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sábado, 23 de novembro de 2024
Audiovisual

18ª Goiânia Mostra Curtas terá como tema as mulheres

A escolha do tema levanta o debate sobre o papel feminino na indústria do cinema e aponta que a equidade de gênero ainda está longe

Postado em 2 de agosto de 2018 por Guilherme Araújo
18ª Goiânia Mostra Curtas terá como tema as mulheres
A escolha do tema levanta o debate sobre o papel feminino na indústria do cinema e aponta que a equidade de gênero ainda está longe

Cenas do longa "Mini Miss". (Foto: Crédito/Divulgação)

Da Redação 

Em consonância com temáticas relevantes do cotidiano e que refletem diretamente na indústria cinematográfica, a Mostra Curta Especial em 2018 promove a discussão sobre a mulher e o cinema brasileiro. Com o tema “Gênero e Invenção: tornar-se mulher no cinema de curta-metragem contemporâneo”, a diretora, roteirista e antropóloga Maíra Bühler, curadora da Curta Mostra Especial, elegeu 12 curtas-metragens, dividido em duas partes, que propõe uma reflexão sobre o papel feminino. O foco está no tornar-se mulher, como ato performativo, no contra-fluxo da visão de gênero que vai além da essência e na direção de uma proposta política em sua abertura criativa. O programa, que faz parte da 18ª Goiânia Mostra Curtas, será exibido nos dias 6 e 7 de outubro.

“Muito do que conhecemos hoje sobre a história do cinema brasileiro vem de um recorte masculino, que ainda se mantém. Ao trilhar esse caminho por uma perspectiva única – a do homem branco – a indústria cinematográfica reforça padrões nocivos, deixando as mulheres em desvantagem. Embora, nos últimos anos, a temática sobre a representação feminina no cinema venha ganhando foco, ainda é preciso percorrer um caminho longo e árduo até alcançarmos a paridade de gênero”, afirma Maria Abdalla, diretora geral da Goiânia Mostra Curtas.

A primeira parte, que será exibida no dia 6 de outubro, terá como mote “Criar, emancipar, denunciar” e exibirá seis curtas. Fazem parte as produções “Mini Miss”, de Rachel Daisy Ellis; “Quem Matou Eloá?”, de Lívia Perez; “Sweet Heart”, de Amina Jorge; “Latifúndio”, de Érica Sarmet; “Estado Itinerante”, de Ana Carolina Soares e “Trans*lucidx”, de Miro Spinelli. Já na segunda parte, que será apresentada no dia 7 de outubro, o lema “Denunciar, criar, emancipar”, apresenta outras seis produções. “A Boneca e o Silêncio”, de Carol Rodrigues; “K-Bela”, de Yasmin Thayná; “Outras”, de Ana Júlia Travia; “Tailor”, de Calí dos Anjos; “No Devagar Depressa dos Tempos”, de Eliza Capai e “Peripatético”, de Jéssica Queiroz. 

“A ideia apresenta a desconstrução crítica de uma imagem de ‘mulher’ estável e estereotipada, dando lugar a emergência narrativa e subjetividades que colocam as relações de gênero em termos de performatividade”, explica a curadora da mostra. A a seleção de filmes faz um recorte temporal, concentrando-se nas produções realizada a partir de 2013 que, para Maíra, é um ano chave na emergência de importantes debates políticos na agenda do país, entre eles os que tangem a condição feminina e as relações de gênero.

A programação da Curta Mostra Especial ainda traz um debate sobre os desafios da desconstrução e da criação da imagem da mulher no cinema, com a presença da antropóloga Silvana Nascimento, a cineasta Ana Carolina Soares, a diretora e roteirista Carol Rodrigues e a atriz, roteirista e realizadora transexual Julia Katharine. Além disso, a Mostra Curtas Especial homenageia dois mulheres importantes para a cena. Yasmin Thayná é cineasta, diretora e fundadora da Afroflix, plataforma criada para divulgar filmes dirigidos, protagonizados e produzidos por negros. Juliana Vicente é diretora, produtora e fundadora da Preta Portê Filmes.  Dirigiu o curta “Cores e Botas”, exibido mundialmente em mais de 50 festivais, sobre uma menina negra que quer ser Paquita.

Representatividade

De acordo com dados do Informe sobre Diversidade de Gênero e Raça no Cinema em 2016, divulgado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), que leva em consideração produções comerciais, chegaram às telas daquela ano apenas 25 produções brasileiras com direção exclusivamente feminina, representando apenas 16% dos longas. Onze filmes tiveram direção mista, enquanto os homens estiveram à frente de 124 longas-metragens, 77% do total. O filmes lançados por mulheres também tiveram menos espaço sendo lançados em uma média de 65,4 salas, enquanto os feitos por homens chegaram a 83,1 espaços de exibição, em média. Os dados ainda revelam que o recorte racial é ainda mais desfavorável, já que apenas 2% das direções foram feitas por homens negros e nenhum filme dirigido por mulher negra chegou às salas de cinema em 2016. 

Na contramão das estatísticas que mostram que o cinema brasileiro é majoritariamente masculino e branco, a Curta Mostra Especial é composta por curtas realizados, em maioria, por mulheres, brancas e negras, e tem por objetivo ampliar o debate sobre relações de gênero no cinema. “Neste caso, não existe apenas uma mulher, existem múltiplas mulheres que não são objeto de contemplação do outro – sacralizadas, disciplinadas, controladas, maternais, fatais, frágeis, férteis ou naturais – mas invenções pautadas por si mesmas”, complementa Maíra. 

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