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domingo, 24 de novembro de 2024
Coluna econômica

Petrobrás corta investimento em 83% e reservas desabam 45,5%

O baixo investimento impede que a petroleira faça novas descobertas e reponha os volumes de petróleo extraídos a cada ano | Foto: Reprodução

Postado em 2 de março de 2021 por Sheyla Sousa
Petrobrás corta investimento em 83% e reservas desabam 45
O baixo investimento impede que a petroleira faça novas descobertas e reponha os volumes de petróleo extraídos a cada ano | Foto: Reprodução

Lauro Veiga

As
reservas provadas de petróleo e gás sob controle da Petrobrás desabaram quase
pela metade em apenas seis anos, resultado direto do desmonte da estatal, dos
cortes nos investimentos e da venda de ativos estratégicos. Em valores
oficiais, as reservas somavam 16,183 bilhões de barris de óleo equivalente em
dezembro de 2014 e fecharam o ano passado em 8,816 bilhões, saindo de 9,590
bilhões em 2019. Em apenas um ano, portanto, registrou-se baixa de 8,1%. Em
todo o período, quer dizer, desde 2014, as reservas encolheram 45,5%. O baixo
investimento impede que a petroleira faça novas descobertas e reponha os
volumes de petróleo extraídos a cada ano. Na média de 2020, a produção de óleo
e gás aproximou-se de 2,84 milhões de barris equivalentes por dia, novo recorde
da petroleira, graças, sobretudo, ao petróleo do pré-sal.

Os
investimentos realizados pela estatal, que vêm murchando por decisão do
acionista majoritário e de suas últimas administrações, haviam alcançado perto
de R$ 104,4 bilhões em 2013, correspondendo a US$ 48,3 bilhões a se considerar
o valor médio para o dólar naquele ano segundo o balanço da empresa. Em 2020, o
investimento ficou limitado a US$ 8,057 bilhões – ou seja, registrou-se um
tombo de 83,3% no período. De acordo com Rafael Rodrigues da Costa, do Instituto
de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo
Dutra (Ineep), o valor investido no ano passado foi o mais baixo em quase duas
décadas.

Largamente
festejado por analistas globais e pelo mercado, os resultados da companhia no
ano passado – e destacadamente no último trimestre – foram determinados em boa
medida por operações meramente contábeis e não recorrentes (o que significa
dizer que não deverão se repetir daqui para frente). No trimestre final de
2020, mostram os dados do balanço divulgados na semana passada, a Petrobrás
realizou um lucro de R$ 59,890 bilhões, mais do que compensando todas as perdas
observadas nos trimestres anteriores, o que permitiu à companhia fechar o
exercício com lucro líquido de R$ 7,108 bilhões – enquanto quase todas as
maiores petroleiras do mundo tiveram perdas.

Ganhos contábeis

Na
apresentação dos resultados da estatal, a direção da Petrobrás detalha os
números do quarto trimestre, conforme aponta também o pesquisador do Ineep. No
período, a mudança nas condições de mercado no setor petrolífero, com a alta
nos preços do barril, por exemplo, permitiu que a Petrobras reavaliasse para
cima o valor de seus ativos (operação chamada de “impairment” pelo mercado), o
que trouxe um impacto de R$ 30,970 bilhões sobre o resultado líquido (quer
dizer, quase metade do lucro não foi resultado de nenhum ganho operacional).
Além disso, as mudanças na cotação do dólar representaram um ganho cambial de
aproximadamente R$ 20,0 bilhões e outros R$ 13,1 bilhões vieram ainda engrossar
o fluxo de caixa, refletindo “a reversão de despesas com o plano de saúde dos
funcionários” da empresa, descreve Costa. “Essas mudanças impactaram
positivamente no resultado da companhia em R$ 64,1 bilhões. Não fossem esses pontos
destacados, a empresa apresentaria um pequeno lucro no último trimestre e um
grande prejuízo no ano de 2020”, afirma o pesquisador.

Balanço

As
despesas operacionais saltaram 73,5% entre 2019 e 2020, saindo de R$ 40,951
bilhões para R$ 71,069 bilhões (alta de R$ 30,118 bilhões), ao mesmo tempo em
que as receitas de venda da companhia encolheram perto de 10,0% na mesma
comparação, caindo de R$ 302,245 bilhões para R$ 272,069 bilhões (R$ 30,176
bilhões a menos).

Uma
parcela importante do aumento nas despesas decorreu do impacta de baixas
meramente contábeis, influenciadas especialmente pelo “impairment” de R$ 65,299
bilhões realizado no primeiro trimestre, quando o mercado internacional de
petróleo virou literalmente de ponta cabeça. No decorrer do exercício, parte
daquelas baixas contábeis contra os ativos foi revisada, deixando um impacto
final sobre o balanço de R$ 34,259 bilhões.

A
despeito disso, o aumento de R$ 6,75 bilhões nas despesas com materiais,
serviços, fretes, aluguéis e outros, apenas em 2020 (alta de 46,4% sobre 2019,
avançando de R$ 14,549 bilhões para R$ 21,297 bilhões) também pressionou as
despesas operacionais. Segundo Costa, “grande parte desse valor se deve aos
custos de transporte do gás natural, que passaram a ser cobrados após a venda
da sua subsidiária logística, a TAG”, vendida por R$ 33,5 bilhões.Isso
significa dizer que o custo do aluguel ode ter correspondido a praticamente um
quarto do valor total recebido pela subsidiária.

Com
ganhos sustentados principalmente pela exportação de petróleo em bruto e seus
derivados, aproveitando-se de oportunidades surgidas no mercado internacional,
com destaque para a China, a petroleira brasileira conseguiu compensar em parte
das perdas geradas pela crise sanitária no mercado doméstico. Adicionalmente,
acrescenta Costa em sua análise, os resultados na divisão de refino da estatal
reforçam seu“papel estratégico (…) para mitigar as perdas nos demais
segmentos, uma vez que, em um cenário de crise, (a Petrobrás) aproveitou para
ampliar a sua produção de derivados em 2,8% e deslocou suas vendas para o
mercado externo, sobretudo para os mercados da Ásia e Europa”. O lucro
operacional da divisão de refino atingiu R$ 4,3 bilhões, em queda de 32,5%
frente a 2019. NO setor de exploração e produção, o lucro foi maior, chegando a
R$ 50,9 bilhões, mas caiu quase pela metade (baixa de 49,6%).

“Vale
lembrar que parte expressiva dessa produção foi refinada pela Refinaria
Landulpho Alves-Mataripe (RLAM), refinaria que acaba de entrar em processo de privatização
pela Petrobrás”, reforça ainda o pesquisador.

Na
visão de Costa, os resultados da petroleira no ano passado, ainda que
festejados pelo mercado, podem “levantar questionamentos sobre a gestão
contábil da estatal”, além de omitirem“ riscos futuros, dados pela queda de
reservas e desorganização do abastecimento nacional. Essa é uma prova indelével
que a Petrobras é importante uma empresa estatal integrada de energia”.

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