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terça-feira, 26 de novembro de 2024
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Econômica

Economia sinaliza desaquecimento no final do ano e também no início de 2021

Indícios de desaquecimento devem ser confirmado pelas próximas pesquisas; Redução nos valores pagos pelo governo a famílias mais vulneráveis devem afetar negativamente a economia – Foto: Reprodução

Postado em 8 de dezembro de 2020 por Sheyla Sousa
Comércio varejista experimenta pior baixa pelo menos desde 2000
Lauro Veiga

Lauro Veiga 

Os
dados mais recentes, a exemplo da pesquisa mensal da produção industrial do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na semana que
passou, entre outros indicadores, apontam para um desaquecimento da economia
neste terço final do ano, com reflexos que poderão se estender aos primeiros
meses de 2021. Num indício que tende a ser confirmado pelas próximas pesquisas
sobre o ritmo da atividade econômica em geral, a forte redução nos valores
pagos pelo governo federal a famílias mais vulneráveis, a título de auxílio
emergencial, parece já afetar negativamente a demanda geral.

Não
se poderia esperar resultados diferentes quando se observa o comportamento das
despesas do Tesouro com o auxílio emergencial. No bimestre setembro-outubro, os
gastos realizados nesta área desabaram 50,4% em relação aos dois meses
anteriores, saindo de R$ 91,214 bilhões para R$ 45,227 bilhões – o que
significou um corte aproximado de R$ 45,987 bilhões, incidindo diretamente
sobre a renda das famílias mais pobres. Uma porção relativamente pequena dessa
perda foi “compensada” pela retomada das despesas com o Bolsa Família, pois
parte das famílias que antes haviam optado pelo auxílio emergencial voltou a
ser atendida pelo programa.

Naquela
mesma comparação, os gastos saltaram quase 19,4 vezes, de R$ 282,799 milhões em
julho-agosto para R$ 5,477 bilhões no bimestre seguinte. O aumento de R$ 5,195
bilhões, em valores aproximados, foi nitidamente insuficiente para compensar o
corte do auxílio emergencial. Assim, somados os dois programas, o governo
liberou R$ 50,704 bilhões para as famílias mais vulneráveis, o que representou
uma redução de R$ 40,792 bilhões em relação aos R$ 91,497 bilhões liberados em
julho e agosto, num tombo de 44,58%.

Com
base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
Covid-19, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) concluiu que a
renda domiciliar média total recuou 1,8% entre setembro e outubro, com perdas
de 6,8% para os domicílios de renda muito baixa. Ainda conforme o Ipea, “os
dados mostram também que cerca de 30% dos domicílios receberam em outubro
metade do valor do auxílio emergencial de setembro, proporção que entre os
domicílios de renda muito baixa alcançou 40,0%”.

Menor
demanda

Ontem,
o instituto divulgou o seu Indicador Ipea de Consumo Aparente de Bens
Industriais referente a outubro. Sem surpresas, o dado acompanha a
desaceleração já apontada pelo IBGE para a produção industrial. Para resumir, o
consumo aparente considera a parcela da produção do setor vendida aqui dentro
(quer dizer, descontadas as exportações de bens industriais) mais as
importações dos mesmos bens. Enquanto a indústria veio religando as máquinas
paralisadas na primeira fase mais crítica da pandemia, o consumo veio crescendo
mês a mês, variando 4,9% em agosto e 6,1% em setembro, sempre em relação ao mês
imediatamente anterior. Em outubro, o indicador registra uma estagnação
virtual, com variação de somente 0,1%, com recuo de 0,3% na produção destinada
ao mercado doméstico e elevação de 2,4% na entrada de bens industriais
importados.

Balanço

·  
O
desempenho sugere que a indústria volta a enfrentar os limites impostos pelos
níveis muito reduzidos da demanda interna, enquanto as exportações da indústria
de transformação continuam em baixa. Entre janeiro e novembro deste ano, somaram
US$ 103,837 bilhões, em queda de 13,6% em relação aos mesmos 11 meses de 2019
(US$ 120,152 bilhões) e o número mais baixo em uma década.

·  
Na
verdade, o crescimento apontado pelo indicador do Ipea nos meses anteriores
parece meio enganoso, porque partia de uma base muito achatada em função da
pandemia. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o consumo aparente
de bens industriais mostra redução de 7,5% em agosto, variação de 0,1% em
setembro e queda de 4,5% em outubro, acumulando retração de 8,0% nos primeiros
11 meses deste ano na comparação com igual intervalo de 2019.

·  
O
consumo de bens nacionais chegou a avançar 5,1% em setembro, depois de ter
caído 5,6% em agosto, mas voltou a encolher em outubro, num recuo de 1,7%. No
ano, sofreu queda de 8,1%. Já o consumo de bens industriais importados tem
despencado mês a mês, com perdas de 18,2%, de 20,9% e de 17,5% em agosto,
setembro e outubro (sempre na comparação com os mesmos meses de 2019). Em 11
meses, a queda acumulada atingiu 7,2% (apenas ligeiramente menos intensa do que
as perdas observadas para a demanda de bens produzidos aqui dentro).

·  
Apesar
de levantamento recente do Ipea indicar melhora relativa no investimento em
setembro, o consumo de bens industriais pela indústria de bens de capital (que
fabrica máquinas, equipamentos, ônibus, caminhões, computadores e outros
produtos) continua com desempenho muito negativo na comparação anual. Em
agosto, setembro e outubro, o setor reduziu seu consumo em 22,0%, 14,3% e 10,6%
respectivamente, acumulando retrocesso de 9,4% no ano.

·  
“A
redução do auxílio emergencial no quarto trimestre, em conjunto com a
aceleração da inflação e as incertezas relacionadas ao aumento do número de
casos de Covid-19 e à recuperação do mercado de trabalho, já provoca redução do
ritmo de crescimento econômico”, analisa a economista Luana Miranda,
pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas
(IBRE/FGV).

·  
A
soma daqueles fatores poderá “induzir a revisões baixistas” nas previsões do
Ibre para a indústria e o comércio neste final de ano, o que poderia ser
compensado pelo setor de serviços, esperando-se “resultado mais positivodas
categorias de outros serviços e serviços da administração pública, que juntas
respondem por quase 50% dos serviços no PIB”, acrescenta Luana.

·  
A
economista projeta alta de 3,6% para o PIB em 2021, mas estima “significativa
desaceleração do crescimento ao longo do primeiro semestre de 2021, com
crescimento médio trimestral em torno de zero, devido aos indícios de
recrudescimento da pandemia no Brasil e a ausência das políticas de estímulo
implementadas este ano”.

 

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