O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

domingo, 24 de novembro de 2024
PublicidadePublicidade
Econômica

A inflação sobe em dezembro por conta da mudança na “bandeira tarifária”

O tal “risco fiscal”, quer dizer, o risco de o Brasil quebrar e não conseguir honrar sua dívida – Foto: Divulgação

Postado em 9 de dezembro de 2020 por Sheyla Sousa
Superávit primário do Estado cresce 25
Confira a coluna Econômica

Lauro Veiga

A
inflação vai subir novamente em dezembro principalmente por conta da mudança na
chamada “bandeira tarifária” no setor elétrico, com adoção da bandeira vermelha,
o que vai acrescentar R$ 6,24 a cada 100 quilowatts-hora consumidos,
encarecendo a conta de luz. Mas, atenção, não se trata de um “surto
inflacionário”, de uma escalada generalizada de preços na economia motivada por
uma corrida dos consumidores às compras (não, não riam, raras leitoras e raros
leitores, porque muito economista que se leva a sério parece acreditar nessa
possibilidade). Na verdade, a demanda mantém-se reduzida, limitada pelo
desemprego historicamente elevado, e vem sofrendo novo baque com a redução do
auxílio emergencial.

O
tal “risco fiscal”, quer dizer, o risco de o Brasil quebrar e não conseguir
honrar sua dívida (e com isso produzir uma fuga de investidores, disparada do
dólar e inflação descontrolada), não parece igualmente uma ameaça real para um
país que tem toda sua dívida nomeada em moeda local e que tem sido credor
líquido em moeda estrangeira já há anos. Quer dizer, o Brasil é credor do
restante do mundo em dólares, graças a reservas que superam US$ 354,5 bilhões,
algo próximo a 24,0% do Produto Interno Bruto (PIB).

A
economia atravessa um momento de pressão sobre os preços de setores
específicos, concentrada largamente nos alimentos. Em novembro, a alimentação
foi responsável por 59,1% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA), que atingiu 0,89% e superou as previsões do mercado, que apostava numa
taxa ao redor de 0,78%. A taxa de inflação dos alimentos havia recuado de 2,24%
nos 30 dias encerrados na primeira quinzena de outubro para 1,93% nas quatro
semanas do mesmo mês, mostrando desaceleração nas duas semanas finais de
outubro. Mas voltou a subir em novembro, chegando a 2,16% na taxa mensal
acumulada até a segunda semana do mês. E avançou para 2,54% nas quatro semanas
de novembro, na comparação com igual período de outubro.

Segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os preços dos demais
produtos, excluídos os alimentos, registraram mesmo uma desaceleração ao longo
de novembro, numa variação de 0,46% – dos quais em torno de 0,14% (ou 29,4%)
corresponderam à contribuição das altas nos preços da gasolina e do etanol (que
subiram respectivamente 1,64% e 9,23% ao longo de novembro). Em outubro, a alta
havia sido de 0,58%. Comparando os dois meses, o recuo na taxa foi de 0,12
ponto de porcentagem.

Desmonte

Para
desmontar as teses armadas por consultores, analistas e economistas alinhados
ao terrorismo criado pelo senhor Paulo Guedes e sua trupe de assessores, a
exclusão da gasolina e do etanol do grupo de produtos não alimentícios mostra
uma desaceleração ainda mais severa, refletindo de forma mais adequada o grave
momento vivido pela economia no País. Neste caso, o índice de variação média de
todos os demais preços (claro, não custa relembrar, excluindo-se alimentos,
gasolina e etanol) recuou de 0,53% em outubro para 0,32% em novembro (quer
dizer, 0,21 ponto de porcentagem a menos). Parece muito óbvio que esse não pode
ser considerado um cenário de disparada de preços. O contrário disso seria
manipulação pura e simples das estatísticas inflacionárias apuradas pelo IBGE.

Balanço

·  
Na
avaliação do Banco Fator, o perfil do IPCA continua favorável a uma “inflação
benigna, na medida em que mostra restrições de demanda sobre os preços”.
Traduzindo: a falta de demanda continua ajudando a segurar os preços em setores
relevantes para o controle inflacionário.

·  
Não
que os preços dos alimentos não tenham importância. Pelo contrário. As altas
observadas aqui, puxadas principalmente pelos aumentos nos preços do arroz, da
batata inglesa, do óleo de soja, do tomate e das carnes, têm pressionado com
vigor mais severo o orçamento das famílias de renda mais baixa – exatamente
aquelas que passaram a receber muito menos em função dos cortes no auxílio
emergencial.

·  
A
questão, quando se discute sobre o cenário atual e o futuro da inflação, está
em observar que aqueles aumentos são pontuais, resultante de erros na condução
da política econômica, que levaram ao crescimento desordenado das exportações,
ao aumento das cotações internacionais das commodities agrícolas e ainda à alta
do dólar.

·  
Dois
desses fatores parecem ter esgotado sua capacidade de provocar altas nos preços
no momento, diante de certa estabilidade no mercado mundial de commodities e
também no câmbio. Neste último caso, os preços do dólar entraram em dezembro no
segundo mês de baixa, depois do pico registrado em outubro. Desde lá, a cotação
média da moeda norte-americana caiu 11,8% (comparando os dias 30 de outubro e 8
de dezembro).

·  
O
avanço das exportações produziu estragos mais duradouros, ao menos até a
entrada da próxima safra, já que contribuiu para reduzir a oferta doméstica,
principalmente de arroz e soja, num momento em que o governo abandonou de vez
políticas de segurança alimentar. Os estoques de arroz em poder do governo
simplesmente desabaram 99,6% entre novembro de 1988 e o mesmo mês deste ano,
saindo de 4,906 milhões de toneladas para a mixaria de 20,834 mil toneladas, o
que não cobre o consumo de um dia. Diariamente, apenas o mercado doméstico demanda
em torno de 29,6 mil toneladas, na estimativa da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab), sem contar a exportação.

·  
As
vendas externas de arroz saltaram 54,3% nos primeiros 11 meses deste ano em
relação ao mesmo período de 2019, avançando de 887,32 mil para 1,368 milhão de
toneladas (481,34 mil toneladas a mais). Esse ritmo das exportações não teria
tanto impacto se o governo tivesse mantido sua política de estoques
reguladores, estratégicos para suprir o mercado e evitar saltos nos preços,
preservando os consumidores.

·  
De
volta ao IPCA de novembro, o chamado “índice de difusão”, que afere o
percentual de produtos e itens em alta, recuou de 68,2% em outubro para 66,6%
em novembro, diante de 5,9% no mesmo mês de 2019. O indicador deve ser tomado
com alguma cautela, pois o que determina o ritmo de elevação do IPCA é a
intensidade dos aumentos, não precisamente o total de itens ou produtos em
alta. Em novembro, por exemplo, 13 produtos responderam por 48,4% do IPCA
geral, em meio a 377 tipos de produtos e serviços pesquisados.

 

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos canais de comunicação do O Hoje para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.