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terça-feira, 26 de novembro de 2024
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Econômica

As previsões do senhor ministro, direto de uma “galáxia muito, muito distante”

Segundo Paulo Guedes, o Brasil “vai surpreender o mundo” , embicando em crescimento acelerado assim que vencida a pandemia| Foto: Divulgação

Postado em 22 de abril de 2020 por Sheyla Sousa
As previsões do senhor ministro
Segundo Paulo Guedes


uma forte possibilidade de que o superministro da Economia, Paulo Guedes,
habite em algum planeta numa “galáxia muito, muito distante”, para manter o tom
de fábula. Sua previsão (ou profecia?), exposta em entrevista concedida ao vivo
no canal do banco BTG Pactual no Youtube, só poderia ser tratada como
fantasiosa. Segundo ele, o Brasil “vai surpreender o mundo” (mais uma vez),
embicando em crescimento acelerado assim que vencida a pandemia, numa
trajetória em “V”, como gostam de dizer os senhores economistas. Isso significa
que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro seria o único no planeta, talvez
na galáxia, a apresentar uma recuperação não apenas rápida, mas suficientemente
robusta para compensar,em curto espaço de tempo, as perdas históricas
antecipadas em função da crise.

Sabe-se
lá que tipo de óculos o superminsitro prefere usar, mas, em sua visão, apesar
de todo o “barulho” (sim, a crise da conoravírus, de “gripezinha” foi promovida
a “barulho”), o País “está avançando e progredindo”. Pode ser que esteja
“avançando e progredindo” no número de pessoas infectadas pelo Sars-Cov-19 (o
novo coronavírus), que ontem superou 43,0 mil casos, com 2.741 mortes. Segundo
estudos conduzidos por especialistas, incluindo técnicos da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz), o número de pessoas contaminadas pode ser até 12 vezes mais
elevado do que o informado oficialmente, considerando-se modelos matemáticos
que levam em conta o número de mortes confirmadamente causadas pelo vírus e a
taxa estimada de letalidade da doença.

A
subnotificação, reconhecida pelo Ministério da Saúde, é apenas mais um
obstáculo à liberação geral defendida por setores da sociedade, sob a liderança
do lunático mor, desde sempre metido em devaneios autoritários. Adicionalmente,
a pandemia no País ainda não atingiu seu pico e, por isso, tende a continuar
fazendo vítimas em ritmo crescente pelas próximas semanas antes de começar a
ceder. Por isso a importância das medidas de contenção e isolamento social. A
liberação geral das atividades econômicas faria acelerar a curva da
contaminação, como têm insistido tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS)
como especialistas em todo o mundo, numa vertente que inclui (ou incluía) o
Ministério da Saúde brasileiro, o que seria desastroso sob todos os aspectos.

Saúde acima de
tudo

O
risco de colapso da economia é diretamente proporcional ao risco de colapso do
sistema de saúde. A recessão esperada, já contratada de qualquer maneira, viria
com maior força, com grande risco de se tornar uma depressão de consequências
sociais ainda mais drásticas. O discurso sustentado por lideranças e pelo
lunático mor, ao colocar em lados opostos saúde (e vidas, portanto) e a
economia não se sustenta, como demonstram exemplos de países que começaram a
sofrer os efeitos do vírus mais cedo e que retardaram sua reação à doença. Neste
momento, seria imprescindível um governo com capacidade de articular e
coordenar a reação à crise, fornecendo recursos para reforçar aceleradamente o
setor de saúde, incluir o sistema privado nesse esforço, e fazer chegar aos
mais vulneráveis e às micro, pequenas e médias empresas dinheiro suficiente
para assegurar sua sobrevivência. A saúde acima de tudo.

Balanço

·  
Num
momento histórico para os mercados, aqui num sentido bem negativo, os preços do
petróleo literalmente derreteram na segunda-feira. No vencimento das opções de
maio do petróleo tipo WTI (West Texas Intermediate), produzido pelos Estados
Unidos, os compradores literalmente ofereceram dinheiro de volta para os
vendedores ficassem com o petróleo contratado lá atrás.

·  
As
ofertas de venda chegaram a tal nível que a cotação do WTI ficou negativa,
fechando o dia em menos US$ 37,63 (depois de ter batido na mínima de –US$
40,32). De forma inédita, o preço caiu bem abaixo de zero. Em tese, na
matemática, nada pode cair mais de 100%. Nada poderia. Neste caso, os preços
tombaram alguma coisa além de 300%.

·  
A
derrocada dos preços reflete dois movimentos em curso no mercado, um mais
recente, causado pela queda brusca da demanda desde que os países passaram a
adotar medidas de isolamento social contra a coronavírus (o que apenas
demonstra os níveis de extrema incerteza provocados pela doença). O segundo, nem tão recente assim, envolve uma disputa entre a Arábia
Saudita e a Rússia (e, por tabela, também os Estados Unidos).

·  
Nessa
briga de “cachorro grande”, os árabes decidiram ampliar a oferta num mercado em
que já havia sobra de petróleo, com estoques atingindo níveis recordes. Recentemente,
a Organização dos Produtores e Exportadores de Petróleo (Opep) e países
aliados, como a Rússia, aprovou um corte (tímido) de 9,7 milhões de barris na
produção a partir de maio. Mas, na prática, quase não há mais espaço para
estocar o petróleo que o mundo vem deixando de consumir.

·  
Segundo
a Reuters, os navios-tanques em circulação já armazenam um volume recorde de
aproximadamente 160 milhões de toneladas, em torno de 60% acima dos níveis
registrados ao longo da crise global de 2009, quando aqueles estoques atingiram
100 milhões de barris. A Agência Internacional de Energia (AIE) projeta uma
queda de 30% no consumo global de petróleo.

·  
Ontem,
os preços do petróleo WTI e do Brent (produzido pelo Reino Unido) fecharam,
respectivamente, em US$ 13,09 e US$ 19,61 (o menor nível desde o começo dos
anos 1990). Em 12 meses, acumulam perdas de 80% e de 73,5%.

·  
Os
efeitos sobre os EUA já podem ser observados na interrupção das atividades de
perfuração e no corte de investimentos e gastos na exploração do chamado
“shalegas”, petróleo não convencional que levou o país a se tornar grande
exportador. Os preços do petróleo naquele país caíram abaixo do “ponto de
equilíbrio”, causando prejuízos crescentes para os produtores de “shale”.

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