MPF oferece nova denúncia contra José Dirceu
A denúncia aponta a prática de 33 crimes de lavagem de dinheiro para dissimular a origem de mais de R$ 2,4 milhões
O Ministério Público Federal (MPF) ofereceu nesta
terça-feira (2) nova denúncia contra o ex-ministro José Dirceu pelo suposto
recebimento de propina das empreiteiras Engevix e UTC, entre 2011 e 2014. A
acusação inclui também o irmão de Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva; o
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto; e Gerson de Melo Almada e Walmir
Pinheiro Santana, ex-executivos da Engevix e da UTC, respectivamente.
A denúncia aponta a prática de 33 crimes de lavagem de
dinheiro para dissimular a origem de mais de R$ 2,4 milhões. Segundo a
força-tarefa da Operação Lava Jato no MPF, o valor corresponde a propinas que
foram pagas ao ex-ministro e decorre dos crimes de fraude a licitação, cartel e
corrupção em benefício das empreiteiras, que assinaram contratos milionários
com a Petrobras.
A nova denúncia ocorre no mesmo dia em que o Supremo
Tribunal Federal marcou a retomada do julgamento do pedido de liberdade de José
Dirceu. O ex-ministro está preso desde agosto de 2015 no Complexo Médico-Penal
em Pinhais, região metropolitana de Curitiba, a pedido do juiz federal Sergio
Moro.
A denúncia
Os procuradores afirmam que a Engevix arcou com as despesas
de contratação da empresa Entrelinhas Comunicação para prestar serviços de
assessoria de imprensa para Dirceu. A empreiteira teria feito pagamentos que
chegam a R$ 900 mil entre abril de 2011 e julho de 2012 para garantir a
continuidade dos serviços — que incluíam relatórios sobre a imagem do
ex-ministro perante a sociedade, o gerenciamento de entrevistas, a elaboração
de artigos e a organização de um livro assinado pelo acusado.
O procurador da República Júlio Noronha, integrante da
força-tarefa do MPF, destacou que a contratação da empresa de assessoria de
imprensa coincide com o início do julgamento da Ação Penal 470, o processo do
mensalão. “Seu envolvimento em um escândalo de corrupção custou-lhe a
perda do cargo público e um desgaste de imagem. É chocante que o
ex-ministro-chefe da Casa Civil tenha usado dinheiro da corrupção na Petrobras
para contornar os efeitos negativos da descoberta de seus crimes. É o crime
sendo usado para reduzir os prejuízos do crime descoberto”, ressaltou Noronha.
De acordo com a denúncia, José Dirceu recebeu mais de R$ 1,5
milhão da UTC por meio de um aditivo contratual fictício entre a empreiteira e
a JD Assessoria, empresa do ex-ministro. A força-tarefa afirma que a motivação
dos pagamentos foi o fato de que Dirceu era o suposto “padrinho
político” de Renato Duque no cargo de diretor de Serviços da Petrobras.
Segundo os procuradores, Duque usava o cargo para beneficiar a UTC em contratos
com a Petrobras em troca do pagamento de propinas.
“A impunidade no país é tamanha que, no mensalão, o
ex-ministro-chefe da Casa Civil acreditava que sua responsabilização criminal
por corrupção seria como um raio que não poderia cair duas vezes em seu
quintal”, disse o procurador da República Roberson Pozzobon, que também
integra a força-tarefa.
A Agência Brasil tenta contato com os advogados de José
Dirceu e aguarda retorno da Engevix. A UTC declarou que “não comenta
investigações em andamento”.
(Agência Brasil)