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domingo, 24 de novembro de 2024
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Segundo astrônomo

Ciência se aproxima da descoberta de vida fora da Terra

Para Gustavo Porto de Mello, alguns corpos celestes têm surpreendido os cientistas por apresentarem possibilidades de abrigar vida, ainda que microscópica

Postado em 2 de junho de 2018 por Márcio Souza
Ciência se aproxima da descoberta de vida fora da Terra
Para Gustavo Porto de Mello

A ciência está cada vez mais próxima de fazer uma descoberta
que desperta a curiosidade humana há décadas: a existência de vida fora do
planeta Terra. De acordo com o astrônomo Gustavo Porto de Mello, são grandes as
possibilidades de essa notícia ser dada nos próximos dez anos.

Segundo ele, alguns corpos celestes têm surpreendido os
cientistas por apresentarem possibilidades de abrigar vida, ainda que
microscópica. Se até pouco tempo Marte era o favorito para dar essa boa nova,
após a descoberta de água em seu subterrâneo, agora, com as recentes
confirmações da presença de água em duas luas do Sistema Solar (Europa, do
planeta Júpiter; e Encélado, de Saturno), os indícios de vida extraterrena
ficaram ainda maiores.

Quem mais tem instigado os cientistas sobre a possibilidade
de abrigar vida é a lua Europa.

“Essa lua desperta interesses desde as primeiras visitas das
sondas Voyager, da Nasa [agência espacial norte-americana], que, no final dos
anos 70, mostraram o satélite completamente coberto de gelo, com uma superfície
lisa e sem crateras, o que indica estar sendo renovada”, disse o astrônomo
Gustavo Porto de Mello, professor no Observatório do Valongo, no Rio de
Janeiro.

Segundo ele, os dados obtidos posteriormente pela sonda
Galileu confirmaram essa conclusão. “Aparentemente havia algum tipo de
atividade interna dentro dessa lua [Europa], que mantinha o gelo renovado de
forma constante. A maneira mais fácil de entender esse efeito na superfície é
supor que existe um oceano, possivelmente de grandes dimensões, abaixo do
gelo”.

A Missão Cassini, em Saturno, observou também esse tipo de
atividade na lua Encélado. A atividade interna do satélite foi capaz de manter
a água líquida abaixo da superfície e ejetar água na forma de gêiseres. Imagens
feitas pelo telescópio espacial Hubble detectaram possíveis evidências de água
jorrando também da superfície de Europa.

Gustavo Mello explica que, embora a sonda Galileu não tenha
identificado água diretamente por meio de fotografia, foi observada uma
distorção do campo magnético em Europa que, de acordo com os autores do estudo,
deveria ter sido causada por emissões de água. “Ao ser enviada ao espaço, essa
água é alterada pela luz do sol, gerando uma carga elétrica capaz de distorcer
o campo magnético daquela lua. Foi isso o que a sonda mediu.”

A partir desses dados, foram feitas simulações por meio de
computadores que reproduziram as características das plumas de água observadas
pelo Hubble em Europa. Os resultados apresentaram medidas muito parecidas com
as observadas pela Galileu.

“Surgiu então mais uma evidência, dentro de um corpo de
evidências muito grande e acumulado há quase 30 anos, de modo que já dá para se
afirmar com muita segurança que deve haver um oceano bastante extenso de água
líquida debaixo da superfície de Europa”, destacou o astrônomo.

Segundo ele, a expectativa é que, diante de tantos dados, a
descoberta de algum tipo de vida extraterrena ocorra em menos de dez anos.
“Estou cada vez mais otimista de que encontraremos vida [extraterrena] nos
próximos anos. Seja em um lugar como Europa ou Marte, seja em algum planeta
[orbitando] em outra estrela, através da detecção do oxigênio na atmosfera.
Vamos detectar alguma evidência clara. Possivelmente apenas de vida microbiana,
mas já é um grande ponto de partida.”

De acordo com o astrônomo, existe uma grande divisão nas
escolas de astrobiologia sobre a chance de se detectar uma biosfera complexa,
com animais multicelulares e inteligência, como a terrestre. “É uma questão
complicada e sem resposta clara, mas quase todo mundo concorda que vida
microbiana, unicelular, simples, vai ser detectada”.

Europa Clipper

Mello tem grandes expectativas em relação à missão Europa
Clipper, que está sendo planejada pela Nasa para explorar a lua de Júpiter nos
primeiros anos da próxima década.

“Isso é importante porque nos últimos anos a Nasa vinha
colocando muita ênfase em Marte, que é um planeta parecido com a Terra. Mas
esses resultados recentes de Europa mostram uma mudança de pensamento, de modo
que vai haver missões biológicas com o objetivo de buscar vida em lugares que
são substancialmente diferentes da Terra”.

Segundo ele, é bastante possível que, caso sejam encontrados
organismos vivos em Europa, eles sejam similares às chamadas bactérias
termófilas encontradas na profundidade dos oceanos do planeta Terra.

“Da maneira como entendemos a vida na Terra, para haver vida
é necessário haver três ingredientes: água líquida; uma certa química,
principalmente a química orgânica do carbono, com moléculas capazes de fazer
ligações; e energia, que aqui na Terra é principalmente fornecida pela luz do
sol”, explicou o cientista.

No caso de Europa, a vida pode ter se desenvolvido abaixo do
gelo. “Com a presença de água e com a química do carbono que já sabemos estar
presente na composição do satélite. Havendo energia interna, teremos os três
ingredientes necessários à vida”, acrescentou o astrônomo ressaltando que,
nesse caso, seria algum tipo de vida marinha baseada na energia interna do
satélite, e não na luz do sol.

Diante da curiosidade que assuntos como esse despertam nas
pessoas, o Observatório do Valongo criou o projeto Vida no Universo. Por meio
dele, os visitantes poderão se informar sobre diversos tipos de corpos
celestes, além de eventos cósmicos e biológicos que podem vir a responder a
velha e clássica pergunta: “Será que estamos sós?”.

 Com informações da Agência Brasil. 

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