Britânicos decidem sair da União Europeia
Com 52% dos votos favoráveis, Reino Unido vai deixar o bloco; Insatisfeito, primeiro-ministro anuncia saída
Com 52% dos votos a favor, o Reino Unido decidiu deixar a União Europeia (UE) após 43 anos de participação. O resultado do referendo realizado na última quinta-feira foi divulgado nas primeiras horas da manhã de ontem.
Em declaração ao país, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou a sua demissão. Ele deve deixar o cargo em outubro. Cameron sempre se posicionou favoravelmente à permanência do Reino Unido na UE e, durante os meses que antecederam o referendo, afirmou que o Brexit – união das palavras Britain (Grã-Bretanha) e exit (saída, em inglês) – poderia trazer graves consequências econômicas para o país.
“O povo britânico votou para deixar a União Europeia, e sua vontade deve ser respeitada. A vontade do povo britânico é uma instrução que deve ser entregue. Será necessária uma liderança forte e empenhada”, disse David Cameron, ressaltando que outra pessoa deve liderar o processo de transição.
A taxa de participação no referendo foi de 71,8%, a maior em votações no Reino Unido desde 1992.
A Inglaterra e País de Gales votaram fortemente a favor da saída, enquanto cidadãos da Escócia e da Irlanda do Norte optaram pela permanência no bloco. Em Londres, 60% dos votos foram pela permanência na UE. No entanto, em todas as outras regiões da Inglaterra, a maioria votou pela saída.
O Reino Unido é o primeiro país a sair da União Europeia desde a sua criação, mas a decisão não significa que ele deixará imediatamente de ser membro da UE. Esse processo pode demorar dois anos, de acordo com o Tratado de Lisboa.
“Os tratados deixam de ser aplicáveis ao Estado em causa a partir da data de entrada em vigor do acordo de saída ou, na falta deste, dois anos após a notificação, a menos que o Conselho Europeu, com o acordo do Estado-Membro em causa, decida, por unanimidade, prorrogar esse prazo”, diz o Artigo 50 do Tratado de Lisboa.
Após o resultado do referendo, a libra caiu para o nível mais baixo em relação ao dólar desde 1985. Em declaração ontem de manhã, Mark Carney, o governador do Banco da Inglaterra, prometeu a liquidez necessária às instituições para que a crise política que começa agora, com a saída de David Cameron, não se torne uma crise financeira. Carney garante que há 250 bilhões de libras em fundos para assegurar o funcionamento dos mercados.
Saída rápida
Os líderes da União Europeia estão prestes a iniciar negociações sobre a saída do Reino Unido da união muito em breve, indica um comunicado conjunto do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk; do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker; e do presidente atual do Conselho da UE, o premiê holandês Mark Rutte.
“Estamos prestes a iniciar negociações com a Grã-Bretanha sobre as condições da sua saída da União Europeia”, declararam os líderes das instituições europeias.
O chanceler francês disse que é preciso fazer tudo de modo rápido. “Não deve haver qualquer incerteza. É preciso que o governo britânico informe sobre a decisão oficial do povo britânico para que comecemos a implementar [as cláusulas] deste artigo [do Tratado de Maastricht]. [É necessário] para a unidade e estabilidade da Europa e do Reino Unido. É urgente, não convém perder tempo”, disse Ayrault aos jornalistas antes da reunião de ministros da UE em Luxemburgo.
Por sua vez, o presidente da França, François Hollande, disse que lamenta os resultados do referendo britânico. “O Reino Unido não será mais parte da UE. Os procedimentos previstos pelo tratado serão realizados de forma rápida. As regras são estas, as consequências são estas”, afirmou Hollande, em pronunciamento na televisão.
Na quinta-feira, o Reino Unido fez um referendo sobre a permanência do país na União Europeia. (AG)
Escócia estuda independência
Nicola Sturgeon, líder do Partido Nacional Escocês, afirmou ontem que a hipótese de um segundo referendo sobre a independência da Escócia é “altamente provável”.
Ao contrário da Inglaterra e do País de Gales, a Escócia votou majoritariamente a favor da permanência do Reino Unido na UE, com 62% dos votos. O governo, que é autônomo, considera que, com a decisão, o país será retirado à força do Bloco.
“Como primeira-ministra da Escócia, tenho o dever de responder não apenas ao resultado em todo o Reino Unido, mas também, e em particular, à decisão democrática tomada pelo povo da Escócia. Como as coisas estão, a Escócia enfrenta a perspectiva de ser levada para fora da UE contra sua vontade. Considero isso democraticamente inaceitável”, disse Nicola Sturgeon.
Em setembro de 2014, a Escócia votou em um referendo sobre a independência da região. (AB)