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domingo, 24 de novembro de 2024
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Incertezas

Pandemia e mercado de trabalho serão decisivos para o futuro da economia

Estudos recentes sugerem uma relação muito próxima entre as possibilidades de recuperação da atividade econômica e o grau de sucesso no controle da crise sanitária | Foto: Reprodução

Postado em 14 de novembro de 2020 por Sheyla Sousa
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Lauro Veiga 

Os cenários para a economia daqui em diante ainda estarão estreitamente relacionados ao comportamento da pandemia, com suas sequelas sobre a vida e a saúde das pessoas. Estudos recentes sugerem uma relação muito próxima entre as possibilidades de recuperação da atividade econômica e o grau de sucesso no controle da crise sanitária, a exemplo do Índice Itaú de Atividade-Consumo por Região (Idat-CR), afirma Luka Machado Barbosa, economista do Itaú Unibanco. O indicador foi construído pela equipe de macroeconomia do banco para funcionar como um sinalizador do consumo de bens e serviços em todas as regiões do País.

Segundo Barbosa, os números obtidos pelo trabalho sugerem que “tanto a dinâmica do vírus quanto as transferências do governo podem ser importantes para a retomada da atividade econômica”. Mas, acrescenta o economista, uma análise mais detida dos dados sugere que o controle da mortalidade causada pela Covid-19 “parece ser um fator decisivo para a retomada do consumo de bens e serviços”, pois regiões que receberam menor volume de transferências, proporcionalmente, e tiveram maior êxito para conter o surto de mortes conseguiram fazer a economia reagir mais rapidamente.

Um dos pontos centrais na discussão sobre o futuro imediato, pondera José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, exige uma volta rápida no tempo, para examinar como a economia vinha se saindo antes da pandemia e tentar visualizar para onde caminha a atividade neste momento ainda marcado por grande incerteza. “O ano de 2019 já não estava terminando bem e acho este um ponto muito importante porque, quando se fala em voltar ao (cenário) pré-pandemia, significa voltar para uma situação muito ruim”, registra ele.

Mudança brusca

O economista lembra que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) havia revisado o Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, indicando recuo de 0,3%, depois de uma variação de apenas 1,1% em 2019, e havia o risco de uma recessão no segundo trimestre, antes mesmo da pandemia. “O que o coronavírus fez foi mudar bruscamente o nível de atividade em todo o mundo, criando um ambiente de incerteza muito grande”, diz ele. As previsões para o conjunto da economia brasileira neste ano, embora venham sofrendo revisões recentemente, sugerem uma queda entre 4,5%, na estimativa do Itaú Unibanco, a 5,6% na projeção da Tendências Consultoria, passando por um recuo de 5,3% nas contas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “Pessoalmente, acredito que o PIB vai cair entre 5,2% e 5,5% neste ano, para avançar algo em torno de 2,5% em 2021”, sugere Gonçalves.

Balanço

A previsão mais baixa para o crescimento econômico no próximo ano, se comparada, por exemplo, com uma expectativa de avanço em torno de 3,5% sustentada pelo Ibre, muito próxima da média das apostas coletadas pelo Banco Central (BC) em seu relatório Focus, diz respeito a um “carregamento negativo” para o começo de 2021 da queda esperada para a renda das famílias no final deste ano, em função do corte nos valores do auxílio emergencial para algo pouco abaixo da metade das transferências realizadas até agosto. “Isso vai significar uma contração da demanda, não tem como escapar disso”, observa Gonçalves.

Os efeitos do fim do auxílio emergencial no próximo ano, possibilidade vislumbrada pelos economistas diante das dificuldades enfrentadas pelo governo para construir uma proposta de uma nova Renda Cidadã, deverão ser mais drásticos. “Uma parte do consumo vai sofrer uma ressaca importante com o fim do auxílio”, indica a economista Camila Saito, da Tendências Consultoria. A “ressaca” virá associada ao virtual congelamento dos salários do funcionalismo público nos Estados, compromisso assumido neste ano pelos governos estaduais em troca da ajuda federal recebida para enfrentar os impactos locais da pandemia.

Essa combinação trará efeitos heterogêneos para as economias regionais, lembram Camila e a economista Sílvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Os dados da Tendências mostram que, na média brasileira, a folha de salários do setor público responde por algo em torno de 20,6% da massa de rendimentos do trabalho. Mas essa participação não é uniforme, variando entre 16,6% e 18,0% nas regiões Sudeste e Sul, até 31,0% no Norte, atingindo entre 28,0% e 29,0% no Nordeste e no Centro-Oeste.

“Vamos virar o ano e vão voltar os R$ 35,0 bilhões destinados anualmente ao Bolsa Família, mesmo que o programa venha um pouco mais turbinado, lembrando que o governo distribuía mensalmente em torno de R$ 50,0 bilhões quando o auxílio emergencial variava entre R$ 600 e R$ 1,2 mil”, registra Sílvia.

Considerando apenas o contingente de pessoas favorecidas pelo Bolsa Família, retoma Camila, as transferências de renda do setor público chegaram a ter uma participação de apenas 0,9% na massa de rendimentos ampliada em 2019, na média do País, atingindo 2,4% no Norte e 2,8% no Nordeste. Neste ano, as transferências passaram a responder por 2,7% da massa de rendimentos das famílias em todo o País, em seu conceito mais amplo, que inclui a renda do trabalho, aplicações financeiras, aluguéis, transferências de renda, como pensões, aposentadorias e benefícios sociais, além do próprio auxílio acrescentado neste ano. No Norte e no Nordeste, a fatia subiu para 6,3% e para 7,8% respectivamente.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mencionado por Sílvia, com microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Covid-19), série especialmente produzida pelo IBGE para acompanhar o mercado de trabalho durante a pandemia, mostrou que, em agosto, o auxílio emergencial “foi suficiente para superar em 41% a perda da massa salarial entre os que permaneceram ocupados”. 

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