Como aliança nacional entre PSD e PL pode embaralhar xadrez político em Goiás
Movimentação de Kassab e Bolsonaro abre incertezas sobre 2026 no Estado; lideranças do PSD defendem manutenção do apoio a Caiado e Daniel, mas reconhecem que candidatura de Tarcísio ou Ratinho Jr pode mudar cenário
Bruno Goulart
Corre nos bastidores que o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, estuda uma composição com o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro caso o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), migre para o Partido Liberal para disputar a Presidência da República. Como o vice paulista, Felício Ramuth, é do PSD, a sigla assumiria o comando do maior Estado do País e chegaria fortalecida à eleição nacional. Se Tarcísio não embarcar no projeto, tem a opção B: outro nome do PSD, o do governador do Paraná, Ratinho Jr., entraria na disputa presidencial.
Neste cenário, surge a pergunta inevitável: o PSD em Goiás, dirigido pelo senador Vanderlan Cardoso, conseguiria manter apoio ao projeto presidencial do governador Ronaldo Caiado (UB) e à pré-campanha estadual de seu vice, Daniel Vilela (MDB), caso o partido nacionalmente marche com o PL de Bolsonaro? Para muitos, essa equação é difícil justamente pelo fato de o partido do ex-presidente ter pré-candidato ao Palácio das Esmeraldas, o presidente estadual da sigla, senador Wilder Morais.
O que dizem lideranças do PSD em Goiás
O ex-presidente e fundador do PSD em Goiás, Vilmar Rocha, diz que o movimento nacional teria impacto direto no Estado. O ex-deputado federal lembra que Kassab já sinalizou que, se Tarcísio for candidato a presidente da República, o apoio ao governador de São Paulo será a prioridade nacional da sigla. Caso contrário, Ratinho Jr. deve ser o nome na corrida ao Palácio do Planalto.
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“Se isso ocorrer, terá desdobramentos em Goiás. Já disse ao governador Caiado que estou com ele como candidato a presidente. É bom para Goiás ter um candidato. Mas, se de fato Tarcísio for candidato, vai convergir a centro-direita para ele. Assim, fica complicada a candidatura do governador”, avaliou Vilmar ao O HOJE.
Já o deputado federal Ismael Alexandrino (PSD) aposta em um caminho diferente. Para o parlamentar, Kassab costuma respeitar as dinâmicas locais, mesmo quando as alianças nacionais caminham para outra direção. “Dificilmente um fechamento em São Paulo atrapalharia a composição em Goiás. Permaneço no PSD e não estou aflito quanto a mudanças em 2026. Nosso foco é formar uma boa chapa de federal e estadual por aqui”, disse Ismael.
Quem também observa o processo com cautela é Gustavo Mendanha, ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, hoje filiado ao PSD. Mendanha afirma que sua única preocupação é que o partido caminhe com Daniel Vilela. “Condicionei minha ida ao partido para estar com Caiado e Daniel. Independente do partido, estarei com eles. Se o Kassab não vier este ano, vou em janeiro me encontrar com ele e entender os rumos do partido.”
Como o PL entra na conta?
Além dos movimentos do PSD, o PL de Goiás também vive seu próprio impasse. Nos bastidores, há quem não veja com confiança a possibilidade de o senador Wilder Morais disputar de fato o Governo do Estado. Avalia-se que Wilder está confortável no Senado, não apresenta um projeto claro para Goiás e depende fortemente das decisões de Bolsonaro.
A prioridade do ex-presidente, porém, não seria Wilder. Bolsonaro teria como objetivo central levar o deputado federal Gustavo Gayer ao Senado por considerá-lo mais competitivo e alinhado ideologicamente. O cálculo é simples: se for preciso fazer composição com Caiado para garantir Gayer, Bolsonaro toparia colocar o partido na chapa de Daniel Vilela. Essa equação pressiona o PSD goiano.
Se a legenda presidida por Kassab firmar aliança com o ex-presidente e o PL resolver compor com Caiado em Goiás, o espaço político ficaria estreito e poderia obrigar o PSD a reconstruir suas alianças no Estado. Mas essa dúvida só deve ganhar uma resposta definitiva no momento das convenções partidárias, em agosto de 2026. (Especial para O HOJE)