Polícia conclui que atentado que vitimou Zé Gomes não teve motivação política
O atirador, Gilberto do Amaral, agiu sozinho durante surto psicótico
Venceslau Pimentel
As investigações da Polícia Civil chegaram à conclusão de que o atentado que vitimou o ex-candidato a prefeito de Itumbiara (PTB), Zé Gomes (PTB) e o cabo da PM Vanilson João Pereira, e deixou feridos o vice-governador e secretário de Segurança Pública, José Eliton (PSDB) e o ex-secretário de comunicação de Itumbiara, Célio Rezende, não teve motivação política.
O relatório divulgado ontem, pela Operação Paranaíba, no Fórum da cidade, apontou como motivação um surto psicótico etílico de perseguição por parte do atirado Gilberto Ferreira Amaral, que é servidor público da prefeitura local. Uma suposta motivação política foi a primeira suspeita lançada pela polícia, após o atentado.
De acordo com a polícia, no dia do crime, ocorrido às vésperas do primeiro turno, Rocha agiu sozinho, e que não havia rixa com o Zé Gomes, por conta de disputa de terras, nem agressão ou perseguição, como chegou a ser ventilado na ocasião.
Em entrevista à imprensa, o delegado Douglas Pedrosa, responsável pela operação, disse acreditar que o atirador se sentia perseguido, mesmo sem ter motivo aparente. “Ele era uma pessoa conturbada e de caráter duvidoso, que cometeu um ato de barbárie contra pessoas de bem”, avaliou. “As provas que nós coletamos durante o período de investigação nos apontam para este desfecho”, pontuou.
As investigações mostraram que o atirador fazia uso do medicamento Anfepramona, utilizado para emagrecimento desde 2004, e o misturava com álcool. O efeito da combinação teria levado Gilberto a ouvir vozes, e o surto, aliado a circunstâncias variadas, também o teria motivado a cometer os crimes, apontou Pedrosa.
De acordo com a PC, Gilberto do Amaral tomava o remédio Anfepramona, utilizado para emagrecimento desde 2004, e o misturava com álcool. O delegado Douglas Pedrosa afirma que “isto fazia com que ele ouvisse vozes”. O surto, aliado a uma série de circunstâncias variadas, também motivou o atirador a cometer a barbárie, aponta o comandante da força-tarefa.
Durante as investigações, a polícia mapeou a movimentação de Gilberto Amaral, nos últimos 12 meses. Ele teria ouvido um boato de que seria transferido para trabalhar no cemitério de Itumbiara, por decisão de Zé Gomes, o que não se confirmou.
A partir de fevereiro deste ano, ele teria começado a trabalhar com um político adversário (sem nominá-lo) do ex-prefeito morto. Gilberto acreditava que o seu novo aliado teria sido assaltado, em ato orquestrado por Zé Gomes. “Isto foi desmentido, mas o Gilberto, com a sua mania de perseguição, acreditava que o assalto foi encomendado pelo ex-prefeito”, analisa o delegado.
Já em agosto passado, Amaral teve o ponto cortado por ter faltado ao serviço, por ter sido barrado pelo seu chefe, na prefeitura, por estar trajando uma camiseta de um político.com quem começou a trabalhar. Contrariado, pediu transferência de pasta, mas teria solicitado sua volta. “A partir dali, já havia sido iniciado o trâmite legal do pedido, o que irritou o Gilberto”, conta o delegado, salientando que essa situação foi mais uma peça para que o autor do atentado seguisse acreditando que era perseguido por Zé Gomes.
Duas semanas antes da eleição, Amaral teria contado em um bar que caso Zé Gomes fosse eleito, ele não assumiria a prefeitura. Um dia antes do atentado, teria confidenciado que poderia cometer um crime e fugir para o Tocantins, mas sem citar quem seria a vítima. Em visita à cidade mineira de Araporã, ele teria testado a pistola que usou para cometer os crimes. Já na manhã do dia 28 de setembro, de acordo com o delegado, ele teria tido uma discussão com um aliado político do Zé Gomes. “Foi dito para ele que a eleição já estava ganha e que a carreata seria da vitória”, conta o Douglas Pedrosa.
Após o incidente, Gilberto seguiu até o comitê de campanha do candidato em que trabalhava na época. Lá, conversou com integrantes no local e partiu para sua residência, para pagar o veículo Siena, de propriedade de seu filho, veículo utilizado para cometer os crimes.
Por fim, a força tarefa concluiu que o atirado agiu como suicida, já que deixou o seu celular em casa, não tinha dinheiro no bolso e não havia abastecido o veículo para uma eventual fuga. “Esta situação também denota que agiu como suicida. Ele sabia que não iria sair vivo daquela situação”, disse Pedrosa.
Eleição
Escolhido para substituir Zé Gomes como cabeça de chapa, o deputado estadual Zé Antônio (PTB), elegeu-se prefeito com 36.143 votos (76,27%), contra 14.050 (26,15) de Álvaro Guimarães (PR), e 3.532 (6,57%) de Cesinha (PDT).
Segundo a Justiça Eleitoral, com 100% dos votos apurados, Zé Antônio obteve 36.143, ou seja, 67,27% dos votos. Já o candidato Alvaro Guimarães (PR) obteve 14.050 (26,15%) e Cesinha (PDT) recebeu 3.532 (6,57%).
Zé Gomes não agrediu
A linha de investigação também descartou duas possíveis motivações. A primeira seria uma suposta briga e agressão contra Gilberto, cometidas por José Gomes da Rocha e um segurança. “Este boato se tornou forte dias após o atentado. Não há nenhuma prova que isto tenha acontecido”. O outro entrevero seria por conta de uma suposta briga por terras, que também foi descartado por não haver nenhum indício.
No atentado, José Eliton levou tiros na região do abdômen, passou por cirurgia no Hospital Municipal de Itumbiara, foi transferido para o Hospital de Urgências Governador Otávio Lage Siqueira (Hugol), em Goiânia, onde recebeu alta dias depois.
À época, o vice-governador afirmou que “a atuação dos demais policiais foi fundamental”. Segundo observa, “eles foram para o enfrentamento, inclusive, colocando a sua vida na proteção dos demais que estavam ali”. Para ele, “se os policiais não tivessem conseguido abater aquele homem insano, teria tido uma tragédia muito maior naquele episódio”.
A força-tarefa da Operação Paranaíba envolveu 14 delegados de polícia da especializada e de delegacias circunscricionais, além de agentes policiais de várias unidades, totalizando aproximadamente 80 profissionais. Em quase dois meses de investigações, mais de 90
oitivas e 20 laudos periciais foram realizados para descobrir as causas do atentado do dia 28 de setembro que levou à morte o então candidato à prefeitura de Itumbiara. Num inquérito, as investigações buscaram a materialidade, a autoria e a motivação do crime. No caso do atentado de Itumbiara, a materialidade e a autoria já estavam definidas no momento de instauração do inquérito. Por isso, as investigações buscaram a motivação do atentado.
Estiveram presentes durante a apresentação: o delegado-geral da PC, Álvaro Cássio dos Santos, além dos delegados Alécio Moreira, Danilo Fabiano, Murilo Polati, Vinícius Pena, Rogério Moreira da Silva, Dannilo Proto, Thiago Martiniano, Lucas Finholdt, André Viana, Douglas Pedrosa, Gustavo Carlos Ferreira e Ricardo Chueire. O prefeito eleito por Itumbiara, deputado Zé Antônio, também participa da apresentação.
Segundo a Justiça Eleitoral, com 100% dos votos apurados, Zé Antônio obteve 36.143, ou seja, 67,27% dos votos. Já o candidato Alvaro Guimarães (PR) obteve 14.050 (26,15%) e Cesinha (PDT) recebeu 3.532 (6,57%).
O prefeito eleito de Itumbiara, Zé Antônio, destacou os esforços das investigações, mas observa que “infelizmente, não trará de volta o Zé Gomes e o cabo Vanílson ao nosso meio”, afirma. “O traço psicótico, estimulado pela ambientação em que o Gilberto vivia, o estimulou ao extremo, à barbárie, que ceifou a vida de pessoas importantes para a nossa sociedade”, diz.