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domingo, 24 de novembro de 2024
Política

Judicialização da saúde será debatida

No começo de maio governadores reuniram com o presidente do Supremo buscando responsabilidade solidária entre União para fornecimento de remédios de alto custo

Postado em 18 de maio de 2019 por Sheyla Sousa
Judicialização da saúde será debatida
No começo de maio governadores reuniram com o presidente do Supremo buscando responsabilidade solidária entre União para fornecimento de remédios de alto custo

Raphael Bezerra*

O Senado Federal discute, nesta terça-feira (21), o fornecimento e medicamentos de alto custo pelo poder público. Na última semana, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (Democratas) se reuniu com o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, junto a outros governadores para defender que União e Estados dividam os custos do fornecimento dos tratamentos. 

Na quarta-feira (22), o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) deverá julgar três recursos extraordinários sobre a responsabilidade solidária dos estados no dever de prestar assistência à saúde e o fornecimento de remédios de alto custo — não disponíveis na lista do Sistema Único de Saúde (SUS) e não registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

No último dia 9, o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, recebeu 12 governadores para tratar do assunto. Eles expuseram as dificuldades decorrentes de decisões judiciais que obrigam os estados a fornecerem remédios de alto custo, alguns sem registro na Anvisa, e tratamentos caros sem a ajuda da União. Segundo eles, os estados gastaram, no ano passado, R$ 17 bilhões devido à judicialização da saúde, sendo que esses recursos não estavam previstos nos seus orçamentos.

Ao explicar a situação do Estado de Goiás, Caiado disse que somente em 2018 foram mais de 2 mil ações, que custaram R$ 32,7 milhões aos cofres do Estado. “Com apenas 130 dias de governo, já são 950 ações. A previsão é que neste ano, vamos extrapolar 3 mil processos, ultrapassando R$ 40 milhões” argumentou. 

A falta de um regime solidário entre a União e os estados levou 12 governadores para discutir a pauta com Toffoli. Os governadores se queixaram ao presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, de que todo o ônus sobre o fornecimento de tratamentos caros via decisão judicial tem recaído sobre os estados, pelo fato de as ações serem ajuizadas quase sempre nos judiciários estaduais, que têm o poder de determinar o bloqueio de recursos diretamente nas contas dos governos.

“Aquilo que é da responsabilidade solidária, não existe solidariedade nenhuma. Divorciaram de nós e pagamos sozinhos”, disse o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que defendeu que medicamentos de alto custo sejam sempre fornecidos pelo governo federal.

Toffoli é favorável a cooperação

Em relação à concessão de medicamentos de alto custo, o presidente do STF indicou que pode ser favorável à fixação da tese de que o poder público deve fornecer esses remédios desde que estejam no Sistema Único de Saúde.

“O importante [sobre medicamentos de alto custo] talvez seja trabalhar o critério do SUS. Estabelecendo esses parâmetros que estão delimitados através do Sistema Único de Saúde que é um sistema inteligente, é case de sucesso no mundo, algo que o brasileiro tem que se orgulhar. Há deficiências, mas há uma quantidade de sucesso enorme, que no dia a dia atende milhões e milhões de brasileiros. Hoje já se alcança cifra de R$ 7 bilhões no orçamento global, é algo que realmente temos que ter a reflexão se o Judiciário não está assumindo papel de gerir este orçamento”, disse.

Um estudo elaborado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa a pedido do Conselho Nacional de Justiça apontou aumento de 130% no número de processos em primeira instância referentes a questões ligadas à saúde. Segundo o Ministério da Saúde, foram gastos R$ 7 bilhões para o cumprimento de demandas judiciais entre 2008 e 2018.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que o país lida, no Sistema Único de Saúde (SUS), com a judicialização de acesso pontual “de medicamentos que estão na rede nacional, de uma quantidade enorme de pequenas cirurgias, que são frutos da desorganização do Sistema, falta de informatização e subfinanciamento”.

Segundo Mandetta, a judicialização que preocupa é a incorporação de novos insumos e tecnologias, tanto no sistema público, como no suplementar. O país fez, recentemente, a sua primeira incorporação de medicamento com compartilhamento de risco, ou seja, quando o laboratório precisa comprovar a eficácia do remédio distribuído à população, sob risco de devolver o recurso aos cofres públicos. “O Brasil está atrasado nas incorporações”, disse. (*Especial para O Hoje).

 

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