Campanha alerta sobre a prevenção do suicídio
Com o tema “falar é a melhor solução’, a ação visa alerta à população sobre essa realidade.
Desmotivação, tristeza, vontade de se isolar: quem tem esses
comportamentos pode estar precisando de ajuda e é importante não negligenciar,
pois essa conduta pode ser um sinal de idéias suicidas. Essa temática ainda é
rodeada por tabus, pois muitas pessoas não enxergam o suicídio como um problema
de saúde pública, mas uma espécie de fraqueza de conduta, ou personalidade. Mas
pesquisas já revelam que essa é uma visão estereotipada, e a Campanha Setembro
Amarelo, por meio do lema “falar é a melhor solução’, visa alerta à população
sobre essa realidade.
Apesar do mês de setembro estar acabando, ainda é tempo de falar sobre a
prevenção do suicídio, principalmente porque o número de casos tem aumentado
nos últimos anos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o
suicídio é responsável por uma morte a cada 40 segundos no mundo. Esses dados
levantam uma reflexão acerca da prevenção contra o suicídio, já que é notório
que esse mal silencioso tem se alastrado na sociedade. As pessoas ainda têm
receio de falar sobre o assunto, seja por desconhecimento, ou medo. Por esse
motivo, a Associação Internacional de Prevenção do Suicídio (Iasp) , que
objetiva conscientizar a população sobre os altos índices de vítimas de
suicídio, adotou o tema ‘Doe um minuto, salve uma vida’.
Segundo a doutora em psicologia e psicoterapia, Célia Maria Ferreira da
Silva Teixeira, “falar é a melhor solução! Falar e ser ouvido, essa é a grande
questão”, afirma a especialista. Contudo, Célia ressalta que muitas pessoas
falam, mas quando ouvidas são mal interpretadas, porque o ouvinte já coloca
opinião, afirma que ela não pode ficar assim, porque a vida é muito boa. “Esse
tipo de resposta não vai ajudar a pessoa”, afirma a psicóloga. A especialista
ainda destaca que para prevenir é necessário “falar de suicídio, falar de
riscos, de como se tratar, a quem recorrer, isso é muito importante. Quanto
mais informação houver, melhor será para as pessoas”, ressalta Célia.
Causas
De
acordo com Bruno Sarques, mestrando que tem uma linha de pesquisa sobre o
suicídio, “esse aumento das taxas de suicídio no Brasil e no mundo, são, de
certa forma, um reflexo da sociedade que a gente vive”, afirma o mestrando.
Bruno também ressalta que as ideias suicidas atingem várias faixas etárias e
classes sociais, embora o número de casos seja maior entre negros e a comunidade
LGBT, por causa do preconceito sofrido por essa parcela da população.
Bruno
Sarques ainda afirma que o aumento nos casos de suicídio está diretamente
ligado a desvinculação social que a pessoas vivem hoje em dia. “As grandes
instituições sociais como o estado, a igreja e a família elas estão cada vez
mais frouxas, elas desempenham um papel menor na vida das pessoas naquilo que
as define como identidade, tanto individual como coletiva, e é provado desde os
estudos de Durkheim sobre isso, que essas grandes instituições quanto mais
forte são na vida das pessoas, menor é o risco de suicídio”, afirma o
estudioso.
Prevenção
Segundo Célia
Ferreira, não basta falar de morte e do aumento no número de casos de suicídio,
mas sim informar, conscientizar as pessoas, e dar caminhos para que elas possam
buscar ajuda em tempo. “Eu entendo que a busca pela morte, o desejo de morrer é
um pedido de socorro, é um apelo ao outro que a ajude a sair desse quadro de
tristeza”, afirma a psicóloga. Amigos e familiares podem ajudar efetivamente
pessoas em risco de suicídio por meio do apoio, “é muito importante que se
resgate nas pessoas o desejo, a motivação para vida. A pessoa quando está em
uma situação em que ela não vê saída, que ela sente a vida como um peso, que o
melhor seria morrer a enfrentar os desafios, essa pessoa realmente se encontra
em um grupo de risco de suicídio”, afirma à especialista.
A
psicóloga ainda afirma que “conversar com a pessoa é o primeiro passo, mas é
preciso orientá-la a procurar um especialista, para que ela possa ser ajudada.
É preciso tratar a pessoa com medicamentos e psicoterapia, para que ela entenda
o que está acontecendo com ela”, afirma Célia.
Mas apesar do aumento no número de vítimas de suicídio, ainda é possível
reverter esse cenário, já que de acordo com a OMS, 9 em cada 10 casos de
suicídio poderiam ser prevenidos. Uma
das alternativas para ajudar quem está com ideias suicidas é procurar o Centro
de Valorização a Vida, organização não governamental que atende de forma
voluntária e gratuita pessoas que precisam conversar sobre como se sentem, sob
sigilo total. O serviço está disponível 24 horas por dia, durante toda a semana,
por meio do site www.cvv.org.br/quero-conversar/.
História
A Campanha
Setembro Amarelo foi iniciada no Brasil em 2015 pelo Centro de Valorização da
Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP). As primeiras atividades da ação foram realizadas em Brasília
com o intuito de conscientizar a população sobre os prováveis motivos que podem
gerar idéias suicidas. No Brasil, durante
o mês de setembro, vários monumentos são iluminados com luz amarela com o intuito
de abraçar essa causa tão relevante na sociedade. Para Célia, é necessário
falar sobre suicídio e conscientizar as pessoas não apenas nesse mês, mas
durante todo o ano, em todos os espaços da sociedade.
Gabriela Starneck