Pesquisas eleitorais são fundamentais para desenvolvimento de estratégias, diz especialista
“Forma mais segura e científica de fazer com que os candidatos se ajustem às expectativas da população eleitoral”
Criticadas por alguns segmentos, mas amplamente difundidas em diferentes momentos, as pesquisas eleitorais são as mais diversas e ocorrem pelos mais variados institutos. O instrumento é feito com regras e ciência e tem seus intuitos. Além disso, é de suma importância, especialmente, para os pré-candidatos e candidatos de um pleito.
Luiz Signates é doutor em Ciências da Comunicação e especialista em Políticas Públicas. Com amplo conhecimento sobre o tema (atuado nele, inclusive), ele explica que as pesquisas eleitorais servem para um conhecimento realista do eleitorado, fundamental para o desenvolvimento de estratégias de campanha.
“As quantitativas, de intenção de voto, para mensurar uma antecipação dos resultados e obter alguns indicadores de aprovação e rejeição; e as qualitativas, para verificar o humor do eleitorado, em relação aos candidatos, e as principais demandas, contribuindo, assim, para ajustar o discurso e os compromissos da candidatura”, enumera. “As pesquisas são, portanto, a forma mais segura e científica de fazer com que os candidatos se ajustem às expectativas da população eleitoral.”
O professor também discorre sobre a importância da ferramenta, mesmo em tempos distantes das eleições. É preciso dizer, já saíram, até mesmo, levantamentos sobre o pleito de 2026, quando ocorrerá uma nova corrida pelo Palácio do Planalto.
“Pesquisar sempre é importante, porque, diante de um projeto sério e dispendioso, como é uma proposição de candidatura em eleições de um País do tamanho do Brasil, saber é melhor do que não saber. Ainda que a pesquisa indique que não é preciso fazer nada, que é mais proveitoso deixar as coisas como estão – o que, aliás, dificilmente acontece”, elabora.
Para ele, a distância temporal da data das eleições só interfere na qualidade e na utilidade de cada tipo de pesquisa. Muito distantes do pleito, as pesquisas quantitativas são menos úteis e menos confiáveis, pois, fora do contexto eleitoral, quando não há candidaturas, nem propaganda eleitoral, nem gente assediando os eleitores pedindo voto, o que se pergunta ao eleitor é uma ficção: “Em quem ele votaria se a eleição fosse hoje?”, cita.
“Ora, se a eleição não é hoje, se não há candidaturas explicitadas, se o eleitor não estiver informado do que esteja acontecendo nos bastidores e, sobretudo, se ele é o tipo de eleitor que nem aprecia a política como assunto, esse entrevistado irá responder o que ele sabe, isto é, quem ele conhece, e não obrigatoriamente em quem ele votaria”, argumenta. Desta forma, Signates aponta que nesses casos, o levantamento é de popularidade e não mede, de fato, o voto. Ainda assim, reforça que é indispensável dentro do processo eleitoral e, quanto mais perto for a eleição, mais importante ela se torna.
Em relação as qualitativas, estas seguem para outro lado, conforme o especialista. Estas, segundo ele, sondam os desejos e sentimentos do eleitorado, e servem para a estruturação de compromissos e discursos, para o posicionamento de imagem dos candidatos e das gestões governamentais. Para ele, isso as torna muito úteis quando as eleições estão distantes, pois orientam aquilo que é possível mudar no ânimo do eleitorado. “Faz-se pesquisas qualitativas até a um mês do pleito. Depois, ela começa a perder finalidade, pois às vésperas do pleito já não há mais possibilidade de interferir tanto no sentimento do eleitor, para fazê-lo mudar o voto.” De acordo com ele, as candidaturas profissionalizadas pesquisam o tempo todo para errarem o menos possível e ampliar ao máximo as chances de vitória.
Impactos
“Estar na frente ou estar atrás, em uma refrega eleitoral, é uma questão de circunstância”, ressalta Signates. “A pesquisa, se for bem feita, beneficiará sempre quem a fizer e, caso as candidaturas adversárias não se abasteçam com esse tipo de informação ou, mais grave ainda, a obtenham de fontes não confiáveis, isso aumenta as chances de quem trabalha com pesquisa boa.”
O professor revela que já viu resultados de pesquisas que ele fez, bem aproveitados, mudarem o curso de processos eleitorais e, em alguns casos, reverterem derrotas tidas como certas. O impacto de pesquisas nos processos eleitorais, ele reitera, está justamente naquilo que a informação segura pode trazer às estratégias eleitorais: redução das chances de insucesso.
Questionado sobre como reconhecer uma pesquisa idônea, ele cita que se trata de uma atividade altamente especializada. Ou seja, não é qualquer um que sabe e pode fazer. “Pesquisas qualitativas devem ser feitas por pessoas com alta formação, preferencialmente com formação científica em nível de doutorado. Especialistas e mestres podem ser bons entrevistadores ou mediadores, mas a alta formação é indispensável, sobretudo nos procedimentos de análise, dificílimos de serem corretamente feitos e, se errados, podem resultar em consequências gravíssimas para a orientação da campanha.”
Já as quantitativas não exigem tanta formação, mas devem ser orientadas por profissionais que dominem, no mínimo, o conhecimento de fatores socioeconômicos da população e de princípios fundamentais da estatística aplicada. Para ele, sem uma adequada distribuição amostral (saber a quem entrevistar, dentro da população pesquisada), sem a aplicação correta dos questionários e sem o devido tratamento estatístico dos dados, os resultados podem ser falsos.
Assim, as pessoas leigas devem verificar a formação intelectual, o conhecimento metodológico e a experiência dos coordenadores dos institutos, antes de contratá-los. Trata-se de uma atividade que parece fácil, mas não é, e que, por ser originária do meio científico, demanda critérios de alta formação acadêmica, para que se possa assegurar os resultados”, arremata.