta edição do Feirão Limpa Nome, o Estado já registrou mais de 52 mil negociações, sendo quase 19 mil dívidas quitadas por até R$ 100. O dado evidencia o grau de comprometimento financeiro do consumidor goiano e explica por que grande parte do 13º deve “desaparecer” antes mesmo do Natal. Além disso, o Estado concentra 1,6 milhão de dívidas renegociáveis, indicando que grande parte da população permanece pressionada por contas atrasadas.
Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas-Go) José Reginaldo Garcia. “Goiás é um dos maiores Estados consumidores do Brasil, no âmbito do comércio varejista. E, assim como a gente tem visto em todo o País, o nosso Estado também enfrenta uma situação de altos índices de inadimplência.”
Apesar do alto número de inadimplentes, o presidente acredita que esse número deve abaixar pois grande parte dos goianos usaram o valor recebido para quitar dívidas. “Nós acreditamos que uma parcela considerável dos trabalhadores que têm contas em atraso deve aproveitar esse recurso extra do 13º salário para colocar a vida financeira em dia, mas, é claro, há a expectativa de que grande parte dos consumidores investirá o 13º nas compras de Natal, tanto de presentes quanto de produtos para a ceia da família.”
Apesar do foco no pagamento de dívidas, há impacto significativo na economia goiana. O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) projeta que o 13º deve injetar R$ 33 bilhões na economia de Goiás e dos demais Estados do Centro-Oeste. O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Goiás (FCDL-Goiás), Valdir Ribeiro, reforça que o valor movimenta setores essenciais.
Especialista mantém expectativa de injeção do 13º no comércio goiano
“É um alto volume extra de dinheiro circulando na economia e sendo um recurso a mais para o consumidor aplicar na compra de produtos e serviços”, afirma. Segundo ele, mesmo quando parte do benefício é direcionada ao pagamento de dívidas, outra parcela sustenta o faturamento das empresas. “Isso ajuda as empresas a reforçarem o caixa para obrigações de fim e início de ano.”
No entanto, à medida que mais consumidores priorizam o pagamento de débitos, setores tradicionais de forte desempenho em novembro e dezembro já projetam um fim de ano mais moderado.
Varejo, shopping centers, serviços e o comércio popular, especialmente Campinas e Região da 44 devem sentir os efeitos. Embora o fluxo de pessoas aumente com a chegada das festas, a conversão em vendas tende a ser menor. Segmentos como vestuário, calçados, brinquedos e eletroportáteis, que dependem fortemente do 13º, podem registrar crescimento aquém do esperado.
Ainda assim, alguns nichos mantêm o otimismo. No setor de estética automotiva, que enfrentou um 2025 de estagnação, o consultor e empresário goiano Rafael Gonçalves aposta na retomada.
“Estamos apostando as nossas fichas nesse volume maior de recursos injetados no varejo e no atacado agora em novembro e dezembro. A perspectiva é de superar essa estagnação fazendo boas vendas neste fim de ano”, afirma.
Para ele, mesmo que parte da população priorize dívidas, serviços considerados de manutenção ou valorização do bem, como a estética automotiva, tendem a receber parte do consumo residual.
Economistas explicam que o movimento atual representa uma reorganização de prioridades. Em vez de compras por impulso, o consumidor está buscando estabilidade. Isso reduz o risco de novos calotes e, ao mesmo tempo, adia o impulso tradicional das vendas de fim de ano.
Contudo, o reequilíbrio financeiro deve gerar impacto mais positivo a médio prazo: sem dívidas, o consumidor volta ao mercado com mais segurança.
Até domingo, 30 de novembro, último dia do Feirão Serasa Limpa Nome, a expectativa é de que mais goianos aproveitem os descontos que chegam a 99% para limpar o nome antes de 2026.
Como lembra Aline Maciel, o momento exige responsabilidade: “Com um bom planejamento, o consumidor transforma o 13º em uma ferramenta real de alívio e não em um impulso de gasto.”
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