Em Goiânia, Bolsonaro fica ainda mais próximo de Caiado
Presidente quer focar em seu eleitorado conservador, evangélico e ligado ao agronegócio
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cumpre agenda de dois dias em Goiânia para participar de uma cerimônia militar e de um encontro com lideranças evangélicas, além da já tradicional motociata com apoiadores.
Politicamente, o pano de fundo da visita do presidente é a reaproximação com o governador Ronaldo Caiado (DEM). Eleitos na mesma onda conservadora de 2018, os dois se distanciaram quando tomaram atitudes diferentes em relação à pandemia de Covid-19.
Os últimos acontecimentos, no entanto, sinalizam que ambos os lados buscam retomar o diálogo. Tudo começou com um encontro no final de julho, promovido pelo prefeito de Anápolis, Roberto Naves (Progressistas).
Na ocasião, estiveram presentes, além do governador, figuras importantes de Brasília, como presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas), o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas) e o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD), bem com o presidente do Progressistas em Goiás, Alexandre Baldy, que articula para ser o candidato a senador na chapa de Caiado em 2022.
Na semana passada, o capítulo seguinte foi a vinda a Goiânia dos ministros da Cidadania, João Roma (Republicanos), e do Turismo, Gilson Machado, que, em seus discursos, não só elogiaram Caiado, como também destacaram as parcerias entre Goiás e o governo federal.
Agora, a presença de Bolsonaro na capital goiana o coloca ainda mais próximo do governador. Foi o primeiro encontro presencial entre Caiado e o presidente desde que os desentendimentos começaram no ano passado.
Uma fonte da base caiadista disse à reportagem do jornal O Hoje que houve um desejo do próprio presidente de contar com a participação de Caiado.
Bolsonaro estaria interessado em concentrar suas atenções na região Centro-Oeste devido à influência do eleitorado conservador e ligado ao agronegócio. Nesse caso, seria impossível não caminhar ao lado de Caiado.
Inicialmente, a ideia do governador, durante o primeiro turno em 2022, era se manter neutro em relação à disputa presidencial, mas os últimos sinais emitidos pelo Palácio do Planalto o fazem cogitar declarar apoio a Bolsonaro – até porque Caiado tem noção do peso do governo federal nos recursos de Goiás para realizar investimentos, ainda mais em ano de eleição.
“A gente trabalha para que essa reaproximação aconteça. Ela está próxima e acredito que é possível”, afirmou ao jornal O Hoje o deputado federal Glaustin da Fokus (PSC), um dos organizadores da agenda de Bolsonaro em Goiânia.
Aliás, seu partido busca um espaço na chapa majoritária de Caiado em 2022. O PSC tem dois pré-candidatos ao Senado: o ex-senador Wilder Morais e o atual senador Luiz Carlos do Carmo – ligado à Assembleia de Deus de Campinas –, que está no MDB, mas cada vez mais próximo de sair.
O PSC pode até mesmo ser o destino do próprio Bolsonaro, que precisa se filiar a algum partido para disputar a reeleição. “Fizemos o convite. Reconheço que é um partido pequeno, mas de coração grande e com as mesmas crenças”, ressalta Glaustin da Fokus. “Não é à toa que Bolsonaro já foi filiado ao PSC no passado.”
Mobilizando a base
A visita de Bolsonaro a Goiânia ocorre em meio à pressão que o presidente recebe em Brasília, especialmente do poder Judiciário, por conta de suas declarações consideradas antidemocráticas, como as críticas feitas às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral brasileiro.
Somam-se a isso a pandemia de Covid-19, que ainda causa uma quantidade elevada de mortes, e a crise econômica, que provoca o aumento dos preços de alimentos, gás e combustíveis.
Como não poderia ser diferente, o cenário instável se reflete nos números. Segundo pesquisa do PoderData, 58% dos brasileiros reprovam o presidente, enquanto apenas 34% são favoráveis ao seu governo.
Em momentos como esse, é natural que políticos busquem refúgio em uma zona de conforto. É o que faz Bolsonaro em Goiânia ao mobilizar sua base de militares e evangélicos, dois setores que tendem a aprová-lo com mais facilidade.
Glaustin da Fokus, que articulou especificamente o encontro do presidente com a Assembleia de Deus de Campinas, disse que a reunião se divide em duas partes.
“Primeiro, um encontro com líderes religiosos. Segundo, um encontro que também é religioso, mas, sobretudo, político, com a presença de autoridades e empresários”, afirmou o parlamentar. Caiado e o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), são alguns dos principais nomes.
Segundo Glaustin da Fokus, “a base evangélica em Goiânia está firme com Bolsonaro”. O deputado federal argumenta que há uma convergência de valores, como “a defesa da família”.
O PoderData mostra que o presidente, de fato, se dá bem com os evangélicos. É o segmento religioso que mais o apoia, com 50%. Os católicos, por exemplo, são 21%.
Além disso, pensando nas eleições de 2022, a única religião em que Bolsonaro tem mais intenção de voto do que o ex-presidente Lula (PT) é justamente a evangélica: 45% contra 26%, também de acordo com o PoderData.