Apesar de altas localizadas de preços, inflação veio abaixo do esperado
Expectativa era de 1,17% de variação do IPCA, porém, número ficou em 1,06% – Foto: Reprodução
Lauro Veiga
A
inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15
(IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veio
ligeiramente abaixo do esperado pelos mercados para o período entre 16 de
novembro e 15 de dezembro, numa variação de 1,06%. Na média, os departamentos
de economia das maiores instituições financeiras do País esperavam uma taxa de 1,17%.
Mas a novidade mais relevante nos dados do IPCA-15 nem está nessa diferença. A
alta do índice, que havia registrado variação de 0,89% nas quatro semanas de
novembro, esteve concentrada num grupo de oito itens, que somados representam
menos de 14% do IPCA. Esse grupo, no entanto, foi responsável por pouco mais de
dois terços do IPCA-15 deste mês. Os demais preços, em média, anotaram variação
menos intensa do que em novembro, o que demonstra que perto de 86% dos itens
que compõem o indicador apresentaram variações mais moderadas e com tendência
declinante se comparado a novembro.
Carnes,
arroz, batata inglesa, óleo de soja, energia elétrica, gasolina, etanol e
passagens aéreas, em conjunto, apresentaram elevação de quase 0,68%, o que
representou praticamente 64,0% do IPCA-15 de dezembro. Em novembro, o mesmo
grupo de itens e/ou produtos havia apresentado variação de 0,36%, respondendo
por 40,6% do IPCA de novembro. Os demais itens que entram na pesquisa mensal de
preços do IBGE, que haviam sofrido alta de 0,53% em novembro, registraram
desaceleração nas duas primeiras semanas de dezembro, passando a anotar
variação mensal de 0,38%.
Em
desaceleração
Em
outro indicador de um cenário ainda favorável para a inflação, dentro do mesmo
grupo, apenas três itens registraram aceleração no ritmo de alta na passagem de
novembro para dezembro (aqui, claro, muito bem entendido, no período de 30 dias
terminado no dia 15 deste mês). Outros cinco experimentaram perda de ímpeto nos
aumentos, incluindo as carnes (alta de 6,54% em novembro para 5,53%), arroz (de
6,28% para 4,96%), batata (de 29,65% para 17,96%), óleo de soja (9,24% para
7,0%) e etanol (saindo de 9,23% para 4,08%). As maiores pressões de alta tiveram
como origem preços e tarifas da energia elétrica (0,01% para 4,08%, em função
da mudança na chamada “bandeira tarifária” no setor elétrico, com adoção do
nível dois da bandeira vermelha, o que acrescentou R$ 6,24 a cada 100
quilowatts-hora consumidos, encarecendo a conta de luz), passagens aéreas (de
3,22% para 28,31%) e gasolina (de 1,64% para 2,19%). Os três itens, somados,
contribuíram com pouco mais de 39,0% na formação do IPCA-15 de dezembro.
Balanço
·
Essa
análise mais desagregada dos itens e subitens que formam o índice desautoriza
nitidamente avaliações mais apressadas sobre as tendências dos preços neste
momento, demonstrando que as pressões altistas continuam concentradas em áreas
específicas e, em muitos casos, igualmente começam a ceder, antecipando um
cenário de preços mais bem-comportados ao longo de 2021.
·
O
IPCA ainda deverá apresentar alguma elevação nas próximas semanas,
especialmente por conta da nova bandeira tarifária em vigor no setor elétrico,
dado o nível ainda muito baixo dos reservatórios, e a coleta extraordinária de
preços na área da educação neste mês. Os preços nesta área, que vinham em baixa
nas pesquisas anteriores, apresentaram aumento de 0,34% entre as duas últimas
semanas de novembro e as duas primeiras deste mês, com alta de 1,10% nas
mensalidades do ensino fundamental.
·
A
normalização das chuvas tende a favorecer certa recuperação nos níveis das
barragens das centrais hidroelétricas, mas não é esperada a retomada aos
valores históricos. As pressões sobre o sistema de geração poderiam ser melhor
administradas, a esta altura, caso o horário de verão ainda estivesse em vigor,
já que ele contribui para melhorar a gestão da demanda. Mas, convenhamos, a
racionalidade tem sido um atributo raríssimo no atual desgoverno.
·
Embora
a inflação tenha saído de 0,81% nas quatro semanas encerradas em 15 de novembro
para 0,89% nos 30 dias do mesmo mês e daí para os atuais 1,06%, os chamados
núcleos do IPCA (que excluem preços mais voláteis e desconsideram choques
temporários de alta) continuam a apontar para um cenário tranquilo e sem
sustos.
·
Na
média, estimada pelo Itaú BBA, os núcleos registram elevação de 0,39% entre 16
de novembro a 15 de dezembro, saindo de uma variação de 0,51% nas quatro
semanas finalizadas em 15 de novembro, confirmando a desaceleração já em curso.
Em 12 meses, a alta atingiu 2,54% (o que se compara com 3,22% nos 12 meses
imediatamente anteriores).
·
As
previsões para todos os 30 dias de dezembro indicam um IPCA em torno de 1,22%,
com a inflação encerrando 2020 em torno de 4,39%. As projeções do mercado
sugerem que a inflação continuaria em alta nos primeiros meses de 2021, o que
não parece ser um cenário razoável, por dois motivos: a entrada no mercado de
mais uma safra recorde deverá contribuir para segurar os preços dos alimentos
já a partir de março; mais importante, a perspectiva de medidas mais duras de
distanciamento social em função do agravamento da pandemia afetará
negativamente a demanda e toda a atividade econômica, brecando novas altas de
preços em diversos setores, mas especialmente na área de serviços.