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segunda-feira, 25 de novembro de 2024
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Econômica

O País está sob o risco de uma recaída do vírus e do achatamento da renda

PIB depende da retomada da demanda em geral e do consumo pessoal, que dependem da evolução da pandemia para acontecer – Foto: Reprodução

Postado em 3 de novembro de 2020 por Sheyla Sousa
Dívida do mundo supera 355% do PIB e passa de US$ 281
Os dados do Instituto Internacional de Finanças (IIF)

Lauro Veiga 

As
possibilidades de uma retomada da demanda em geral e, mais particularmente, do
consumo pessoal, componente importante na composição do Produto Interno Bruto
(PIB), vão depender estreitamente da evolução da Covid-19 no cenário mais
imediato e ainda de como a renda das famílias deverá se comportar com redução
e, na sequência, ao que tudo leva a crer, com a extinção do auxílio emergencial.
Os sinais claros de uma recaída nos países centrais, no que muitos têm
considerado como uma “segunda onda” de coronavírus, têm afetado duramente as
economias e os mercados nos últimos dias, fazendo ressurgir o temor de novo
agravamento da pandemia também no Brasil, trazendo uma retomada no número de
casos e, como consequência, também das mortes.

Como
se sabe, a

pandemia reverteu tendências de forma inédita na economia, alterou hábitos e
revirou parâmetros de análise habitualmente aplicados para explicar a
conjuntura e tentar antecipar tendências. Estudos recentes sugerem uma relação
indissociável entre as possibilidades de recuperação da economia e o controle
da crise sanitária, a exemplo do Índice Itaú de Atividade-Consumo por Região
(Idat-CR), afirma Luka Machado Barbosa, economista do Itaú Unibanco. O
indicador foi construído pela equipe de macroeconomia do banco para funcionar
como um sinalizador do consumo de bens e serviços nas cinco regiões do País.

Segundo
ele, os números obtidos pelo trabalho sugerem que “tanto a dinâmica do vírus
quanto as transferências do governo podem ser importantes para a retomada da
atividade econômica”. Mas, acrescenta Barbosa, uma análise mais detida dos
dados sugere que o controle da mortalidade causada pela Covid-19 “parece ser um
fator (mais) decisivo para a retomada do consumo de bens e serviços”, pois
regiões que receberam menor volume de transferências, proporcionalmente, e
tiveram maior êxito para conter o surto de mortes conseguiram fazer a economia
reagir mais rapidamente.

Desgaste

O risco
ainda presente de uma “segunda onda”, a ser confirmado, jogaria por terra
qualquer prognóstico minimamente otimista para o País como um todo e para sua
economia. A esta altura, isso significaria esquecer previsões de retomada e de
crescimento também para os primeiros trimestres de 2021, já que, na visão mais
otimista, a vacina somente começaria a ser ministrada por volta de junho do
próximo ano. Até lá, não só os testes da terceira e decisiva fase de pesquisas
precisam ser bem sucedidos, como o País também precisará coordenar esforços
para armazenar, distribuir e fazer a vacina chegar à população. Parece ser uma missão
improvável para um governo que jamais conseguiu coordenar sequer ações mínimas
na área da saúde para prevenir e evitar mortes desnecessárias e nunca teve
interesse em estabelecer alguma forma de diálogo com o setor e muito menos com
os representantes estaduais. A política do confronto permanente e os ataques ao
bom-senso e à inteligência parecem ter desgastado de forma duradoura a
capacidade de articular qualquer reação.

Balanço

·  
Os
números do mercado de trabalho, já apresentados neste espaço, não ajudam e, na
verdade, deixam toda a economia sob pressão, limitando a perspectiva de uma
saída mais rápida da crise (que, repita-se, pode nem existir se o Sars-CoV-2
retomar com mais força do que na primeira onda, como tem sido observado na
Europa e nos Estados Unidos).

·  
Segundo
a
Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE),a massa real de rendimentos habitualmente
recebidos pelas pessoas ocupadas (quer dizer, a soma de todos os rendimentos
recebidos pelos trabalhadores, corrigidos com base na inflação) no trimestre
entre junho e agosto deste ano só foi maior do que aquela registrada no segundo
trimestre de 2017.

·  
Há pouco
mais de três anos, a massa salarial habitualmente paga somava R$ 201,789
bilhões, alcançando US$ 202,478 bilhões na média trimestral de junho a agosto
de 2020. Em relação ao trimestre imediatamente anterior (março a maio deste ano),
as famílias perderam R$ 4,587 bilhões, o que correspondeu a uma redução de 2,2%
em termos reais.

·  
Mas se
comparada ao trimestre junho-agosto de 2019 (R$ 214,734 bilhões), a perda
chegou a R$ 12,256 bilhões, com a massa de rendimentos caindo 5,7%. Os dados
sobre a soma de todos os rendimentos habitualmente recebidos pelos
trabalhadores, no entanto, podem não dar uma dimensão mais precisa dos impactos
da crise.

·  
Sabidamente,
a redução na renda em poder das famílias guarda relação muito próxima com a
liquidação de empregos em marcha desde o começo da pandemia. Pouco mais de 12,0
milhões de ocupações foram perdidas desde fevereiro, mais 1,451 milhão de
pessoas ficaram desempregadas e continuavam a buscar emprego, elevando o número
total de desocupados para o recorde de 13,794 milhões, enquanto mais 13,204
milhões desistiram de buscar colocação, seja por conta das medidas de
afastamento social, seja por falta de emprego no local onde vivem, o que
aumentou esse contingente para 79,141 milhões. Quer dizer, em torno de 45,3% de
toda a população com 14 anos ou mais de idade estavam fora do mercado e, desse
total, algo como 13,563 milhões gostariam de trabalhar.

·  
A
pesquisa afere ainda a massa real de rendimentos efetivamente recebidos pelos
trabalhadores e, aqui, a queda foi ainda pior. Entre junho e agosto de 2019, a
massa efetiva era quase 1,0% maior do que a massa habitual, somando R$ 216,773
bilhões. No mesmo período deste ano, foi quase 7,0% menor, desabando para R$ 188,395
bilhões – o menor valor desde o começo da pesquisa em 2012. Desde janeiro, a
massa efetiva encolheu 24,0%, trazendo perdas de R$ 59,393 bilhões para as
famílias.

·  
A massa
salarial ampliada disponível, calculada pelo Banco Central (BC), que soma todos
os salários e transferências de renda do setor público (pensões,
aposentadorias, Bolsa Família e outros benefícios) e desconta despesas com
impostos e contribuições à Previdência, igualmente murchou 14,7% em valores
nominais entre o trimestre finalizado em janeiro deste ano e os três meses
encerrados em julho. A massa caiu de R$ 313,425 bilhões para menos de R$
267,280 bilhões (quer dizer, R$ 46,145 bilhões a menos).

 

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