Por que há poucas mulheres em cargos de liderança?
Há quem acredite que o mundo do trabalho já não faz distinções por gênero, mas não é bem isso que acontece quando se trata de cargos de liderança
Claudia Santos*
Nas últimas décadas, as mulheres têm
ganhado cada vez mais espaço no ambiente corporativo, antes dominado pelo sexo
masculino. Há quem acredite que o mundo do trabalho já não faz distinções por
gênero, mas não é bem isso que acontece quando se trata de cargos de liderança.
Apesar de representarem 43,8% dos
trabalhadores no Brasil, as mulheres ocupam apenas 37% dos cargos de gerência,
de acordo com o IBGE. Quando se trata dos comitês executivos das grandes
empresas, esse número cai para 10%. Além disso, elas ainda recebem o
equivalente a 76% do salário dos homens.
Essa desigualdade de gênero ainda é
recorrente nas empresas em todo o mundo. Neste ano, um relatório da consultoria
americana Boston Consulting Group (BCG) mostrou que, ainda que aspirem cargos
de liderança, as mulheres são desencorajadas a chefiar. Entre os motivos estão
as microagressões que sofrem no dia a dia, a falta de oportunidades ao longo da
carreira e, ainda, a falta de exemplos de mulheres na liderança.
Em empresas mais diversas com relação
ao gênero, todos os funcionários se sentem encorajados a aspirar cargos de
direção. Para as mulheres, enxergar outras pessoas do sexo feminino na chefia
pode incentivá-las a buscar o crescimento na carreira.
E essa diversidade não é importante apenas
para encorajá-las, mas também pode trazer resultados financeiros para as
companhias. De acordo com um estudo de
2016 do Peterson Institute for International Economics, empresas com
ao menos 30% de presença feminina em cargos executivos têm um lucro 15% maior.
Para mudar esse cenário, as empresas
precisam criar políticas de recursos humanos mais inclusivas, sem qualquer
distinção por gênero. Mas isso não é papel apenas do profissional de RH: tanto
a direção da empresa quanto os funcionários precisam trabalhar juntos para
tirar as ideias do papel e colocá-las em prática.
De acordo com a consultoria BCG,
algumas ações podem ser tomadas para garantir uma empresa mais igualitária: nos
processos seletivos, é recomendado que haja um número igual de homens e
mulheres, o que garantirá um quadro de funcionários mais misto. Além disso,
incluir as mulheres nas interações cotidianas e na tomada de decisões é
fundamental para que elas se sintam, de fato, parte da equipe.
Outra questão fundamental para
garantir a equidade é a criação de políticas que garantam a permanência das
mulheres nas empresas, facilitando o equilíbrio entre vida pessoal e
profissional. Entre elas, a licença maternidade para o pai e a mãe, a
instalação de berçário nos escritórios, a adequação de metas após o retorno da
licença-maternidade, o home office e a flexibilização de horários de entrada e
saída.
A superação das diferenças precisa
partir de todos, em um esforço coletivo para transformar a cultura interna da
organização. Quando as lideranças entendem isso, conseguem conscientizar toda a
empresa e minimizar qualquer tipo de resistência. Uma sociedade mais justa
exige a igualdade de gênero em todos os seus ambientes – e o mundo corporativo
não pode estar isolado da realidade.
*Claudia Regina Araujo dos Santos é especialista em gestão estratégica de pessoas, palestrante,
coach executiva e diretora da Emovere You www.emovereyou.com.br). (Especial para o Hoje)