Por que Caiado está no comando da escolha do vice de Daniel
Mais do que um nome para equilibrar a chapa de 2026, escolha envolve sucessão do poder em Goiás e planos de longo prazo do governador
Bruno Goulart
A disputa pela vaga de vice-governador na chapa liderada pelo vice-governador Daniel Vilela (MDB) ganhou centralidade no tabuleiro político goiano. Isso ocorre porque a definição não passa apenas por critérios eleitorais, mas por um cálculo estratégico de longo prazo comandado diretamente pelo governador Ronaldo Caiado (UB). Na prática, quem ocupar esse espaço hoje pode se tornar governador em um cenário considerado provável pelos aliados: a eleição de Daniel em 2026 e sua consequente impossibilidade de disputar a reeleição em 2030.
É nesse ponto que Caiado se torna decisivo. Segundo análise do cientista político Lehninger Mota, ao O HOJE, o governador busca um aliado de “primeira hora”, alguém cuja lealdade seja inquestionável. A razão é simples e, ao mesmo tempo, profunda: o vice de Daniel, se a chapa vencer, tende a assumir o governo e, mais adiante, terá papel determinante na sustentação de um eventual retorno de Caiado ao Palácio das Esmeraldas ou no fortalecimento de um nome indicado pelo governador, como o da primeira-dama Gracinha Caiado.
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Nesse contexto, a escolha do vice deixa de ser um gesto de acomodação política e passa a ser um movimento de preservação de poder. Caiado opera com a lógica de continuidade. Caso se lance candidato à presidência em 2026 e não obtenha êxito, ainda assim mantém o horizonte de 2030 no radar. Para isso, precisa garantir que o comando do Estado esteja alinhado aos seus interesses e compromissos políticos.
Nomes para vice de Daniel
É por essa razão que o governador tem reiterado, em discursos e conversas reservadas, a noção de “hierarquia da política”. O conceito, que ganhou força nas últimas semanas, reforça a ideia de que a palavra final sobre a composição da chapa cabe a Caiado. Esse posicionamento, longe de ser retórico, teve efeitos práticos: recolocou o secretário-geral de Governo, Adriano da Rocha Lima, no centro das apostas.
Adriano reúne características que, sob a ótica de Caiado, são valiosas. Trata-se de um gestor técnico, com perfil administrativo e pouca vocação eleitoral própria. Para Lehninger Mota, exatamente por isso o secretário poderia cumprir o papel ideal de um governador de transição: alguém focado na gestão, sem projeto pessoal de reeleição e disposto a devolver o apoio político a quem o alçou ao cargo. A relação de proximidade e confiança com Caiado reforça essa leitura.
Apesar de aparecer com força nos bastidores, Adriano mantém discurso de discrição. Afirma ter tratado do tema apenas uma vez com o governador, ao colocar-se à disposição do projeto, sem articular apoios. A postura, longe de enfraquecê-lo, é vista por aliados como coerente com o perfil que Caiado costuma valorizar: disciplina política e respeito à condução do líder.
Ao mesmo tempo, outros nomes disputam espaço. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, surge como representante do agronegócio e do conservadorismo, com intensa movimentação política e partidária. Embora negue articulações formais, amplia sua presença no interior e dialoga com siglas como PSD, Republicanos e Novo, na busca por capilaridade e musculatura eleitoral.
Já o ex-senador Luiz Carlos do Carmo (Podemos) trabalha para se consolidar como voz do segmento evangélico. Aliado histórico de Caiado, Luiz Carlos ressalta a lealdade demonstrada em momentos decisivos e sinaliza abertura para apoiar um eventual retorno do governador ao Executivo estadual no futuro. Sua candidatura agrega identidade religiosa e fidelidade política, dois ativos relevantes no cálculo do governador.
Mesmo com a diversidade de perfis, a lógica central permanece: a decisão passa menos pelo equilíbrio de forças sociais e mais pela confiança pessoal. Caiado avalia quem, no comando do Estado, será capaz de sustentar seu grupo político e seus projetos para além de 2026. É por isso que a definição ocorre com cautela, sem pressa e sob controle direto do governador. (Especial para O HOJE)