Crédito de R$ 707 mi trará alívio a produtores de leite, mas é solução paliativa
Para o Sistema OCB/GO, a linha de crédito emergencial deve trazer alívio para o setor leiteiro, mas a solução é temporária e carece de políticas de longo prazo
Na última segunda-feira (22), o Ministério da Fazenda publicou uma portaria em que remaneja R$ 707 milhões do Plano Safra 2023/24 para a criação de uma linha de crédito especial destinada às cooperativas de produtores de leite.
Chamada de Programa de Capitalização de Cooperativas Agropecuárias (Procap-Agro Giro) Faixa 2, a linha emergencial tem como objetivo socorrer os produtores afetados pelo baixo preço do leite. Até 30 de junho, eles poderão contrair empréstimos de 8% ao ano e 60 parcelas, com carência de 24 meses para o pagamento da primeira.
A criação da linha de crédito foi aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em dezembro e será operada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com disponibilidade de R$ 507,4 milhões para emprestar, e o Banco do Brasil (BB), com R$ 200 milhões.
Na avaliação do presidente do Sistema OCB/GO, Luís Alberto Pereira, a linha de crédito emergencial deve trazer alívio para o setor leiteiro, que enfrenta dificuldades financeiras com as quedas dos preços. “Sem dúvida, será um crédito importante para ajudar muitas cooperativas de leite que, há muitos anos, enfrentam sérias dificuldades, especialmente pelas oscilações de preços no mercado e pela concorrência com a importação de leite”, avalia.
Segundo a direção do Sistema OCB/GO, o Brasil atualmente importa 10% do consumo nacional de leite, contra a média tradicional de 3% a 5%. A produção anual de leite no Brasil é estimada em 35 bilhões de litros, sendo uma atividade conduzida predominantemente por pequenos e médios produtores rurais, conforme o Censo Agropecuário de 2017.
Apesar de comemorar a linha de crédito emergencial para o setor, Luís Alberto Pereira ressalta que os impactos da medida serão paliativos, sendo necessária a formulação, em nível nacional, de políticas de longo prazo para socorrer a cadeia produtiva. Contudo, afirma que, no cooperativismo, algumas medidas já estão sendo tomadas. Em dezembro do ano passado, na sede da OCB/GO, foram debatidas mais de 50 soluções para o segmento.
Uma delas é a parceria com o Sebrae para implantar um programa de estímulo ao melhoramento genético do rebanho dos cooperados produtores de leite. “Vamos oferecer apoio técnico para que as cooperativas possam aprimorar o sistema de produção do leite, desde a criação dos animais até a industrialização e comercialização de produtos”, explica Luís Alberto.
Setor em crise
Como mostrado por reportagem do O HOJE em 7 de janeiro, o preço do leite vendido pelos produtores goianos tem caído mês a mês desde julho de 2022. Na ocasião, a média aferida pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-USP) foi de R$ 3,71. Um ano depois, em julho de 2023, o preço recebido pelo litro de leite já tinha caído para R$ 2,57. Já no último mês, em dezembro de 2023, o valor já estava em R$ 1,98 por litro.
A redução dos preços representa uma queda de 46,6% do valor do leite pago aos produtores goianos em pouco menos de um ano e meio. Segundo produtores consultados pela reportagem, o panorama é dramático e indicativo de uma crise que se arrasta há décadas, especialmente para os produtores de pequeno e médio porte.
Um dos principais motivos apontados pelos produtores é o aumento das importações de lácteos, principalmente da Argentina. Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), o prejuízo pode ter atingido mais de um milhão de criadores da pecuária bovina no estado, pressionando o aumento do abate de vacas para compensar a demanda da carne.