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quinta-feira, 11 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Bolsonaro, o Arrascaeta da política, tira de aliados 2 mil anos de pena

Jair Bolsonaro, da solitária em que cumpre pena, que agora será reduzida graças a sua articulação com o filho senador, virou a Mesa Diretora da qual foi arrancado na marra um deputado do PSol do Rio marido de deputada do PSol de São Paulo e filho de ex-prefeita do PL  

Nilson Gomespor Nilson Gomes em 11 de dezembro de 2025
Bolsonaro
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ABr

Antes de alcançar a Presidência da República, Jair Bolsonaro morava num condomínio no Rio de Janeiro. Bastaria sair andando pela praia para chegar ao Flamengo, mas nasceu em Glicério (SP) e torce para o Palmeiras, apesar de sua vestimenta preferida ser camisa de time, qualquer time, de qualquer lugar. Desde que foi preso, viu seu clube perder para o rival a Taça Libertadores e o Campeonato Brasileiro, mas nos últimos dias mostrou ser craque na política como o uruguaio Giorgian de Arrascaeta está se apresentando no Intercontinental – um gênio em sua área de atuação. O jogador fez dois gols poucas horas depois de Bolsonaro tirar mais de 2 mil anos de pena a que seus companheiros haviam sido condenados.

Jair foi para uma sala da Polícia Federal, em Brasília, começar a cumprir pena e viu acontecer o que temia: começava a ficar fora do panorama. Chamou lá no cárcere o filho senador, Flávio (PL-RJ), e deu ordens para se lançar ao cargo de Lula. Pronto!, saiu do banco de reservas do Íbis direto para um dos 11 de Filipe Luís em Doha, no Catar. Foi a senha para voltar ao centro dos debates mesmo estando preso – é provável que, numa conta modesta, consiga reduzir condenações, já com trânsito em julgado (ou seja, não mais cabia qualquer recurso), de seus antigos auxiliares, dos fãs que foram à Praça dos Três Poderes relembrar dos tempos em que estava no Palácio do Planalto. E a própria, é claro.

Mulher de Braga também é deputada, também é do Psol, mas mãe prefeita foi do PL

Até às 4 horas da madrugada de 10 de dezembro, eram os deputados da direita que se revoltavam no Congresso Nacional. Poucas horas antes, foi um típico parlamentar do PSol, Glauber Braga (RJ), cuja mãe teve dois mandatos à frente de Nova Friburgo e cuja mulher é Sâmia Bonfim, deputada federal psolista por São Paulo. Braga quis se mostrar bom de briga, como quando espancou um manifestante dentro da Câmara e está sendo cassado por isso, mas foi arrastado pelos seguranças. Jair Bolsonaro, do cárcere, virou a mesa invadida por Braga. Até o clima no Distrito Federal mudou, chovendo muito, inclusive esperança sobre os bolsonaristas.

Tempestade braba caiu foi sobre Glauber Braga, um dos maiores críticos da família Bolsonaro, que nem pode praguejar os filiados do PL, pois sua mãe, Saudade Braga, foi filiada ao partido por 10 anos. O que enraiveceu Braga nem foi tanto a perda do mandato, que se avizinha, mas a união de seus colegas em torno da redução de penas dos envolvidos no 8 de Janeiro. Claro, efeito da atitude de Bolsonaro em lançar Flávio à presidência.

Sem licença, vá à luta

Como publicada na quarta-feira (10) em O HOJE, a maré estava baixa para a direita. Jair Bolsonaro preso numa solitária, recebendo visitas apenas de quem as autoridades permitem, sem poder fazer política, sua paixão prática há 40 anos. Flávio também estava vendo a queda dos índices para reeleição no Rio e o governador seu aliado, Cláudio Castro (PL), sob risco de perder o mandato depois do sucesso da Operação Contenção, que na fase 1 matou 117 bandidos do Comando Vermelho. Até por ser impossível atualmente, mas quando estava solto também não o fazia, Bolsonaro não consultou o partido, não reuniu diretório, não conversou com a bancada nem ouviu eventuais siglas aliadas – mandou seu primogênito à luta e espalhar que seu preço seria a liberdade do pai e a da companheirada.

A maioria acha que a vitória da dupla Flávio/Jair veio rápida, porém, atrasou um dia. A tacada inicial era sair do jogo apenas se os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), se comprometessem a votar a anistia ampla, geral e irrestrita. Ou seja, ninguém pagar nada e o pai cumprir o mesmo roteiro de Lula, direto do cárcere para os palanques. Diversas reuniões depois, virtuais e presenciais, Flávio foi convencido a levar ou mandar ao pai a notícia de que, pela teoria dos jogos, seria necessário se fortalecer só o tanto que os adversários se enfraqueceriam. Jair topou e o filho senador fechou o acordo que saiu na madrugada fria de Brasília, enquanto jornalistas ainda colocavam bandeide nos ferimentos e os petistas buscavam cicatrizar o orgulho.

Preço foi pago, agora, Tarcísio volta e a campanha segue 

Ninguém sabe ainda como vai ser a conta feita pelo ministro Alexandre de Moraes quando o PL da Dosimetria, que a essa altura já vai ser lei e ter número. O que ninguém duvida é que o Supremo Tribunal Federal fez parte dos esforços para pacificar um pouco a radical polarização da política brasileira. Quando o senador Flávio Bolsonaro disse que haveria um preço para sua renúncia a ser candidato à Presidência da República, estava implícito que não eram emendas ou cargos, mas amainar o sofrimento dos que cumprem pena por amor a seu pai. Tudo lindo, tudo maravilhoso, porém chegou a hora de resgatar a apólice, porque o preço já foi pago e a pré-campanha não pode parar.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, mostrou-se fiel até demais à família Bolsonaro. Assim como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. A reação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também foi automática e surpreendente, como haviam sido as de seus enteados nas vésperas. Quando Flávio anunciou que seu pai o havia escolhido, esses personagens não discutiram, aceitaram. Dos pré-candidatos da direita, agora novamente sem Flávio, todos são governadores e o mais ligado a Jair Bolsonaro é Tarcísio.

Nas manhãs chuvosas de Brasília, com umidade relativa do ar superior a 80%, o Sol se abre para a direita quando se propaga que Lula vai ter adversário capaz de vencê-lo. Os bolsonaristas mais fanáticos sonham com o próprio Jair candidato ainda em 2026. Outros, menos radicais um pouco, preferem qualquer um, desde que tenha o sobrenome Bolsonaro. E tem o pessoal que entende o jogo de Brasília, mais difícil que o de Arrascaeta no outro lado do mundo. Esses realistas querem alguém que vai ganhar, se a direita não tiver um, eles nem mudam de sorriso antes de mudarem de lado.

Num cenário sem paixões exacerbadas, Tarcísio sequer precisa sair do Republicanos para o PL se sentir abraçado. O propósito dos bolsonaristas não é agradar a partido, é tirar da cadeira o presidente Lula. Assim, o governador de São Paulo pegaria de vice quem mais agregar, não quem mais agradar, medido em pesquisas. Pode ser Ronaldo Caiado? Sim, todos querem, com uma ressalva: todos, menos o próprio Caiado. Pode ser alguém do Nordeste? Sim, desde que não seja o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), pois se for ele não contem com Caiado nem no 2º turno, caso ele não esteja. 

 

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