“A população elencou três prioridades: segurança, saúde e educação”
Mardem Costa Jr. Prefeito de Rio Verde, Paulo do Vale (PMDB) não imaginava entrar na carreira política quando foi nomeado secretário de Saúde em 2009, no primeiro mandato de Juraci Martins (PPS). O trabalho do peemedebista ganhou boa repercussão junto à população e isso se refletiu na boa votação que teve no pleito de 2014 […]
Mardem Costa Jr.
Prefeito de Rio Verde, Paulo do Vale (PMDB) não imaginava entrar na carreira política quando foi nomeado secretário de Saúde em 2009, no primeiro mandato de Juraci Martins (PPS).
O trabalho do peemedebista ganhou boa repercussão junto à população e isso se refletiu na boa votação que teve no pleito de 2014 para deputado federal, sem estrutura ou apoios de peso. Dois anos depois, derrotou os dois candidatos oriundos do grupo político de Martins. Paulo tem 57 anos, é médico nefrologista e mora na cidade há trinta anos. Confira a entrevista que o gestor concedeu ao O HOJE em seu gabinete.
Entrevista Paulo do vale
O que motivou o senhor a entrar na política?
A gente não traça o destino. Tem coisas que acontecem na vida de uma forma inesperada. Talvez isso seja fruto de um resultado do que foi feito até então, do trabalho feito na sua comunidade, construído no dia a dia. (A entrada na política) aconteceu por acaso. Tenho 57 anos e fui conviver com a administração pública em diretamente em 2009, aos 50 anos, e enfrentei o desafio de fazer uma gestão da saúde pública de Rio Verde. Procuramos fazer um trabalho para amenizar, naquele momento, toda crise que existia na saúde. Mostramos bastante resultado e a própria população reconheceu. Em 2014, veio o desafio de ser candidato a deputado federal. Vários companheiros e entidades me procuraram para que colocasse o meu nome à disposição do município de Rio Verde e do Estado e foi a minha grande prova de fogo. O resultado foi bastante positivo. Tive 29 mil votos e praticamente empatei com o meu concorrente [Heuler Cruvinel, do PSD]. Ele teve cerca de 400 votos a mais, porém tinha toda uma estrutura política ao seu lado, recursos de mídia e o apoio do governador Marconi Perillo (PSDB), do então prefeito [Juraci Martins, do PPS], da maioria dos secretários e vereadores e a diferença foi pequena. A população sinalizou positivamente o meu nome para um pleito futuro e ao me colocar novamente à disposição da comunidade na eleição do ano passado, isso se confirmou. Concorri contra dois candidatos oficiais [Heuler e o deputado estadual Lissauer Vieira, do PSB], apoiados pelo governador e pelo então prefeito e toda uma estrutura por trás da campanha deles e a população mostrou que queria uma mudança de rumo e a ascensão de pessoas que tenham compromisso e histórias de trabalho e resultados com a sociedade. Não foi nada programado. A coisa aconteceu, acredito, por fruto de um trabalho que sempre dediquei à população de Rio Verde e à região sudoeste. Se estou aqui, é porque a população tem a expectativa que eu consiga resolver os problemas da saúde, da educação, da segurança. Sempre ouvi as pessoas e continuarei ouvindo, não ficando preso ao gabinete, mas andando pela cidade. Não mudei meu estilo de vida ao entrar na política e nem vou mudar. Fiz a minha saída na entrada. Continuo a mesma pessoa e estar na prefeitura hoje não mudará a minha forma de agir. Meu cotidiano continua o mesmo, mas agora com uma responsabilidade maior. Vou trabalhar 24 horas para a comunidade e a gestão não vai se omitir diante dos problemas.
O senhor está completando um mês à frente da prefeitura. Tempo suficiente para ter uma noção da situação financeira e administrativa herdada da gestão anterior?
Assim que fui consagrado pelas urnas, procurei o prefeito para que pudéssemos iniciar a transição. Montamos uma equipe e tivemos acesso a toda estrutura administrativa do município. Muito desse trabalho de apuração foi feito no período de transição. Claro, depois do dia 2 de janeiro, fomos para a parte prática, e o diagnóstico feito apontava que a prefeitura estava bastante inchada, com um corpo muito grande de assessores. Aguardei que o ex-prefeito [Juraci] fizesse as demissões necessárias, pois um cargo de assessoria é de confiança e e a confiança não é transferida a um novo gestor, a não ser que esteja alinhado politicamente com o prefeito que está saindo. Havia cerca de 2.300 assessores para 3.800 efetivos, então reduzimos o número de assessores. Herdamos algumas dívidas com a Receita Federal e para ter a certidão negativa, negociamos os débitos na semana passada e parcelamos o valor. Recebemos a prefeitura com pouco mais de R$ 2 milhões em caixa, porém com alguns restos a pagar. Faltava gestão e isso fica claro quando a administração anterior não fechou o balancete de 2016. Rio Verde, a exemplo das demais cidades brasileiras, passa por uma desaceleração da atividade econômica, o que diminuiu a arrecadação. Nós vamos fazer o dever de casa. Temos alguns setores da máquina pública que estavam terceirizados e acabamos com algumas terceirizações nas áreas de segurança e limpeza, aluguéis de máquinas a preços acima do mercado. Nós assumimos essa responsabilidade. Até onde puder e tiver condições dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal, pretendo evitar ao máximo a terceirização de qualquer setor administrativo do município. Transparência é a ordem da atual gestão e todas as ações, despesas e receitas da administração estão disponíveis ao cidadão por meio do Portal da Transparência. Até o ano passado a cidade de Rio Verde estava em 140º lugar em transparência em Goiás e vamos buscar o primeiro lugar até o ano que vem.
O senhor é médico. Nesta condição, quais são os projetos que o senhor pretende executar na área da saúde?
A população de Rio Verde elencou três prioridades: segurança, saúde e educação. Pela primeira vez, 90% da população quer a solução da questão da segurança. Em seguida vem a saúde, com 87% e educação, 43%. Claro, vamos ver a prefeitura como um todo, mas estas três terão atenção especial e começamos as ações emergenciais. Tínhamos um déficit de 1.800 vagas nas creches e 700 a 900 vagas no ensino fundamental. Neste primeiro mês de mandato praticamente zeramos este déficit. Fizemos uma reorganização na estrutura das escolas, daquilo que já existia e criamos 900 vagas em espaços que estavam sendo mal utilizados e contratamos as salas modulares, criando mais 1,5 mil vagas. Vamos ainda entregar agora em fevereiro uma creche com 150 vagas e uma escola de ensino fundamental com capacidade para 350 alunos no Nilson Veloso, que é o bairro mais distante aqui do Centro. Esse bairro foi construído pelo programa Minha Casa, Minha Vida e carece de equipamentos públicos. Na saúde temos uma demanda muito grande por cirurgias eletivas. Hoje nós temos mais de 2.500 pessoas precisando realizar uma cirurgia de hérnia, de vesícula, de catarata e também vamos entregar duas enfermarias modulares para atender essa demanda. Ao todo serão 18 leitos a mais no hospital municipal. São ações rápidas para atender duas áreas essenciais. Educação hoje é prioridade no nosso governo. Vamos tirar as crianças das ruas e este trabalho será refletido no médio-longo prazo e assim vamos fazer, como já estamos fazendo, ao reduzir o déficit de vagas que já se arrastava há mais de oito anos e ainda entregar as creches cujas obras se arrastam há mais de seis anos. Queremos entregar pelo menos duas ainda este ano. Saúde é obrigação, e precisamos estar prontos para receber o paciente e tratar de sua doença. Isso é o mínimo e faremos o necessário para dar essa condição dentro do tripé paciente-médico-tratamento.
E quanto à segurança? O que a prefeitura pode fazer para colaborar com o governo estadual para amenizar a criminalidade na cidade?
A questão da segurança requer um conjunto de ações e já estamos implementando, juntamente com o que é obrigação constitucional do Estado. Temos um efetivo de cerca de 170 policiais, o que deixa a desejar. O ideal hoje é que a cidade contasse com mais de 300 PMs. Enquanto isso, estamos aumentando o banco de horas, que antes de R$ 25 mil/mês para a Polícia Militar e deverá subir para R$ 60 mil/mês. Para isso, enviamos um projeto de lei para a Câmara Municipal de Rio Verde. Enquanto o governo do Estado diminui o aporte financeiro em 30%, nós estamos aumentando, para que os policiais que aqui estão se sintam mais motivos para trabalhar e a dedicar seu período de folga a reforçar a segurança da cidade. A construção de escolas nos bairros onde não há nenhuma, de escolinhas de iniciação esportiva e essas iniciativas também se refletem na segurança, uma vez que as crianças não ficarão vulneráveis nos contraturnos das escolas. Também montamos um Gabinete de Gestão, onde realizaremos ações integradas da Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Secretaria de Ação Urbana, Educação e Saúde, fazendo um trabalho nos chamados hot points [bairros com altos índices de criminalidade]. Estamos fazendo um trabalho de inteligência, identificando os problemas sociais e de violência em cada região de Rio Verde e através desse gabinete, faremos essas ações integradas. O Nilson Veloso, por exemplo, será o primeiro bairro onde atuaremos e vamos acabar com a ausência do Poder Público nos setores rioverdenses. A presença da municipalidade traz segurança e valorização do cidadão. Outra ação que faremos é aumentar o número de câmeras de vídeomonitoramento por toda a cidade e criaremos, no mais tardar em março, a Guarda Municipal armada. Esta será um complemento para as forças de segurança aqui de Rio Verde.
De onde a verba para esse aumento na verba do banco de horas da PM foi remanejada?
Vou dar um exemplo do Vapt Vupt. Tínhamos 52 servidores municipais cedidos para lá e reduzimos o quantitativo para 25. Isso trouxe uma economia de R$ 40 mil/mês. Vamos mudar de local [a unidade seguirá para o Buriti Shopping], e reduziremos as despesas de aluguel e manutenção, hoje por volta de R$ 30 mil para R$ 10 mil/mês. Apenas essa economia pagará a nova despesa sem a necessidade de injetar dinheiro novo.
Rio Verde hoje possui mais de 200 mil habitantes e uma das economias mais pujantes de Goiás. Como conciliar o desenvolvimento econômico com o crescimento populacional?
O município está crescendo a um ritmo de 8 a 12 mil habitantes por ano. Esse ano faremos a revisão do Plano Diretor e montamos uma câmara técnica juntamente com o Conselho de Desenvolvimento de Rio Verde e projetar uma expansão sustentável para os próximos dez, vinte anos, de forma a contemplar os aparelhos sociais, chegando antes das expansões com escolas, creches, praças e postos de saúde. Uma cidade não pode crescer desordenadamente e sem sustentabilidade. Quem vem a Rio Verde busca uma oportunidade de vida e precisamos criar condições para que esses migrantes se fixem aqui, com emprego e dignidade para si e sua família. Vamos incentivar novas indústrias e novos empreendimentos. A cidade é um pólo de atração na região sudoeste e também na oeste [de Goiás], com destaque para o setor de serviços. A soma das duas regiões dá uma população por volta de 1 milhão de habitantes. Não podemos deixar que pessoas cheguem aqui sem trabalho, pois corremos o risco de favelizar a nossa periferia.
Como que o senhor avalia o cenário político de 2018?
Olha, eu estou voltado para 2017. Falo isso tranquilamente. O que cacifa um político é o resultado. Se estou hoje na Prefeitura de Rio Verde é fruto de um trabalho que dediquei ao município nos últimos 30 anos. A população hoje quer um político que tenha um legado de trabalho realizado. A eleição de 2018 está chegando, mas quero focar na administração municipal.
E o que acha de uma possível candidatura a governador do senador Ronaldo Caiado?
O senador esteve na nossa coligação na eleição estadual de 2014 e esteve presente na campanha do ano passado. O vice-prefeito, Chico do KGL, é do DEM, e a nossa relação muito boa. O Caiado é meu amigo, colega de profissão, e o respeito muito. Sou filiado ao PMDB e temos uma parceria. A meu ver, a oposição tem que caminhar junta. É o meu pensamento. Não podemos separar e tenho certeza que tanto o PMDB quanto o DEM saberão fazê-lo de uma forma harmônica e equilibrada e lá em 2018, o político que tiver maior aceitação nas pesquisas de intenção de voto será o nosso candidato.
Existe a possibilidade do prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB) se lançar candidato em 2018?
O Iris tem compromisso com Goiânia. Ele prometeu e eu acredito que vá fazer uma excelente administração nesses quatro anos.
Como o senhor avalia a gestão do governador Marconi Perillo (PSDB)?
Avalio que a gestão é bem regionalizada. Algumas regiões recebem mais atenção em detrimento das demais e espero que agora, nos próximos anos, que a região Sudoeste ganhe uma maior atenção do governo estadual. O Marconi me convidou e estive com ele no início de janeiro e solicitei a conclusão de obras importantes para a região, como a conclusão do Centro de Atendimento Sócio Educativo (Case), a retirada da Casa de Prisão Provisória (CPP) do centro da cidade, a conclusão do Anel Viário, a terceira faixa ou duplicação da GO-174, entre Rio Verde e Montividiu, além do aumento do número de efetivo da Polícia Militar. Acredito que o governador irá nos atender, inclusive relatei a ele que estou ansioso para que venha aqui inaugurar uma dessas obras. Ao mesmo tempo temos convênios importantes com o Estado e estes continuam mantidos.
O senhor disse durante a campanha que não pretende disputar a reeleição. Vai manter esse propósito ou há a possibilidade de mudança de rota?
Faltam três anos, onze meses e alguns dias para me aposentar. Não mandamos em nosso destino. Quem leva o político não é sua a vontade, mas a vontade da população. Tenho o compromisso de fazer uma gestão que beneficie a cidade, trabalhando diuturnamente para o cidadão de Rio Verde. Quando se fala em reeleição, logo começa um clientelismo, acordos que não são interessantes para a comunidade. Então estou focado na administração e o meu acordo é com a população de Rio Verde.
A coligação que o elegeu não tem maioria na Câmara Municipal. O senhor teme que projetos de interesse da sua gestão sejam emperrados?
Teremos uma convivência harmônica com os vereadores. Nenhum projeto será levado à Câmara que não seja de interesse da comunidade. Cabe ao Executivo levar esses projetos e cabe ao Legislativo avaliar se eles são ou não interessantes para a população. A relação será respeitosa e nessa direção. O que for fora dessa direção e do coletivo, não será levado. A população elegeu o vereador, assim como elegeu o prefeito, para cuidar da cidade.