Marconi troca ideias por ataques pessoais
Ex-governador adota a estratégia de fazer oposição radical e deixa de lado a contribuição inteligente que poderia dar para o futuro de Goiás | Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil
O ex-governador Marconi Perillo arrumou uma estratégia polêmica para tentar recuperar visibilidade em Goiás, depois de afastado do palco principal da política estadual pela derrota de 2018 e pelos eventos policiais que o envolveram, denunciado pelos Ministérios Públicos estadual e federal por receber propinas da Odebrecht e cometer uma série de atos de improbidade administrativa como governador, além de Caixa 2 em pelo menos duas das suas eleições.
De algum tempo para cá, dia e noite Marconi pontua nas suas redes sociais – que estiveram desativadas por quase dois anos, desde que perdeu a disputa pelo Senado – ataques diários ao governador Ronaldo Caiado. Digamos que críticas e oposição são necessárias em qualquer regime democrático, às vezes até injustas ou sem fundamento. Mas o ex-governador tucano anda exagerando.
Primeiro, porque Marconi deixa de lado uma obrigação que é de todo e qualquer político que já passou por um cargo de governo, ainda mais por quatro vezes, como é o caso dele: a de contribuir com o debate de ideias e propostas para o futuro, quem sabe até apresentando um projeto alternativo de gestão. Olhando para a frente e não perdendo tempo rememorando o passado: hoje, as realizações de antigamente são difíceis de entender dentro do contexto de mudança rápida e constante de todos os parâmetros da vida moderna.
Bolsa Universitária e Renda Cidadã são exemplos. Tiveram lógica quando foram implantados há quase 20 anos. Mas o tempo, que é implacável, tornou esses programas superados. Corretamente, Caiado atualizou o primeiro e acabou com o segundo – este, a Renda Cidadã, aliás, morreu por conta própria, com os beneficiários dos cartões magnéticos deixando de procurar os bancos para sacar os minguados proventos fornecidos a título de ajuda, ainda mais com a força da Bolsa Família do governo federal.
Marconi vive de lembranças. A essência da contestação de Marconi ao governo Caiado é a comparação vazia com o que já se foi. Ele próprio, quando foi governador, virou a página escrita pelo então PMDB, que passou 16 anos no poder, e criou um novo desenho para as ações do Poder Público em Goiás. Isso é inevitável e é o que Caiado está fazendo, depois de passar uma borracha no tempo velho do PSDB. A Bolsa Universitária foi requalificada – com Marconi chiando porque o seu nome evoluiu para Universitários do Bem.
O segundo ponto é a falta de preparo do ex-governador para avaliar o que acontece em Goiás e pior ainda ao entrar em um campo em que não tem informações adequadas, que é o enfrentamento à pandemia, área em que um governador médico como Caiado tem feito toda a diferença. De repente, lá está Marconi nos seus perfis sociais elogiando o consórcio de governadores, ao qual Goiás não aderiu, que estaria comprando vacinas Sputnik. De repente, também, vem a ANVISA e veta o imunizante russo para uso no Brasil, diante das evidências pelo mundo afora de que representa perigo para quem a receber.
Incautos que se aventuram em caminhos desconhecidos quebram a cara. Politizar qualquer aspecto da pandemia só prejudica a quem o faz, como Marconi. Deveria deixar de lado. Em vez de falar besteiras, se dedicar 1) a apresentar projetos para Goiás e 2) a usar o que resta do seu prestígio nacional para atrair empresas, investimentos ou recursos para o desenvolvimento do Estado. Qualquer coisinha ajudaria. Talvez ele ainda possa fazer isso, como resquício do brilho nacional que um dia ostentou, mas simplesmente não faz.
Na política e na Bíblia, existe o fenômeno da ressurreição. É o que Marconi, no seu papel de crente, persegue. Não será fácil. É um erro comportar-se como santo e humilde na tentativa de convencer o cidadão-eleitor de que merece voltar ao poder, mesmo como deputado federal.Ao contrário, deveria elevar o ângulo de visão e olhar para diante e para o alto.